Marco da literatura universal, A Divina Comédia será o centro de encontros e celebrações ao longo do ano no Rio Grande do Sul. E duas destas grandes novidades estão sendo preparadas para setembro, mês em que a morte do autor Dante Alighieri completa 700 anos.
A primeira é um nova tradução de Inferno, trabalho que abre o clássico, composto de mais duas partes, Purgatório e Paraíso. O responsável por trazer os versos para a língua portuguesa é o escritor José Clemente Pozenato, autor de O Quatrilho.
— A ideia de traduzir a obra veio no ano passado. Quando me dei conta de que logo estariam celebrando os 700 anos de morte de Dante, tive vontade de reler A Divina Comédia. Então percebi que cabia uma nova tradução. Dante escreveu com a língua do povo. É o que me esforço para fazer nessa tradução também. Não quero obrigar o leitor a buscar o dicionário ou desvendar sintaxes retorcidas — explica Pozenato.
O escritor é experiente na tradução do italiano dos séculos 13 e 14, tarefa que já realizou no Cancioneiro de Francesco Petrarca. Pozenato segue traduzindo as outras duas partes de A Divina Comédia, embora o plano não seja lançá-las com Inferno, em setembro:
— Continuo trabalhando, mas não tenho data para concluir. Publicada entre 1304 e 1321, A Divina Comédia foi escrita em um dialeto vulgar, que mais tarde se consolidaria no idioma italiano. À época, a opção por uma linguagem popular foi uma inovação radical, uma vez que o padrão das narrativas escritas era o latim clássico.
Além de manter a coloquialidade do texto original, Pozenato também conserva o padrão métrico dos versos de Dante, com 10 sílabas, acento geralmente nas pares e rimas.
— É um trabalho artesanal — resume Pozenato.
Reencontro
A segunda novidade é uma parceria de Pozenato com o compositor Vagner Cunha, que já assinaram juntos o espetáculo O Quatrilho: Ópera em Dois Atos, em 2018. Vagner trabalha agora em O Inferno de Dante, musical original em três atos, composto para orquestra e coral, com libreto assinado por Pozenato.
A estreia está marcada para setembro, com o lançamento da nova tradução, em evento promovida pela produtor Bell’Anima.
— Da mesma forma que a gente trabalhou em O Quatrilho, em que eu pedia mais texto aqui ou ali, sempre em diálogo, estamos trabalhando agora — conta Vagner.
Para o compositor, apesar de escrita há sete séculos, a obra de Dante propicia reflexões sobre os valores humanos essenciais dos dias de hoje:
— Mergulhar na obra do Dante está me trazendo uma reflexão muito mais profunda sobre a crise que vivemos, não apenas a crise da pandemia, mas também a crise humanitária, que já vem de muito mais tempo.
Antes do musical, o público poderá acompanhar pela internet o sarau online A Divina Comédia: Antídoto Humanista em Tempos de Tragédia, no dia 2 de junho. Com o apoio do Consulado Geral da Itália em Porto Alegre e financiamento da Lei Aldir Blanc, o evento contará com uma mesa-redonda e presença remota de especialistas na obra de Dante, além de uma prévia da música de Vagner Cunha.