Turistas pelo mundo inteiro têm demonstrado o gosto por um estilo com menos obrigações e mais tempo para relaxar. Logo, o conceito slow travel (viagem lenta, em português) vêm conquistando muitas pessoas, conforme aponta o Ministério do Turismo (MTur).
Para o presidente da Associação Rede Brasileira de Trilhas (RedeTrilhas), Hugo de Castro, essa tendência cresceu muito no Brasil, principalmente com o pós-pandemia:
— As pessoas têm buscado se conectar consigo mesmas. Estão preferindo visitar cânions, cachoeiras e fazer trilhas.
Muitos destinos que a RedeTrilhas proporciona ao público têm cânions. A procura por esse tipo de beleza natural se deve pela grandiosidade da paisagem.
— O turista está lá no topo e vê quilômetros de distância, até o olho alcançar. Além disso, quando está dentro do cânion, tem aquela sensação de estar mais apertado. Ao olhar para cima, é muito impactante — relata Castro.
Para a bióloga e turismóloga Roséli Azi Nascimento, os cânions brasileiros são motivo de orgulho:
— Podemos circular por lugares com paisagens encantadoramente atraentes.
Roséli comenta que alguns cânions ficam em propriedades privadas, onde só se pode chegar com a autorização dos proprietários, mas diversos são acessados por turistas de um modo geral, ou por serem em áreas abertas ao público ou por serem em áreas com produtos turísticos já formatados.
— É muito importante que essas visitas a muitos desses espaços sejam feitas com acompanhamento de guias de turismo contratados por meio de agências e operadoras com conhecimento adequado sobre o ambiente natural e sobre a forma de condução adequada — recomenda.
Cânion do Rio Iapó - Paraná
É no Paraná que fica o sexto maior cânion do planeta em extensão, o Cânion do Rio Iapó, localizado no Parque Estadual do Guartelá. Criado em 1992 pelo governo do Estado do Paraná, fica situado entre os municípios de Castro e Tibagi.
Ao chegar ao parque, o turista passará pelo Centro de Visitantes, onde será feito seu cadastro, visando a sua segurança durante a visitação da área, sendo repassadas informações gerais.
— A infraestrutura é adequada, com alojamento com banheiro público. Mais recentemente, foi implementado um estacionamento para motor-home para pernoitar — comenta o diretor de Patrimônio Natural do Instituto Água e Terra (IAT), Rafael Andreguetto.
No lugar, um dos encantamentos é a Cachoeira da Ponte de Pedra, derivada da força das águas do Córrego Pedregulho. A ação da água e do vento durante milhares de anos esculpiu estruturas como lapas, fendas, grotas e formas curiosas sobre as rochas areníticas.
Os visitantes podem caminhar por trilhas interpretativas, contemplar a paisagem, visitar sítios pré-históricos e banhar-se, na área permitida. Nas piscinas naturais, também conhecidas como "panelões", é possível observar as espécies de fauna e de flora e desenvolver pesquisas científicas, com a devida autorização do IAT.
O parque oferece diferentes tipos de trilhas. Uma delas é a básica, que é autoguiada, com aproximadamente 5 quilômetros de extensão (ida e volta), grau de dificuldade médio, com acesso aos panelões do Arroio Pedregulho (banho permitido), ao mirante do cânion do Rio Iapó e à cachoeira Ponte de Pedra. O tempo previsto para o percurso é de três horas.
A trilha das Pinturas Rupestres tem 6 quilômetros de extensão (ida e volta), grau de dificuldade média, com acesso aos panelões do Arroio Pedregulho, às pinturas rupestres (que datam de aproximadamente 7 mil anos), ao portal de rochosas areníticas, além de vários mirantes naturais, com vista para o cânion. O tempo previsto para o percurso é de quatro horas. O acesso à trilha é permitido somente com condutor, devendo ser agendado previamente com as agências de turismo local.
— Rico em cultura, biodiversidade e de riquezas arqueológicas, o parque é um recorte incrível que deve ser visitado, mas, ao entorno, você vai ter várias propriedades privadas que vão também receber de portas abertas — reforça o secretário de Turismo de Tibagi, Maurício Martins Pereira.
O horário de atendimento do parque é de quarta a segunda-feira, das 8h às 16h.
