Uma densa neblina frustrou a contemplação do Cristo Protetor, em Encantado, na manhã deste domingo (24). Com o correr do dia, porém, a cerração cedeu, ampliando o horizonte da paisagem sobre o Vale do Taquari. A visitação ao principal ponto turístico da região foi retomada neste final de semana, com toda a arrecadação sendo direcionada às vítimas da enchente.
Ao menos cinco ônibus de excursão levaram turistas ao monumento logo no início da manhã. Na chegada, um vídeo com imagens dos estragos causados pela enchente era exibido aos visitantes. Logo em seguida, funcionários da Associação Amigos do Cristo, que administra o local, fazia um esclarecimento:
— Hoje é uma visitação diferente. As pessoas aqui perderam não só suas casas. Perderam o ânimo, a coragem, suas memórias afetivas. Então quero gradecer a vocês que estão vindo e colaborando com a nossa região — disse Vanessa Galdoni, coordenadora de logística da entidade.
Na véspera, 443 pessoas haviam visitado o Cristo, situado no cume do Morro das Antenas, a 10 quilômetros do centro de Encantado. No total, a associação já havia reunido R$ 150 mil em doações.
Mesmo ainda em obras e com a visão prejudicada pela forte cerração, o Cristo emociona os turistas. Com 43,5 metros de altura, a estátua de braços abertos sobre o Vale do Taquari motiva orações, promessas e pedidos, com os fiéis jogando moedas em um espelho d'água aos pés do colosso esculpido em 1,7 mil toneladas de concreto.
A comerciante Isanete Bergamin, 53 anos, viajou 340 quilômetros desde Chapecó (SC) para vislumbrar pela primeira vez a imagem. Ao lado de amigos e familiares, ela comemorou quando uma passagem de vento dissipou o nevoeiro por alguns minutos, ampliando a visão do Cristo.
— Felizmente abriu o tempo um pouquinho e deu para ver melhor. Ele é lindo — celebrou Isanete.
As pessoas aqui perderam não só suas casas. Perderam o ânimo, a coragem, suas memórias afetivas
VANESSA GALDONI
Coordenadora de logística da Associação Amigos do Cristo
Concluída em abril de 2022, a estátua já atraiu 230 mil pessoas de 40 países e de todos os Estados brasileiros. O complexo ainda está sendo construído, com previsão de R$ 15 milhões investidos nos próximos anos. Um elevador foi instalado dentro do Cristo para levar os turistas até o coração, a 33 metros de altura, mas aguarda a instalação de energia elétrica trifásica para entrar em operação. Desta forma, a visita fica limitada ao redor da estátua, de onde também é possível avistar a zona urbana de Encantado.
A retomada do turismo na região, 19 dias após a enxurrada que provocou 49 mortes no Rio Grande do Sul, causou polêmica nas redes sociais, mas teve amparo de empreendedores da região atingidos pelo desastre climático. Muitos tiveram a casa e o negócio destruídos pelas cheias e apostam na cadeia turística para reconstruir suas vidas.
A pedagoga Lady Cássia Galvan, 40 anos, chegou a pensar em adiar a viagem. Ao lado da mãe, a dona de casa Rita Gabana, 61, ela estava com excursão marcada para 20 de setembro. O passeio foi transferido em função das enchentes e ela cogitou desistir.
— Eu não queria vir, as pessoas estavam descendo a lenha na internet. Não é um momento de alegria, mas é um momento de ajudar. Eu senti uma emoção muito grande. Vir aqui renova a nossa fé — diz Lady Cássia, que fez doações em dinheiro e recolheu material escolar, de higiene e limpeza para as vítimas das cheias no Taquari.
No final da tarde, o pároco de Guaporé, padre Joel Ferrari, celebra uma missa no local. Os ingressos para o Cristo custam R$ 30 (pessoas acima de 60 pagam meia e crianças até 12 anos têm entrada gratuita).