Desde que adotou a cultura indígena como causa, o artista gaúcho Dione Martins, conhecido como Xadalu, mergulhou cada vez mais nela. Realizou imersões em aldeias guaranis que resultaram na exposição Invasão Colonial 'YVY OPATA' ("a terra vai acabar" em guarani). Durante a inauguração, na última terça-feira (21), a Galeria Xico Stockinger do Museu de Arte Contemporânea do RS (MAC-RS) recebeu cerca de 50 indígenas que, numa cena rara, estavam presentes em uma exposição de Porto Alegre tanto como protagonistas das obras quanto como público. A noite contou com a presença do cacique Mburuvixá Tenondé Cirilo e havia até uma banca com venda dos típicos animais de madeira.
Artista visual há cerca de seis anos, Xadalu ficou conhecido pelos adesivos com a figura do índio homônimo disseminados pelas ruas de Porto Alegre que hoje estão presentes no mundo todo. Adotou para si o apelido e construiu uma carreira tanto nas ruas – com intervenções que reivindicam a cidade como espaço do povo indígena – como em museus e galerias da cidade, virando tema de livro, curta-metragem e documentário.
Capítulo mais recente dessa trajetória, a exposição atual é uma atividade tardia do 6° Festival Kino Beat – Arte em Movimento, que ocorreu de 26 de novembro a 1º de dezembro em Porto Alegre. Segundo o curador do festival, Gabriel Cevallos, Xadalu atua "como um mensageiro entre dois mundos", traduzindo parte do "conhecimento e visão de mundo dos índios Guaranis". Suas obras expõem questões como a luta pela retomada de terras, as ameaças de grupos armados e o colonialismo.
– Essa exposição mostra a invasão colonial por meio de roupa, telefone, televisão, videogame, comida... Vemos o reflexo no centro da cidade, com os indígenas nas calçadas vendendo seu artesanato e procurando um modo de subsistência porque cada vez que a cidade cresce, a aldeia diminui – diz o artista.
Ao todo, Invasão Colonial 'YVY OPATA' conta com 17 obras feitas nos últimos três anos, incluindo pinturas, objetos tridimensionais, fotografias, colagens e diversos materiais encontrados nas aldeias. Segundo o diretor do MAC-RS, André Venzon, trata-se da primeira exposição com participação indígena no museu. Ele ressalta que este não é um movimento de inclusão feito pela instituição, e sim uma proposta que partiu do artista:
– É a democratização dos espaços, mas contando com protagonismo e curadoria do Xadalu e do povo guarani, que o apoia. Nós, instituição, governo, sociedade, fomos convidados a nos aproximar e a reconhecer o lugar desses cidadãos brasileiros que são invisibilizados pela indiferença e pelo preconceito.
Neste ano, Xadalu vai levar essa denúncia para fora do Estado. A exposição Invasão Colonial 'YVY OPATA' vai ganhar uma versão expandida no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, com curadoria de Venzon. Ao mesmo tempo, o artista abrirá outra mostra individual na galeria Bolsa de Arte, em São Paulo.
Antes disso, um trabalho que está chamando a atenção no MAC-RS, Invasão Colonial, será levado à feira SP-Arte pelo MAC-RS. Parte da arrecadação com a venda da obra, que fala das invasões de terras indígenas, será doada às aldeias guaranis.
Invasão Colonial 'YVY OPATA'
- De Xadalu
- Galeria Xico Stockinger, do Museu de Arte Contemporânea do RS (MAC-RS) (6º andar da Casa de Cultura Mario Quintana, na Rua dos Andradas, 736).
- Visitação: de segunda a sexta, das 10h às 18h, e sábados, domingos e feriados, das 12h às 18h, até 8 de março.
- Entrada gratuita.