A proibição dos jogos de azar no Brasil foi estabelecida por força do decreto-lei 9.215, de 30 de abril de 1946, assinado pelo presidente Eurico Gaspar Dutra sob o argumento de que o jogo era degradante para o ser humano. Em setembro de 1947, a Revista do Globo enviou o repórter José Amádio e o fotógrafo Salomão Scliar para a cidade uruguaia de Rivera (separada da brasileira Santana do Livramento apenas por uma avenida), que era o novo destino, principalmente, dos gaúchos, paulistas e cariocas que gostavam de jogar e se negavam a ser afetados pelas novas regras vigentes. “Hagan el juego, señores...” e, assim, milhares de cruzeiros passaram a atravessar a fronteira todas as noites.
Inaugurado em agosto de 1942, o Hotel-Casino atraía cada vez mais turistas. Além das duas mesas de roleta, “um grill muito simpático e dançável está a disposição da gente para os ‘tangaços’, que é como os brasileiros denominam os grandes tangos ali executados. Para cada dois uruguaios, encontram-se oito brasileiros jogando em Rivera”, informa o jornalista. Nos finais de semana, o movimento ficava três ou quatro vezes maior, o que era muito para os apenas 30 mil habitantes somados das duas cidades, na época. “O cassino começa a fervilhar depois das 23h. Homens, mulheres e até rapazinhos deixam-se levar pela cantilena frenética das fichas”, afirma a reportagem. Além do avião DC-3 da Varig, que aterrissava às 18h e decolava às 6h para a Porto Alegre, inúmeras aeronaves dos mais diversos pontos do Estado e do país chegavam a Livramento, especialmente nos finais de semana. “Quem freta esses aviões? Pois são os aficionados da roleta, jogadores, negociantes paulistas, grã-finos cariocas, madeireiros de Passo Fundo. Dizem, não sei, que muitas famílias da cidade se arruinaram depois que a roleta começou a girar em Livramento”, diz o texto de Amádio. Rivera era uma pequena cidade mas seus cartórios registavam mais de 600 hipotecas prediais, e ninguém desconhecia que a maioria desses prédios estava hipotecada seus proprietários haviam perdido muito dinheiro no jogo.
Um farmacêutico entrevistado afirmou: “ Esta roleta está sugando tudo que é nosso e só sairá daqui quando Livramento e Rivera estiverem aniquilados”.
A matéria conclui: “caso você for lá, perder todo o dinheiro que levou, e quiser, tentar uma ‘recuperação’, poderá continuar jogando. E, então, é que você se afundará definitivamente. Por quê? Bem, no próprio cassino encontrará um agiota disposto a emprestar-lhe qualquer soma ao modesto juro de 50% ao mês. Depois de um certo tempo, um cidadão não joga para ganhar ou perder. Joga pelo prazer de jogar. É a volúpia do jogo. O camarada sente as mãos frias e o coração querendo saltar. E a roleta impiedosa girando sempre, girando podendo destruir lares, negócios, vidas, podendo roubar tudo ou tudo conceder, inclusive a alegria, a felicidade, o mundo”.