Desta quinta-feira (1º) a 7 de dezembro, abrem-se as cortinas da Capital para a 29ª edição do Porto Alegre em Cena, tradicional festival teatral que inunda a cidade com cultura. Desta vez, porém, o encontro será diferente, dividido em duas partes, sendo que o complemento ocorre em março de 2023. Mas já na primeira etapa, a grade de programação conta com espetáculos internacionais e nacionais, em uma celebração às artes cênicas.
Outra mudança é que o festival ganhou uma direção artística compartilhada, ou seja, um grupo formado por artistas, jornalistas, professores e gestores assumem a responsabilidade da curadoria do evento. São eles: Adriane Azevedo, Adriane Mottola, Airton Tomazzoni, Antônio Grassi, Juliano Barros, Renato Mendonça, Ricardo Barberena e Thiago Pirajira.
Para celebrar as novidades, o evento conta com o porto como conceito-guia, como um lugar mítico, simbólico, que registra chegadas e partidas. Um espaço de intercâmbio, de trânsito. Assim, nesta primeira etapa do festival, além dos espetáculos, ainda serão realizadas ações formativas com oficinas e workshops com artistas, coletivos e arte-educadores, bem como atividades de rua e descentralizadas.
— A ideia inicial era de que a 29ª edição tivesse uma pequena amostra em dezembro, algo como quatro peças, mas acabou crescendo e ficou uma amostra grande — explica o professor Ricardo Barberena, destacando que serão, no total, 15 espetáculos.
O porto
Segundo Barberena, o porto que guia esta edição do Porto Alegre em Cena é "um lugar que recusa os totalitarismos", enfatizando que é um conceito que celebra a troca. E, dentre as peças que compõem esta primeira fase do festival, o curador explica que duas trabalham alinhadas com este imaginário — e ambas são inéditas na Capital.
A primeira delas é Embarque Imediato, com texto de Aldri Anunciação e encenação de Márcio Meirelles. Estrelado pelos artistas da família Pitanga, Antonio e Rocco — além de Camila, que participa por meio de vídeos —, o espetáculo promove provocações pertinentes sobre história, política e mais.
— A peça tem toda uma discussão sobre identidade e a gente vai também comemorar a carreira de Antonio Pitanga, com o final da temporada da peça sendo aqui. O Pitanga que é um patrimônio nacional — enfatiza Barberena.
Outra apresentação que conversa diretamente com o conceito do Porto Alegre em Cena, segundo o membro do time de diretores artísticos é o monólogo Sísifo, protagonizada por Gregório Duvivier — que também escreve a peça, ao lado de Vinicus Calderoni.
— Representa muito o que a gente viveu nos últimos tempos, com a pandemia. Com a gente sempre estava levando a pedra para cima da montanha e, no final do dia, a pedra rolava para baixo. É bem dentro desta ideia do eterno recomeçar — detalha Barberena.
Apesar dos destaques, todas produções que fazem parte desta primeira etapa do festival, sendo a maioria delas gaúchas, englobam as áreas propostas pela equipe curadora e incluem teatro de sala, teatro de rua, dança, circo, performance de rua, música, em linguagens híbridas e temas que conversam com os anseios da sociedade.
Atípico
O ano atípico, com eleições intensas e ânimos acirrados, fez com que o Porto Alegre em Cena fosse realizado em um tempo recorde, segundo os seus organizadores. Mesmo assim, o evento conseguirá manter a sua presença em 2022. E, apesar da 29ª edição terminar em março de 2023, a 30ª também acontece no ano seguinte, em setembro.
Realizado pela Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa, em parceria com a PUCRS e o Pacto Alegre, esta edição é a primeira executada sem as restrições da pandemia e, de acordo com Barberena, os mais de dois anos com a insistente presença da covid-19 deixou ensinamentos, sendo que um dos principais é que a arte, a cultura e a educação partilham uma condição insubstituível, que é a presencialidade.
— Existem experiências muito boas dentro da virtualidade, mas nada substitui aquele momento sagrado que é a reunião de pessoas para assistir a uma peça. Essa troca absolutamente humana é uma construção de afeto, de sensibilidade. É um momento de elevação, de catarse — enfatiza.
E sobre trazer o Porto Alegre em Cena de volta aos palcos, dentro desta atual conjuntura da sociedade, em que a intolerância ganha protagonismo, o professor cita Nietzsche, apontando que "a arte serve para que a realidade não nos destrua":
— A gente maltratou muito a cultura nos últimos tempos. Por isso, acho que agora é o momento da gente cada vez mais voltar para as salas de cinema, para os teatros, para as feiras literárias e pensar que a arte é uma forma de entendimento do mundo.
Programação
1º de dezembro
- 19h: Palácio do Fim — Sala Álvaro Moreyra (Avenida Erico Verissimo, 307)
- 21h: Sambaracotu — Teatro Renascença (Avenida Erico Verissimo, 307)
2 de dezembro
- 18h: Maria, Seus Filhos, Suas Filhas (espetáculo de rua) — Esquina Democrática (Centro Histórico)
- 19h: Terra Adorada — Sala Álvaro Moreyra
- 21h: Sísifo — Salão de Atos da PUCRS (Avenida Ipiranga, 6.681)
3 de dezembro
- 18h: Ilha — Parque Alim Pedro (Avenida dos Industriários, s/nº - IAPI)
- 19h: Sobrevivo — Sala Álvaro Moreyra
- 21h: Atravessamentos — Teatro Renascença
4 de dezembro
- 19h: Restinga Crew (apresentação de dança) — Orla do Guaíba, na pista de skate
- 19h: Novos Velhos Corpos — Sala Álvaro Moreyra
- 19h: Embarque Imediato — Salão de Atos da PUCRS
6 de dezembro
- 20h: Medeia: Solo de Tânia Farias — Terreira da Tribo (Rua Santos Dumont, 1.186)
7 de dezembro
- 16h e 20h: Ítaca: Nossa Odisseia I — Cinemateca Capitólio (Rua Demétrio Ribeiro, 1.085)
- 20h: Cia Municipal de Dança — Teatro Renascença
- 20h: Recital de violoncelo e piano com Romain Garioud e Liliana Michelsen — Igreja Universitária Cristo Mestre, Campus PUCRS (Avenida Ipiranga, 6.681)
Os ingressos podem ser adquiridos pelo site Guichê Web ou na PUCRS Store, que fica no térreo do prédio Living 360º (Prédio 15), no Campus da PUCRS (Av. Ipiranga, 6.681), das 11h30min às 21h30min. A programação completa do festival pode ser conferida em portoalegreemcena.com.