Toda semana, um jornalista do Grupo RBS irá compartilhar na seção O que Estou Lendo a sua paixão por livros por meio de dicas do que estão lendo no momento.
Preciso começar este texto sendo honesta com o leitor. Não li ainda nem um terço da autobiografia de Rita Lee. Mas como o nome da seção é "o que estou lendo”, achei razoável falar de um livro que recém estou chegando à página 60 e já me arrebatou completamente.
Nas primeiras páginas, a obra se dedica a falar da infância da roqueira em um casarão na Vila Mariana, em São Paulo, e de sua grande e barulhenta família, a qual ela chama carinhosamente de Família Buscapé. E que família, hein? Estou me divertindo horrores com as travessuras das irmãs Mary, Virgínia e Rita Lee. Cada história inimaginável. Inclusive, foi no terraço deste casarão que a jovem Ritinha viu o seu primeiro disco voador.
Rita adota uma narrativa franca, direta, divertida, inteligente, irônica. Até mesmo quando revela um momento traumático da infância ela mantém esse tom descontraído no texto, fazendo até um pouco de graça com o episódio e com as possíveis consequências na sua vida. A leitura flui facilmente porque a artista opta por dividir a obra em capítulos curtos, retalhando a vida em várias pequenas lembranças. Eu só não estou lendo mais rápido porque tenho uma bebê de um ano e quatro meses em casa e não sobra tempo.
No dia em que escrevo este texto, estou me despedindo da infância de Ritinha e ingressando na adolescência da nossa deusa do rock. Ansiosa, confesso, para descobrir como a música entra para valer na vida da filha de Charles e Chesa.
Lembro que, ao tratar do assunto ‘órgão genital feminino’ na presença do meu pai, o harém apelidou o tal de Emilinha Borba: 'Lavou bem sua emilinha borba?'. Marlene era o seio: 'o sutiã novo tá machucando a marlene'. O órgão genital masculino era 'alves', de Chico Alves: 'O alves do Nijinsky é fofinho'.
RITA LEE
Trecho de "Uma Autobiografia"
Não posso terminar esse texto sem falar dos detalhes da edição de luxo da autobiografia. Essa edição foi lançada em 2023 e é simplesmente linda. A capa é dura e tem uma foto de Rita que remete àquelas imagens de ficha policial, sabe? A cara dela! Essa edição também tem várias fotos, mas o melhor é que as legendas foram escritas pela própria.
Rita Lee morreu em 8 de maio de 2023, mas deixou como legado as suas inúmeras composições e esse e outros livros que nos permitem conhecer um pouco mais de uma das maiores cantoras da história da música brasileira.
"Uma Autobiografia", de Rita Lee
- Globo Livros
- Edição padrão: 296 págs., R$ 64,90
- Edição de luxo: 376 págs., R$ 89,90