Nesta sexta-feira (21), celebramos o centenário de nascimento de Nelson Gonçalves, um dos principais cantores e compositores brasileiros. O artista vendeu 81 milhões de discos no Brasil. Antes, ele foi jornaleiro, mecânico, polidor, tamanqueiro, engraxate e garçom, além de lutador de boxe.
Nasceu como Antônio Gonçalves Sobral, em Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai. Os pais, imigrantes portugueses, tinham acabado de chegar ao país. Durante a infância, já em São Paulo, Nelson acompanhava o pai nas feiras livres e praças. Enquanto seu Manuel tocava violão, o menino cantava em cima de um caixote. Em dias mais difíceis, seu Manuel simulava ser cego para comover as pessoas.
O garoto teve dois apelidos. Na escola, era chamado de Carusinho, por sua voz excepcional. Também era chamado de Metralha, pois falava espocando as palavras. Mesmo “gago”, decidiu ser cantor.
Intempestivo e brigão, canalizou sua energia para o boxe. Com 17 anos, foi campeão paulista dos meio-médios. Venceu 24 lutadores por nocaute e perdeu apenas duas vezes, por pontos.
Nelson estudou canto acadêmico por seis anos com o maestro Bellardi. Aprendeu que não era gago, mas taquilárico (do grego takimós: respiração curta, acelerada). Dentre os conselhos do maestro, um mudaria sua vida: deveria ser um cantor popular. Como Antônio não era sonoro, adotou Nelson, que considerava um nome mais melódico.
Em 1941, gravou seu disco de estreia, um 78 rpm contendo o samba Sinto-me Bem, de Ataulfo Alves. Com a boa recepção do público, foi contratado pela RCA Victor, da qual jamais saiu, e pela Rádio Mayrink Veiga, levado pelo cantor Carlos Galhardo. Tornou-se rapidamente conhecido. Logo, foi eleito o Rei do Rádio, em concurso da Revista do Rádio. Sua vida melhora consideravelmente em 1943, contratado como crooner do cassino do Copacabana Palace Hotel.
Nelson Gonçalves fez grande sucesso nos anos de 1940 e 1950. Alguns de seus hits da década de 40 foram: Maria Bethânia (Capiba), Normalista (Benedito Lacerda/ Davi Nasser), Caminhemos (Herivelto Martins) e Renúncia (Roberto Martins/Mário Rossi).
Em 1952, passa a viver com Lourdinha Bittencourt, substituta de Dalva de Oliveira no Trio de Ouro, com quem tem três filhos (sendo dois adotivos). É uma das melhores fases da vida do artista. No mesmo ano, conhece aquele que seria seu melhor parceiro e grande amigo: Adelino Moreira, um dos maiores letristas e compositores de samba-canção, que compôs para Nelson mais de 370 músicas (algumas em parceria com Nelson), como: Fica Comigo esta Noite, A Volta do Boêmio, Deusa do Asfalto, Êxtase e Escultura. As canções tinham temas românticos, apropriados à voz de Nelson, que se gabava por usar apenas um terço de sua potência.
Ele gravou com diversos nomes da nova geração da MPB e com grandes nomes do rock nacional, como Ângela Rô Rô (Simples Carinho), Kid Abelha (Nada por Mim) e Lulu Santos (Como uma Onda).
Em 1984, lançou o álbum de duetos Eu e Elas, com participação de Alcione, Ângela Maria, Beth Carvalho e outras divas. Em 1985, lançou Eu e Eles, com Caetano Veloso, Fagner, Luiz Gonzaga, Tim Maia e outros grandes da MPB. Na carreira, de mais de 60 anos, gravou cerca de 2.700 canções, 183 discos em 78 rpm, 128 LPs e 300 compactos. Ganhou 38 discos de ouro e 20 de platina.
Foi agraciado pela RCA com o Prêmio Nipper, recebido apenas por ele e por ninguém menos que Elvis Presley. Seu último álbum, Ainda é Cedo (1997), recebeu o disco de ouro.
Nelson Gonçalves morreu em 18 de abril de 1998. Nos últimos tempos, se definia como o “último dos moicanos”, referindo-se ao seu estilo de cantar, com o vozeirão que dizia nunca ter cuidado, fumando até 1995.
Além dos casamentos com Elvira Molla, Lourdinha Bittencout e Maria Luíza da Silva Ramos, teve muitos casos, alguns escandalosos para a época, como os vividos com Bette White e a vedete Nanci Montez. De seu relacionamento, com Maria (ex-cozinheira do presidente JK), nasceu Lilian Gonçalves, que teve sua história de vida contada na minissérie JK, da Rede Globo, interpretada pela atriz Mariana Ximenez. Lilian Gonçalves já era conhecida como a Rainha da Noite de São Paulo, quando se aproximou do pai. Por muitos anos guardou a identidade do seu verdadeiro pai, revelando somente quando Nelson já estava mal de saúde.
Nos anos 1990, foi encenado o musical Metralha, versão dramatizada de sua biografia. Em 2001 foi lançado o documentário Nelson Gonçalves, que contou sua trajetória, encenado por Alexandre Borges e Julia Lemmertz, com direção de Elizeu Ewald e produção executiva de Margareth Gonçalves, caçula de seu casamento com Lourdinha Bittencourt.