Programe-se
- O Parque Estadual do Guartelá, no Paraná, funciona de quarta a segunda, das 8h às 16h
- Mais informações pelo WhatsApp (42) 98832-1849 e pelo perfil no Instagram @turismotibagi
Cânions gaúchos
No Rio Grande do Sul, estão localizados os maiores cânions da América Latina, conforme salienta a bióloga e turismóloga Roséli Azi Nascimento. Um exemplo é o Parque Nacional dos Aparados da Serra, com o Itaimbezinho e o Fortaleza, com suas fendas verticais que chegam a 900 metros de profundidade. Ambos estão em unidades de conservação, localizadas na cidade de Cambará do Sul pela parte superior e, pela parte de baixo, em cidades de Santa Catarina, como Praia Grande e Jacinto Machado. Ainda em Cambará do Sul estão os cânions Índios Coroados e Malacara.
Em São José dos Ausentes, o mais famoso é o Cânion do Monte Negro, com a presença do ponto mais alto e frio do Estado, que é o Pico do Monte Negro, com 1,4 mil metros de altitude do nível do mar. Nessa região há outras opções para conhecer, como os cânions da Cruzinha, Boa Vista, do Tabuleiro, Amola Faca (ou do Encerra), entre outros. Todos estes com a parte superior em São José dos Ausentes e, na parte de baixo, em Morro Grande ou Timbé do Sul, em Santa Catarina.
Já na região de Caxias do Sul, em Criúva, há cânion do Palanquinho, que fica dentro da área do Monumento Natural do Palanquinho, sendo possível realizar rapel, mas somente acompanhados de profissionais especializados.
— Essa formação rochosa se fez durante o mesmo evento geológico que originou os cânions do Itaimbezinho, há 120 milhões de anos — informa Roséli.
Cânion do Rio São Francisco - Bahia, Alagoas e Sergipe
O maior cânion natural navegável do Brasil é o do Rio São Francisco, entre os Estados de Bahia, Alagoas e Sergipe. O local possibilita a realização de atividades turísticas o ano inteiro. São aproximadamente 60 quilômetros de cânions totalmente navegáveis e com paisagens da bela caatinga, permitindo avistar a presença da fauna local, como o macaco prego galego e a águia chilena.
Conforme indica o chefe do ICMBio Paulo Afonso, Emerson Leandro Costa de Oliveira, é possível fazer a canoagem, o que proporcionará uma experiência diferente, com o valor de R$ 70 por pessoa. Também existem os passeios de catamarã, em que é possível banhar-se em piscinas naturais entre os os grandes paredões e almoçar às margens do Velho Chico (como é chamado o Rio São Francisco). O custo é R$ 135 por pessoa.
Cânion da Serra Verde - Paraíba e Rio Grande do Norte
Próximo à divisa entre os Estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, o cânion da Serra Verde fica em uma área do semiárido nordestino. Segundo o coordenador dos Caminhos das Ararunas, Ricardo Câmara, o cânion possui predominância de rochas graníticas e fica dentro do leito do Riacho Grande. O acesso é aberto ao público.
Com sítios com desenhos rupestres de civilizações que existiram entre 7 e 10 mil anos, o local é procurado por geólogos das universidades da região para pesquisas e arqueólogos.
Com trilhas e corridas na natureza, o espaço é o mais procurado para se fazer um trailer run. O trecho é sinalizado com placas ou via o aplicativo Wikiloc, além de contar com a ajuda dos moradores locais. Há várias trilhas, de dificuldade leve, moderada e difícil. A mais difícil tem 12 quilômetros e é totalmente dentro do cânion, com acesso fácil para se chegar de carro.
— A melhor época é de março a início de setembro, com clima mais agradável — indica Câmara.
Cânion das Bandeirinhas - Minas Gerais
O cânion das Bandeirinhas, em Minas Gerais, está situado no Parque Nacional da Serra do Cipó, que é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O seu acesso principal é feito por meio da Portaria Areais, no município de Jaboticatubas, por uma trilha de 24 quilômetros (ida e volta) plana em sua maioria, que pode ser feita a pé ou de bicicleta. A visitação é aberta ao público, gratuita e diária, das 8h às 16h.
O lugar foi formado pela ação da água, que ao longo do tempo foi escavando a rocha quartzítica.
— O que resultou em uma fenda com até 80 metros de profundidade e dois quilômetros de extensão — descreve um dos integrantes da equipe do Núcleo de Gestão Integrada Cipó-Pedreira/ICMBio, Edward Elias Júnior.
Mais informações
- Associação Brasileira de Turismólogos e Profissionais do Turismo (Abbtur) - Telefone: (51) 99341-8797 e Instagram: @abbtur_nacional
- Associação Rede Brasileira de Trilhas (RedeTrilhas) - e-mail: redetrilhasbrasil@gmail.com e Instagram: @redetrilhas