Em sua edição de 1º de agosto de 1964, a Revista do Globo publicou uma enquete sob o título: “Monoquíni em julgamento”. Foram sete opiniões colhidas: de dois jornalistas, uma comerciária, um costureiro, uma dona de casa, uma manequim e um responsável por um cine-teatro da Capital.
No mês anterior, a loja Esquina Modas, na Rua da Praia, exibiu em sua vitrine uma novidade para o verão seguinte: o monoquíni. Tratava-se de um shortinho com estreitos suspensórios que deixavam os seios à mostra, e que também foi mostrado, ali, por uma modelo durante um desfile.
Naquela noite, o Show de Notícias, da TV Gaúcha, levou aos telespectadores a ousada proposta de moda para praia. A repercussão foi grande e gerou protestos. O então arcebispo, dom Vicente Scherer, solicitou providências das autoridades. O secretário estadual de Justiça, Paulo Brossard, determinou que o Canal 12 fosse retirado do ar, o que aconteceu por 24 horas.
O criador do monoquíni é o austríaco radicado nos Estados Unidos Rudi Gernreich. No Brasil, a moda do topless nunca pegou, mas, hoje, os argumentos que reprovaram aquele tipo de maiô dificilmente seriam enunciados da mesma forma como foram para a repórter Norma Lopes. Jacy Pinho, redatora da revista, disse: “para mim, o monoquíni é o sepulcro do pudor e um dos últimos passos para a desmoralização da mulher. Moça que se preza não se expõe dessa maneira, descobrindo aos olhos dos homens seus encantos secretos.”
A dona de casa Dora Nogueira, 70 anos, afirmou: “Acho uma coisa horrorosa. Não faltava mais nada mesmo: as mulheres andarem com o busto nu. Neta minha não usaria isto nunca. Mas, cada um, cada um...” A manequim Ione Marques achava que seu uso “traz a desmoralização da mulher. Para exibi-lo, ela deve ser completamente desclassificada. Eu jamais usaria.”
Gunter Rudner, superintendente dos cines Imperial e Guarani, avaliou que era “puro sensacionalismo”. O costureiro Rosier disse ser contra “por questão de estética”. A balconista Erna Wazlawik revelou não ser contra “Quando apareceu o biquíni, foi aquele escândalo. Hoje, as praias estão cheias dele. Fica bonito em quem tem busto bonito”. Finalmente, o jornalista Luiz Carlos Lisboa concluiu: “É uma moda passageira... Há muito mais sugestão num maiô do que num monoquíni. É coisa de vedete.”