Quem adentrar o 1º andar do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) a partir de de sábado (22) vai deparar com uma instalação de Xadalu, verá uma versão recente do projeto-cédula de Cildo Meirelles (“Quem matou Marielle?”) e poderá conferir trabalhos da geração 80 do Estado, representações de histórias de colonização e violência, além de obras que refletem as culturas afro e indígena. É possível se sentir em uma Bienal. Mas se trata da exposição Coleção Sartori – A Arte Contemporânea Habita Antônio Prado.
Até o dia 1º de maio, a mostra irá ocupar os espaços das pinacotecas, Salas Negras, Sala Aldo Locatelli e Foyer do MARGS. São mais de 250 obras, de mais de cem artistas, cobrindo uma faixa de tempo que vai de 1903 a 2021. Todas essas pinturas, instalações, fotografias, esculturas e demais objetos são um recorte da coleção particular de Paulo Sartori.
Aos 45 anos, o colecionador vive em Antônio Prado, na serra gaúcha, e é designer e sócio de uma indústria de móveis. Sua coleção começou meio ao acaso. Em 2012, ele e a esposa se mudaram para a casa onde vivem atualmente. Após um ano, a casa seguia com espaços vazios. Havia muito o que preencher. Até que um dia o casal foi até Caxias do Sul. Enquanto aguardava sua esposa, Sartori avistou a galeria Arte Quadros e decidiu entrar.
Ao deparar com as obras à venda na galeria, ele começou a projetar: “Isso aqui ficaria legal na parede atrás do sofá”. Sua esposa ligou e perguntou onde estava. Ao receber a resposta, ela não acreditou: “O que você está fazendo em uma galeria?”. Após uma pequena resistência inicial, Sartori começou uma nova fase da vida. Ou, então, teve um reencontro.
– Ao sair da galeria e entrar no carro, eu me emocionei. Comecei a chorar. Aquilo me resgatou a adolescência, quando estudava desenho e pintura. Tive um flashback, retornei ao passado – recorda.
A partir daí, Sartori começou a acompanhar o que estava acontecendo no universo das artes visuais. Primeiramente, no âmbito regional e, depois, nacional. Passou a pesquisar, ler livros, frequentar espaços e a viajar atrás de obras. Ele brinca que foi “picado pelo mosquito da arte”.
Gradativamente, desenvolveu um interesse maior pela arte contemporânea, deixando de lado a arte figurativa – aquela originalmente destinada à parede de casa.
– Comecei a vislumbrar situações e obras que abrangem o cotidiano, a crítica política e social. É um prazer cada vez que tu olhar para um quadro ele te dizer uma coisa diferente, te fazer pensar.
Sartori acumula mais de 350 obras, guardadas em sua residência e em duas locações de reserva técnica. Tem projeto para construir um espaço atrás de sua casa. Hoje, a coleção enfatiza a arte brasileira contemporânea, marcando também destaques da arte sul-rio-grandense dos séculos 20 e 21.
O colecionador foi convidado para expor suas obras no Margs em 2019. Após três anos, finalmente sua coleção pode ser vista pelo público. A mostra tem curadoria de Paulo Herkenhoff e está dividida em 22 seções temáticas, estabelecendo diálogos. Há a Pop Art Gaúcha, trazendo trabalhos de Zoravia Bettiol, Carlos Vergara, Glauco Rodrigues e Mário Röhnelt. Afro-Brasil traz obras de artistas como Maria Lídia Magliani, Leandro Machado, Rosana Paulino e Jaime Lauriano. Na seção Como Vai Você na Coleção Sartori, Geração 80?, há nomes como Lia Menna Barreto e Adriana Varejão.
– A quantidade de obras aqui se equipara a uma bienal. Nesse sentido, a gente vê o peso da exposição, pelo tamanho e extensão. E é só um recorte da coleção – atesta Francisco Dalcol, diretor-curador do Margs.
“Coleção Sartori”
- Abertura no sábado (22), às 10h, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Praça da Alfândega, s/n°), em Porto Alegre. Visitação de terças a domingos, das 10h às 19h (último acesso às 18h30min), sem necessidade de agendamento. Até 1º de maio. Entrada gratuita.
- Há opções de visitas mediadas individuais e para grupos de até seis pessoas, de quinta-feira a sábado (das 10h30min às 12h ou das 14h às 15h30min), mediante agendamento no site sympla.com.br/museumargs.