Por Pedro Haase Filho, interino
O ano de 1929, apesar dos prenúncios da crise econômica mundial, que viria a dar no conhecido Crash de 29 de outubro, exibia uma Porto Alegre ainda pujante na área cultural. Além da efervescência nas cenas teatral e musical, com apresentações no Theatro São Pedro, a Capital inaugurava salas de cinema imponentes, como o Cine Teatro Avenida, hoje transformado em sede de um grupo educacional.
Na área editorial, surgiram duas publicações que marcaram época: a Revista do Globo e o jornal Estado do Rio Grande – este era o órgão oficial do então Partido Libertador, dirigido por Raul Pilla. Teve vida efêmera, ainda que destacada, fechando em 1937.
A Revista do Globo, no entanto, chegou para deixar um legado inestimável a vários setores da área cultural no Estado, da literatura ao jornalismo, do cinema ao teatro, da fotografia à moda. Tornou-se um ícone gaúcho. Lançada em janeiro de 1929 pela Livraria do Globo, que mais tarde passou a ter a marca Editora Globo em seus produtos editoriais, manteve-se ativa até 1967.
A Revista do Globo surgiu como uma evolução do Almanaque do Globo, editado até então. Ao longo de quase 58 anos, contabilizou 941 edições e dois números especiais: um sobre a Revolução de 1930 e outro sobre a grande enchente de 1941. A publicação circulava com média de 80 a 90 páginas.
A revista foi, também, uma verdadeira escola de jornalismo e design gráfico, por lá tendo passado, entre tantos outros, profissionais como Mansueto Bernardi, Erico Verissimo, Mario Quintana, Justino Martins, Mário de Almeida Lima, Henrique Maia, Antônio Goulart, Flávio Carneiro, João Fahrion, João Mottini, Nelson Boeira Faedrich, Vitório Gheno, Henrique D’Ávilla Bertaso e José Bertaso Filho, estes dois membros da família proprietária da Livraria e Editora Globo.
A capa do número um da Revista do Globo, já adiantando o excelente padrão gráfico que teria em sua existência, foi desenhada pelo designer Sotero Cosme, num conceito de alegoria, mostrando uma mulher estilizada com um globo dourado entre os braços – tornou-se símbolo identificador do periódico.