Somando quatro décadas como ator e diretor, percurso em que se tornou uma referência na cena teatral do Rio Grande do Sul, participando também de trabalhos no cinema, Zé Adão Barbosa admite:
— Hoje sou muito mais professor do que ator. Faço teatro e cinema porque me chamam, mas minha grande paixão é ensinar.
Essa paixão será celebrada por ele, nesta quinta-feira (5), em um duplo aniversário: seus 62 de vida e os 10 anos da Casa de Teatro de Porto Alegre. O espaço cultural tem como carro-chefe um curso de formação de atores com duração de dois anos – que dá acesso ao registro profissional no Sated-RS, o sindicato da categoria – e oferece cursos e oficinas para um público de crianças a idosos.
A comemoração de 10 anos da Casa será no dia 29, em um evento para convidados, mas o ano do aniversário contará com pelo menos três novidades para todos os interessados. Uma delas é um ciclo de 12 peças curtas de Tennessee Williams, em agosto, que marcará o lançamento da Cia. da Casa de Teatro, com alunos já formados. Outra é um projeto de residência que vai trazer grandes diretores do país para aulas aos fins de semana. Por fim, haverá uma exibição comentada de cinema aos domingos, ainda em elaboração, com clássicos de Antonioni e Coppola, entre outros.
Durante seu desenvolvimento como professor, Zé Adão passou a incentivar cada vez mais a formação cultural dos atores. Certa vez, citou Hamlet, e um aluno perguntou: "O que é Hamlet?".
— No início, eu me preocupava mais com a questão técnica. Achava que o ator tinha de ter corpo e voz perfeitos e domínio completo das emoções. Hoje, além da técnica, minha atenção é com a disciplina e, principalmente, com a formação cultural. Se nunca tiverem visto um filme de Fellini, vão ficar boiando quando um diretor de TV pedir uma interpretação "felliniana".
Depois de alguns anos no teatro amador, Zé Adão começou como ator profissional em 1980, na Cia. Teatro Novo, de Ronald Radde. A peça de estreia foi a infantil Chapéu, Chapelão & Cia., no ano seguinte. Entre seus trabalhos marcantes nestes 40 anos de carreira, estão Memory Motel (1988), encenado por Humberto Vieira, em que viveu Charles Bukowski; O Despertar da Primavera (1993), de Frank Wedekind, que dirigiu em três oportunidades; e Fim de Jogo (2007), de Beckett, montado por Luiz Paulo Vasconcellos. Em 2012, estreou o solo memorialista Coração Randevu, com direção de Patrícia Fagundes. Mais recentemente, em 2018, pôde ser visto em Pequeno Trabalho para Velhos Palhaços, de Matéi Visniec, encenação de Adriane Mottola.
Vocação
Desde os tempos do Teatro Novo, apaixonou-se pelo ofício de professor. Passou a ministrar oficinas em diferentes espaços, como o Teatro de Arena e o Clube de Cultura. Em 1996, constatando a falta de um centro de formação de atores fora do Departamento de Arte Dramática da UFRGS (DAD), criou com Daniela Carmona o Teatro Escola de Porto Alegre (Tepa), que funcionou em um histórico casarão da Av. Cristóvão Colombo, 400. É lá onde está instalada hoje a Casa de Teatro, comandada por Zé e Ana Cristina de Oliveira. Em 2019, com a dissolução da sociedade de Zé Adão com Jeffie Lopes, os dois fundadores, o endereço anterior da Casa, na Rua Garibaldi, 853, deu lugar ao Bertoldo Cultural, espaço de eventos e cursos administrado por Jeffie.
Entre tantos sucessos, Zé Adão ainda guarda a frustração de não ter cursado a faculdade de teatro – deixou de concluir o Segundo Grau (atual Ensino Médio) para trabalhar como ator. Mas aprendeu na prática com muitos dos professores da universidade, que o dirigiram em espetáculos. É comum que alunos da Casa de Teatro depois cursem o DAD. Hoje, Zé Adão ensina a diferença entre talento e vocação:
— A pessoa pode ter um talento enorme e não ter vocação alguma. Se não tiver vocação, desiste no primeiro fracasso. Sempre digo: "Defina o tamanho do ator que vocês querem ser". Se quiserem ser grandes atores, têm de estudar mais do que o normal.