O dia de hoje marca o 20º aniversário da morte de um dos maiores nomes da música brasileira. Além de cantor e compositor, Nelson foi jornaleiro, mecânico, polidor, tamanqueiro, engraxate, garçom e lutador de boxe. Nasceu como Antônio Gonçalves Sobral, em 21 de junho de 1919, em Santana do Livramento (RS). Seus pais, imigrantes portugueses, tinham acabado de chegar ao Brasil. Ainda na infância, já vivendo no bairro do Brás, em São Paulo, Nelson acompanhava o pai nas feiras livres e praças. Seu Manuel tocava violão, enquanto ele cantava sobre um caixote. Em dias difíceis, para comover as pessoas, seu Manuel chegava a fingir que era cego.
O garoto tinha dois apelidos. Era chamado de Carusinho, por sua voz excepcional, mas, como gaguejava, era chamado também de Metralha. Apesar disso, decidiu ser cantor. Antes, passou por diversas profissões. Intempestivo e brigão, canalizou sua impetuosidade para o boxe. Com 17 anos, foi campeão paulista dos meio-médios, após vencer 24 lutadores por nocaute e ter perdido apenas duas vezes, por pontos.
Nelson estudou canto acadêmico durante seis anos, com o maestro Bellardi. Aprendeu que não era gago, mas taquilálico (do grego takimós: respiração curta, acelerada). Do maestro, entre outros, ouviu o conselho que mudaria sua vida: deveria ser cantor popular. Como Antônio não era sonoro, adotou o nome de Nelson, mais melódico. Em 1941, gravou seu primeiro disco, um 78rpm contendo o samba Sinto-me Bem, de Ataulfo Alves.
Com a boa estreia, foi contratado pela RCA Victor (da qual jamais sairia) e pela rádio Mayrink Veiga. Sua ótima voz tornou-se rapidamente conhecida. Em concurso promovido pela Revista do Rádio, logo foi eleito o rei do rádio. Conseguiu, então, em 1943, ser o crooner do cassino do Copacabana Palace. Sucesso nas décadas de 1940 e 1950, alguns de seus hits foram Maria Bethânia (Capiba), Normalista (Benedito Lacerda/Davi Nasser), Caminhemos (Herivelto Martins) e Renúncia (Roberto Martins/Mário Rossi).
Em 1952, passou a viver com Lourdinha Bittencourt, substituta de Dalva de Oliveira no Trio de Ouro, com quem teve três filhos (sendo dois adotivos). Foi uma das melhores fases da vida do artista. Nessa época, conheceu Adelino Moreira, seu melhor parceiro e grande amigo. Adelino Moreira compôs para Nelson mais de 370 músicas (algumas em parceria com o próprio).
Da união, nasceram alguns dos maiores sucessos do cantor, como Fica Comigo esta Noite, A Volta do Boêmio, Deusa do Asfalto, Êxtase e Escultura, músicas apropriadas à voz de grande extensão de Nelson, que, aliás, gabava-se por usar “apenas um terço de sua capacidade”. Gravou com diversos nomes da nova geração, como Ângela RoRo, Kid Abelha e Lulu Santos. Em 1984, lançou Eu e Elas, em duetos com Alcione, Ângela Maria, Beth Carvalho e outras divas. Em 1985, lançou Eu e Eles, com duetos com Caetano Veloso, Fagner, Luiz Gonzaga, Tim Maia entre outros.
Em mais de 50 anos de carreira, gravou cerca de 2 mil canções, 183 discos em 78rpm, 128 LPs e 300 compactos. Vendeu mais de 81 milhões de discos. Ganhou 38 discos de ouro e 20 de platina. Também foi agraciado pela RCA com o Prêmio Nipper, recebido apenas por ele e por ninguém menos do que Elvis Presley. Por seu último disco, Ainda é Cedo (1997), viria a receber o disco de ouro. Nelson Gonçalves morreu em 18 de abril de 1998.
Ele se definia como o “último dos moicanos”, por seu estilo de cantar empregando o vozeirão, de que nunca cuidou, pois fumou durante 60 anos. Além dos casamentos com Elvira Molla, Lourdinha Bittencourt e Maria Luíza da Silva Ramos, teve casos, alguns rumorosos, como os vividos com Betty White e a vedete Nancy Montez. De seu relacionamento com Maria (ex-cozinheira do presidente Juscelino Kubitschek), nasceu Lilian Gonçalves, que teve sua história de vida contada na minissérie JK, da Rede Globo, interpretada pela atriz Mariana Ximenez.
Lilian Gonçalves já era conhecida como a Rainha da Noite de São Paulo quando se aproximou do pai. Guardou, por muitos anos, quem era o seu verdadeiro pai, revelando somente quando Nelson já estava mal de saúde. Nos anos 1990, foi encenado o musical Metralha, versão dramatizada de sua biografia.
Em 2001, foi lançado o documentário Nelson Gonçalves, que contou sua trajetória, protagonizado por Alexandre Borges e Julia Lemmertz, com direção de Elizeu Ewald e produção executiva de Margareth Gonçalves, caçula de seu casamento com Lourdinha Bittencourt.