O Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) fecha 2019 renovando todas as exposições em suas galerias e reafirmando um compromisso assumido pela atual gestão no início do ano: não ser um ponto de partida de trajetória artística, mas de chegada, exibindo o que se faz de melhor por aqui apesar das contínuas dificuldades financeiras.
Abaixo, conheça as três mostras que serão inauguradas neste sábado. No primeiro andar, o museu destaca dois nomes contemporâneos, Túlio Pinto e Bruno Borne, além de resgatar alguns clássicos do acervo. Na próxima semana, duas outras exposições chegam ao segundo andar. A programação fica em cartaz até abril, quando a 12ª Bienal do Mercosul toma conta do Margs.
Poesia das relações
Na maior obra da exposição Momentum, um tripé de vigas de ferro sustenta uma singela bolha de vidro – a única coisa que impede as barras de desabarem. O artista brasiliense Túlio Pinto, 45 anos, lembra que ninguém ousou se aproximar da escultura quando a expôs em São Paulo. Parece improvável, mas as obras não desabam. Permanecem num estado de tensão, criado pela articulação de materiais como vidro, metal, pedra e corda, que é essencial para o autor:
– Acho muito bonito quando uma coisa que você considera frágil te mostra que não é frágil. E o que entendemos como forte está numa posição de fragilidade. Essa tensão está em tudo na vida.
Segundo o diretor-curador do Margs, Francisco Dalcol, diante das obras de Túlio, somos seduzidos, acima de tudo, "por aquilo que insinuam, ameaçam ou sugerem estar momentaneamente interrompido – ou na iminência de acontecer". Para Túlio, as obras abstratas falam de uma questão bem humana: as relações entre as pessoas.
As esculturas de grande porte estão distribuídas pelas pinacotecas do Margs, o espaço mais amplo e nobre do museu. A exposição é a maior da carreira de Túlio e coroa o bom momento profissional de um raro caso de artista que sempre viveu do seu trabalho em Porto Alegre. Entretanto, desde 2013, ele não expunha na cidade. Nesse ano, suas esculturas venderam como água na feira SP-Arte. Cada peça custava cerca de R$ 30 mil.
– Agora estão custando bem mais do que isso – admite Túlio.
Nos últimos anos, o artista se dividiu entre Porto Alegre, sua casa, e o resto do mundo, chegando a abrir uma mostra individual em Veneza, paralelamente à bienal mais importante do mundo, em 2019. Ele ainda está sentindo a repercussão do evento e, para 2020, já tem exposições agendadas na Alemanha e na Espanha.
Convite a uma experiência sensorial
Com as paredes pintadas de preto, as Salas Negras do Margs ganharam cortinas para garantir que ficassem totalmente escuras para a exposição Ponto Vernal, do porto-alegrense Bruno Borne.
Assim, o artista criou dois ambientes onde o visitante, como num cinema, pode assistir a dois vídeos inéditos. No primeiro deles, Perihelion #1 (foto acima), uma elipse é projetada sobre uma esfera de aço, que reflete a luz como se fosse a lua atingida pelo sol. Um sino marca a contração e a expansão da forma luminosa.
Para o outro trabalho, Aurora #2, Bruno fotografou o céu de Porto Alegre durante 12 horas e criou um vídeo em timelapse de dois minutos. Enquanto o espectador assiste a luz mudar do nascer do sol até o poente, escuta também o som do vento e o canto de pássaros. É uma experiência visual, espacial e sensorial.
– Meu desejo é envolver a pessoa na obra – explica Bruno.
As obras ficarão expostas ao longo de 90 dias, justamente o período de transição entre o solstício e equinócio. Não é uma coincidênia: tudo nelas está ligado a fenômenos astronômicos, mas não é necessário entendê-los para apreciar os trabalhos.
– A astronomia é um tema usado para criar uma experiência. A alma dos trabalhos vem da vontade do Bruno de pensar o tempo como espaço – diz o artista Munir Klamt, que assina a curadoria da mostra ao lado de Laura Cattani, sua parceira no duo Ío.
A exposição de Borne dá início ao projeto Poéticas do Agora, no qual artistas são convidados a criar obras especialmente para as Salas Negras do Margs.
Acadêmicos e modernos
Em resposta às duas exposições de arte contemporânea que serão abertas neste sábado, o Margs dedica espaço a uma arte mais tradicional, exibindo um recorte de 14 obras da sua coleção na mostra Acervo em Movimento. A Sala Aldo Locatelli, aos fundos do primeiro andar, será o lugar para apreciar uma "boa e velha" pintura de Lucien Simon (1861-1945) ou uma natureza-morta de Pedro Alexandrino (1884-1942), entre outras joias do acervo assinadas por Pedro Weingärtner, Libindo Ferrás e Henry Geoffroy. Ao lado deles, a equipe colocou ícones da arte moderna: um quadro de Ado Malagoli (1906-1994) doado há pouco tempo e nunca exibido (foto abaixo), uma escultura de Vasco Prado (1914-1998) e um desenho de Tarsila do Amaral (1886-1973), entre outros.
Exposições no Margs
- Abertura: sábado (14/12), das 16h às 19h.
- Visitação: de terças a domingos, das 10h às 19h, até 22 de março de 2020. Entrada gratuita.
Túlio Pinto – Momentum
- Curadoria: Francisco Dalcol.
- Pinacotecas.
- Neste sábado, às 15h, o artista Túlio Pinto e a crítica e curadora Angélica de Moraes conversam sobre a mostra, no Auditório do Margs. Às 16h, Diego Passos realiza performance na galeria.
Bruno Borne – Ponto Vernal
- Curadoria: Ío.
- Salas Negras.
Acervo em Movimento
- Exposição coletiva do acervo.
- Curadoria: Núcleo de Acervo.
- Sala Aldo Locatelli.