Houve um tempo em que os porto-alegrenses escutavam o soar de uma sirene e, prontamente, viam-se obrigados a buscar refúgio, sob pena de sofrer ferimentos. À época, explosões de dinamite sacudiam a área central da cidade, mas não eram dias de guerra, e sim de construção de uma das maiores obras viárias já erguidas até então na Capital: o Viaduto Otávio Rocha.
O “aviso ao público em geral” estava estampado na edição da Revista do Globo, de 8 de fevereiro de 1930: “Roga-se aos transeuntes das imediações do Viaduto Borges de Medeiros, ao soar da sirene que inicia as explosões de dinamite naquele local, procurarem abrigo nas casas vizinhas, a fim de evitar acidentes”. Nota-se que o viaduto ainda não era denominado Otávio Rocha, como é hoje. Só mais tarde ganharia o nome definitivo, em homenagem ao intendente municipal (cargo equivalente ao de prefeito) que governou a Capital de 1924 a 1928. Por ora, a nomenclatura confundia-se com a da avenida que, simultaneamente, estava sendo construída abaixo de sua estrutura.
A advertência publicada na Revista do Globo era uma iniciativa da Dyckerhoff & Widmann, construtora alemã contratada para executar a obra que modificaria por completo a paisagem da região central. Para que não houvesse qualquer dúvida, logo abaixo vinham especificados os horários das explosões de dinamite que chacoalhavam as entranhas do morro no coração da cidade: de manhã, das 6h30min às 7h e, de tarde, das 12h15min às 12h45min.
A companhia informava ainda que, para evitar qualquer incidente, a sirene começaria a ser tocada cinco minutos antes do início das cargas, “terminando só depois do encarregado das explosões ter verificado não existir mais nenhum perigo”. Assim, a Dyckerhoff & Widmann confiava que, com a colaboração dos porto-alegrenses, poderia, em breve, concluir “uma das obras de aformoseamento para o maior progresso de Porto Alegre”.
Não por acaso, Otávio Rocha dá nome ao viaduto. Considerado o “pai da Borges de Medeiros”, o intendente foi responsável pela abertura da grande avenida que encurtou em 20 minutos o trajeto do bonde do Centro até os arrabaldes de Menino Deus, Glória, Teresópolis e Partenon – antes, o motorneiro tinha que contornar toda a área central pela Usina do Gasômetro. Mas, para construí-la, era preciso ultrapassar a barreira da montanha, em cujo ápice se estendia a Rua Duque de Caxias. O desafio de superar o obstáculo natural fez surgir o primeiro viaduto de Porto Alegre.
Por ironia, Otávio Rocha não inaugurou as obras – morreu em 1928, ainda no exercício do mandato, devido a complicações de uma úlcera gástrica. O viaduto ficou pronto em 1932, já na gestão de Alberto Bins. Por sua vez, a Borges de Medeiros demorou um pouquinho mais – 1935 – para ser entregue à população, entre outras coisas devido a uma discórdia acerca do valor da desapropriação de um imóvel situado na esquina com a Rua Jerônimo Coelho.