Foi Mario Quintana, em seu famoso poema O Mapa, quem comparou o mapa da cidade à anatomia de seu corpo. O jornalista Cleber Saydelles e a artista visual Clau Sieber partiram dessa ideia para fazer da planta da Capital uma lição de anatomia literária. Cleber e Clau são os responsáveis pelo Mapa Literário de Porto Alegre (mapaliterariopoa.com), um portal que compila digitalmente passagens literárias citando lugares reais da cidade.
Embora a iniciativa já exista há quatro anos, nesta Feira do Livro ela foi trazida à baila como pretexto para um passeio especial do projeto Viva o Centro a Pé, que será realizado no próximo domingo, a partir das 10h, com saída do estande da Prefeitura Municipal da Feira do Livro. O passeio tem limitação de vagas, e a inscrição pode ser feita gratuitamente no formulário bit.ly/vivaocentrofeira.
O passeio deve seguir pela Praça da Alfândega, pela Rua da Praia, Borges de Medeiros, Chalé da Praça XV e Mercado Público, com o grupo parando em cada lugar e ouvindo a leitura de um trecho literário sobre o local – ou seja, a atividade se estrutura como o próprio mapa que os leitores podem encontrar na internet, um projeto que começou a ser gestado antes ainda de Saydeles se mudar de Santa Maria para a Capital.
– Contando é uma coisa meio maluca, mas, desde que eu morava em Santa Maria, tinha esse hábito de compilar citações sobre a cidade. Chegava lá por junho, julho, eu começava a fazer minha lista para a Feira do Livro e, quando vinha, ia conhecer os lugares que eram descritos – conta Saydelles.
Cleber propôs a ideia de um mapa literário como um material especial a ser desenvolvido pela Secretaria Municipal de Cultural em 2014 devido ao ano da Copa do Mundo. Com a ajuda da artista Clau Sieber, pôs o projeto em andamento: ambos criaram um mapa gerado pelo Google Maps em que tanto eles próprios como qualquer pessoa poderia sugerir atualizações. A acolhida inicial não foi a esperada e o projeto ficou no limbo, resgatado agora para a Feira.
Projeto é transformar
mapa em portal online
Atualmente, o site contém quatro dezenas de trechos sobre pontos de Porto Alegre. Os mais distantes são o Hino da Restinga, composto pelo poeta Tio Mano, sobre o bairro homônimo, e um trecho do livro Um Silêncio Avassalador, de Lucas Barroso, sobre o Parque São Sebastião. A maior concentração de trechos, obviamente, se dá no Centro. Do Palácio Piratini descrito em O Mestiço de São Borja, de Alcy Cheuiche, passando pelo Chalé da Praça XV por João Gilberto Noll em Rastros do Verão até o Theatro São Pedro visto por Moacyr Scliar em Os Voluntários. Além, é claro, da própria Feira, descrita em um trecho do infanto-juvenil Quem Aguenta a Marina, de Paulo Betancur. Os próprios editores, contudo, sabem que o site, em sua atual configuração, é apenas um esboço do que o projeto pode vir a ser.
– Pretendemos também, em um segundo momento, mapear todas as ruas e os pontos que se referem a literatura e a escritores. Como a Avenida Erico Verissimo, aí abre um texto com a biografia. E, em um terceiro momento, queremos transformar a coisa toda em uma agenda literária. Já temos um estudo para fazer um aplicativo de celular, o cara está andando na cidade, recebe um alerta sobre algum sarau, evento, lançamento nas proximidades. Mas são coisas que precisam de recursos, então vamos tentar conseguir um financiamento – explica Saydelles.
– Precisaríamos reprogramá-lo de outra maneira. Para fazer isso sem precisar do Google Maps, por exemplo, o valor seria uns R$ 10 mil. Para virar um aplicativo para celular, em torno de R$ 30 mil. Mas o site é responsivo de tal modo que talvez não precise de app. Seria legal se uma empresa adotasse o projeto – diz Clau Sieber, responsável pela identidade visual do mapa.