No final dos anos de 1800, o Rio Grande do Sul tinha sua economia baseada, principalmente, no tripé das seguintes atividades: estâncias de criação de gado, as charqueadas e o incremento na implantação de colônias produtivas. Quando se fala em charqueadas, é natural que se pense primeiro em Pelotas e no trabalho escravo. Mas é preciso lembrar que o pastoreio extensivo ocupava quase toda a região da Fronteira e da Campanha e que o município de Bagé, ali situado, também foi um importante polo charqueador.
A indústria saladeril se iniciou primeiro em Pelotas, lá pelo final do século 18, e a produção abastecia, além do mercado local, o sudeste e o nordeste brasileiros. As propriedades e cidades da Fronteira se consolidaram um pouco mais tarde, mas, mesmo assim, um censo agrário de 1859 apontava o município de Bagé como detentor do segundo maior rebanho de gado da Província, perdendo somente para Alegrete. Foi natural, portanto, que, com a abundância de matéria prima, fosse fundada, em 1891, a primeira charqueada em grande escala, marcando um novo período naquela área.
O gado que era levado para outros lugares, como Pelotas, Rio Grande e Montevidéu passou a ser aproveitado ali mesmo. Ainda no ano de 1891, o governo estadual por meio do Decreto nº 2, de 8 de setembro, autorizou a criação da Companhia Industrial Bageense, uma sociedade anônima formada por 24 acionistas, entre eles, importantes pecuaristas, comerciantes e profissionais liberais, que tinha por objetivo a formação e exploração de um estabelecimento de charqueada no terreno adquirido do major Manoel Soares da Silva, um abastado fazendeiro que residia em Pelotas.
Essa nova perspectiva de fabricação do charque afirmava o poder da burguesia local no lugar da antiga “aristocracia” pelotense. Um dos motivos decisivos para a escolha do lugar de instalação do empreendimento foi, certamente, a proximidade com a estrada de ferro que ligava Bagé à cidade de Rio Grande, ferrovia essa inaugurada em dezembro de 1884, e pela qual a produção poderia ser escoada.
Fontes: “A economia saladeril desenvolvida em Pelotas e Bagé: Diferenças e peculiaridades”, de Fernando Augusto de Assumpção Neto (UFRGS, 2015), e O Rio Grande do Sul Sportivo (Livraria do Globo, 1918).