Em breve, as ruas da Capital estarão repletas de intervenções culturais. Trazendo o costumeiro enfoque nas artes cênicas aliado a uma nova proposta de mirar as artes visuais, o Porto Alegre em Cena chega a sua 28ª edição com cinco performances urbanas e mais de 35 atrações ao todo, que ocorrerão entre os dias 19 e 31 de outubro. Desta vez, o público ficará sabendo antecipadamente o local das intervenções urbanas (em 2020, essa informação não foi divulgada), que devem trazer cenas inusitadas tanto para áreas centrais quanto para outras regiões da cidade.
— Em razão da pandemia, acabei pensando em uma programação que não gerasse aglomeração, com atrações ligadas diretamente às artes visuais. Mesmo nas performances, com corpos humanos ao vivo nas ruas, os artistas não se colocam da maneira tradicional do teatro de rua, mas como instalações humanas — explica Fernando Zugno, diretor-geral do Em Cena.
Diferentemente do ano passado, as transmissões das atrações nas redes sociais ficam limitadas às performances digitais. Conforme Zugno, isso ocorrerá para que as pessoas tenham uma experiência imersiva e voltem a ter contato com a arte presencial — afinal, pontua ele, é disso que trata o teatro.
Entre os destaques da programação de artes visuais, está Entidades, uma instalação criada por Jaider Esbell, artista indígena da etnia makuxi, natural de Roraima, que trará cobras infláveis ao espelho d’água do Parque da Redenção. Outro nome, bem conhecido dos porto-alegrenses, é Xadalu Tupã Jekupé, que irá interferir diretamente no cenário urbano com Nhe’ery – Existe uma Cidade Sobre Nós. Já em Jardim Guarani, ele expõe um quadro no Theatro São Pedro para refletir sobre o fato de as cidades terem sido, antigamente, territórios indígenas.
— Porto Alegre era um território sagrado guarani, e Xadalu vai criar um quadro com sementes guaranis, pretas e brancas, que nem as pedras portuguesas que há nas praças da Alfândega e da Matriz. A proposta é sobrepor essa ideia colonial — explica Zugno.
Dificuldades
Um dos mais importantes diretores de teatro do país, Felipe Hirsch marcou presença no Porto Alegre em Cena do ano passado em um bate-papo com os colegas do coletivo Ultralíricos Daniela Thomas e Felipe Tassara. Em 2021, ele vem com o grupo para apresentar Fantasmagoria nº2 – Theatro São Pedro, que agregará um elenco local de atores e bailarinos para contar histórias da emblemática instituição cultural.
Das atrações internacionais, Zugno destaca Metaverse: Estamos no Fim de Algo, do Reino Unido, uma projeção em cinco paredes e piso dentro da Fábrica do Futuro, localizada na Rua Câncio Gomes, para abordar as relações digitais e a realidade virtual. Com o mesmo tema, o espetáculo argentino Como as Coisas Chegaram Até Aqui traz o ator Iván Haidar contracenando com sua própria versão virtual.
Apesar da diversidade de atrações, o Porto Alegre em Cena enfrentou dificuldades para realizar a edição deste ano. Usualmente, parte do evento é viabilizada pela Lei Rouanet, mas em 2021 a proposta não passou da fase de avaliação documental do mecanismo federal, como consta no sistema Versalic, da Secretaria Especial da Cultura. Com isso, a presença da videoinstalação espanhola Museu da Ficção I: Império, criada por Matías Umpierrez, por exemplo, teve de ser cancelada. Procurada pela reportagem, a secretaria não se manifestou até a publicação desta reportagem. O Em Cena, então, foi viabilizado por meio da Lei de Incentivo à Cultura estadual (LIC-RS) e com patrocínio direto.
— (A verba investida no evento) É um recurso que retorna para o município, para o setor do turismo, para produtores, técnicos. Como trazemos artistas de fora, também impacta no setor hoteleiro, de alimentação, de transporte — desabafa Zugno.
Caso a proposta do Em Cena seja aprovada na Rouanet em um segundo momento, Zugno adianta que pretende montar outra programação, relacionada ao evento.