Por Pedro Haase Filho, interino
Alguns leitores deste Almanaque se disseram admirados ao lerem a reportagem O fascínio da Escadaria do Amor, publicada em 11 de janeiro. Uma das razões foi saberem que o responsável pelo projeto do sítio era o arquiteto Christiano de La Paix Gelbert, que, em 1939, era o desenhista-chefe da prefeitura de Porto Alegre. Surpreenderam-se também por ele ter sido projetista e colaborador de outros tantos projetos marcantes na cena urbana da Capital: o viaduto da Borges de Medeiros, a Praça Otávio Rocha, o antigo Abrigo de Bondes, o Mercado Livre (já demolido), o Centro de Saúde Modelo, o Hospital de Pronto Socorro, as principais pontes no Arroio Dilúvio, os estudos da Hidráulica Moinhos de Vento e alguns pavilhões da exposição do centenário da Revolução Farroupilha, em 1935.
De fato, se comparado a outros profissionais que também delinearam o cenário arquitetônico porto-alegrense entre os anos 1930 e 1950, como Theodor Wiederspahn, Fernando Corona, Armando Boni e José Lutzenberger, La Paix Gelbert é praticamente um desconhecido.
Um desses leitores é o artista gráfico Marco Pilar, um apaixonado pela Porto Alegre antiga, em especial pela arquitetura que se inspira no estilo art déco. Natural de Jaguari, na Região Central, Pilar encantava-se quando, ainda criança, visitava a Capital com a família. Em 1962, passaram a morar na cidade. Autodidata, desenha desde a infância e começou a criar, profissionalmente, nos anos 1970, nas áreas publicitária e editorial (especialmente capas de livros e discos). Também atua, há mais de 20 anos, em produções de desenhos animados.
La Paix Gelbert chegou ao Brasil aos três anos, em 1902, vindo com a família de Hamburgo para Blumenau, em Santa Catarina. O pai, Fritz Gelbert, era fotógrafo, desenhista, pintor e projetista arquitetônico. Depois, mudaram-se para Cachoeira do Sul e, em 1918, vieram viver em Porto Alegre. Aqui, La Paix Gelbert, aos 25 anos, assumiu o cargo de desenhista da 2ª Seção da Diretoria de Obras da prefeitura. Trabalhou durante 28 anos no município, nas administrações dos prefeitos Otávio Rocha, Alberto Bins, Loureiro da Silva e Brochado da Rocha.
Sem saber, Marco Pilar “descobriu” La Paix Gelbert quando, nos anos 1990, viu que o antigo cinema Ritz estava ameaçado de demolição. A partir daí, desenvolveu um projeto de desenhos em tinta acrílica, recriando, alguns a partir de fotografias antigas, 12 sítios da Porto Alegre art déco. Entre eles, três que tiveram a mão de La Paix Gelbert em sua criação. As 12 gravuras de Pilar estão reproduzidas digitalmente em telas de 92cm x 62cm.
Fonte de dados sobre La Paix Gelbert: A Arquitetura de Christiano de la Paix Gelbert em Porto Alegre (1925-1953), de Taísa Festugato, trabalho apresentado no Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura UFRGS, em 2012.