No último dia 7 de setembro, Feriado da Independência, Teresa Poester reuniu 23 artistas visuais que, vestidos de preto e com 15 canetas esferográficas vermelhas acopladas em um bastão, desenharam o trabalho que dá nome à nova exposição da artista e professora gaúcha. Entre amigos, colegas, alunos, ex-alunos e riscos vermelhos, o grupo produziu Até que Meus Dedos Sangrem, desenho abstrato que tem como objetivo causar impacto visual e político.
A obra estará exposta na Sala João Fahrion, na Reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a partir desta segunda-feira (30), ao lado de mais de 30 trabalhos inéditos de Teresa. Gaúcha de Bagé radicada na França, a desenhista pisou novamente no Rio Grande do Sul para ser a primeira mulher a expor no projeto Percurso do Artista, retomado pelo Departamento de Difusão Cultural da universidade após ser interrompido em 2014.
— Vejo essa exposição como um encerramento do meu trabalho na UFRGS. É uma vida inteira na universidade, tem um significado especial para mim. É uma despedida — diz a artista, que se aposentou como professora do Instituto de Artes em 2018.
Para apreciar o principal trabalho, o visitante terá de passar por toda a sala que abriga a exposição, com curadoria de Eduardo Veras. No trajeto, encontrará figuras abstratas, características do gosto de Teresa pelo desenho e suas possibilidades estéticas, além de gravuras e elementos multimídia, como fotografia, impressão digital, performance em vídeo e animação.
A mostra exibe dois grandiosos conjuntos de desenhos, criados em parte no ateliê de Teresa, na Normandia, e em parte em Porto Alegre, combinando lápis de cor e pigmento. A exposição também inclui vídeos desenvolvidos com os músicos Vagner Cunha, no Brasil, e Januibe Tejera, na França. Na inauguração, Vagner executará ao vivo a peça que compôs especialmente para acompanhar uma das performances em vídeo.
Obra consumiu 600 canetas
A BIC, caneta mais popular do mundo, já foi utilizada no campo das artes ao longo do século 20 em trabalhos de René Magritte e Alberto Giacometti. Na obra pensada por Teresa Poester, os artistas usaram 600 canetas esferográficas vermelhas, distribuídas em tubos de PVC para que eles conseguissem realizar os desenhos nos 26 metros quadrados de área da superfície de linóleo fosco. A performance foi gravada em vídeo e também faz parte da exposição.
A artista decidiu escolher a tinta da caneta esferográfica por ser mais resistente às intempéries, já que a obra estará exposta no chão de uma área externa da Sala Fahrion, chamada de pergolado.
— Eu descobri que a tinta da caneta não se dilui com a chuva. Como ele vai ficar em um lugar aberto, no chão do primeiro andar, daqui a uns meses ele vai estar mais desbotado, mas o desenho vai permanecer lá. A tinta sofre com a ação do sol e o público vai poder acompanhar a deterioração ao longo do tempo — conta Teresa.
Sobre o cunho político da obra, a artista afirma que, apesar de parecer improvável, morar em outro país faz com que ela se sinta mais próxima do Brasil. Por conta disso, pensou em um título mais forte para o trabalho, envolvendo sangue e a cor vermelha.
— Não é um trabalho panfletário, mas tem uma evocação política muito forte. Eu lembro que na época da ditadura, quando eu era bem jovem e estudava no Instituto de Artes, eu tinha uma preocupação política, mas acabei não me preocupando mais com isso. Agora, nesse momento que o Brasil vive, a gente quando está fora parece que sente mais a situação — relatou Teresa.
Com mais de 40 anos de carreira, Teresa já realizou mostras individuais na Argentina, na Espanha e na Bélgica, além do Brasil e da França. Em Porto Alegre, já expôs trabalhos na UFRGS, na Casa de Cultura Mario Quintana, entre outros espaços.
Ate que meus dedos sangrem, de Teresa Poester
- Inauguração: segunda-feira (30), às 18h30min
- Local: Sala João Fahrion, 2º andar da Reitoria da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110)
- Horários de visitação: terças e quintas, das 10h às 17h; quartas e sextas, das 12h às 17h, até maio de 2020, com entrada franca