Histórias para crianças podem ir além dos contos de fadas. Operando desde 2016 na área infantil e juvenil da Feira do Livro de Porto Alegre, a Ama Livros oferece uma seção especial somente com literatura negra e indígena para os mais jovens. Questões de gênero também são contempladas.
De propriedade do escritor Antônio Schimeneck, autor de diversos livros para o público infantil e juvenil, como Horas Mortas (2018), a Ama Livros é uma editora e distribuidora que representa 46 editoras no Rio Grande do Sul. Títulos que abordam minorias sociais, como negros e indígenas, além de reflexões sobre gênero, são escolhidos a dedo pelo livreiro, que é mestre em literatura infantil e juvenil pela UFRGS. Ele faz questão de expor essas obras em uma área de destaque no estande.
Há a coleção Black Power, da editora Mostarda, com biografias dos mais notórios negros e negras do mundo inteiro, como o líder sul-africano Nelson Mandela, as escritoras brasileiras Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo e o ativista norte-americano Malcolm X, entre outros. Também há livros escritos por autores indígenas, como os brasileiros Daniel Munduruku e Yaguarê Yamã.
Segundo Schimeneck, os mais atraídos pela seção de literatura negra e indígena são pessoas dessas etnias, além de professores que desejam trabalhar as temáticas em sala de aula por meio dos livros, já que o assunto é pautado há 20 anos pela lei 10.639, que torna obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas públicas e privadas.
— A literatura é transformação social. Eu realmente acredito nisso. Negros e indígenas são povos que durante muito tempo não tiveram espaço, mas, na minha banca, eles têm prioridade. E quero essas pessoas como meus clientes — diz Schimeneck.
Ele também procura oferecer livros infantis nos quais personagens negros estão simplesmente vivendo a vida, e não só passando por situações de racismo ou outras adversidades sociais e econômicas, embora considere esse tipo de encenação adequada, porque denuncia uma desigualdade.
— São processos. Em um primeiro momento, houve necessidade de a literatura negra resgatar e defender sua cultura. Agora, os negros estão partindo para outra fase da literatura, que é retratar o seu cotidiano — pondera.
A escritora paulista Kiusam de Oliveira, autora de meia dúzia de títulos oferecidos na banca de Schimeneck, diz que livros como O black power de Akin, em que ela retrata um menino negro que sofre chacota dos colegas por conta do cabelo, gera representatividade em crianças que possam estar passando por situações semelhantes de opressão.
— As crianças me perguntaram se as histórias que eu escrevo são reais. Eu digo que sim, porque fui professora por 35 anos, a sala de aula é meu território, e cada livro tem algo que foi vivido pelos meus estudantes. Os primeiros xingamentos que as crianças negras recebem têm a ver com o cabelo delas. Na literatura, há uma possibilidade de a criança negra se olhar e se entender potente, bonita.
Indicações de livros com temática negra e indígena para crianças:
Literatura negra:
- Solfejos de Fayola e Black Power de Akin, de Kiusam de Oliveira
- O Vestido de Afyia, de James Berry, ilustrado por Anna Cunha
- Kererê, de Janaina de Figueiredo
Literatura indígena:
- A Terra dos Mil Povos, de Kaká Werá Jacupé
- Contos da Floresta, de Yaguarê Yamã
- O Pássaro Encantado, de Eliane Potiguara