A cerca de 80 quilômetros ao norte de Salvador, centenas de coqueiros enfileirados margeiam as águas verdes de um verdadeiro paraíso do nadismo. Não por falta de opções – no complexo turístico da Costa do Sauípe, há muito o que fazer. Basta, porém, o primeiro contato com a rotina de um resort all inclusive (modelo de hospedagem que inclui no preço todas as refeições, bebidas e outras atrações) para perceber que não há nada melhor do que não fazer nada, curtindo mordomias à beira da piscina ou, com sorte, observando a movimentação de tartarugas marinhas enquanto se degusta uma caipirinha à beira-mar.
Embora ser bem tratado, alimentado e hidratado 24 horas por dia pareça um programa inacessível para muitos, os números mostram que os hotéis do Sauípe são uma opção popular. Estima-se que cerca de 1 milhão pessoas por ano usufruam desse tipo de hospedagem – ou mais de 20 vezes a população do município de Mata de São João, na Bahia, onde fica o distrito. Mesmo assim, o complexo, inaugurado nos anos 2000, dava prejuízo em cima de prejuízo – somente em 2017, foram mais de R$ 30 milhões negativos – até dois anos atrás, quando um grupo goiano assumiu as operações.
De lá para cá, o serviço, antes dividido entre diversas redes, foi padronizado, e as instalações receberam melhorias. Agora, há seis opções de hospedagem, todas all inclusive – variam as acomodações, a infraestrutura, as atividades oferecidas e a qualidade dos produtos. Ao todo, são mais de 1,5 mil quartos distribuídos pelo complexo, que tem ares de cidade cenográfica: além dos resorts, conta com um centro social com lojas de roupa, artesanato, bares e restaurantes, e uma área de lazer com roda-gigante, música ao vivo e uma casa "assombrada" onde ocorre um escape game.
Antes de cogitar férias no Sauípe, é importante saber que este é um tipo de programa essencialmente familiar. A maioria dos frequentadores, segundo a diretoria do complexo, são casais entre 35 e 45 anos, com filhos. Ou seja, se você tem problemas com crianças – ou com o barulho da gurizada brincando na piscina – ou busca um lugar com clima de azaração, pode decepcionar-se ou ficar desconfortável em algumas situações.
Por conta do perfil dos hóspedes, parte significativa do entretenimento do complexo é voltada para os pequenos: há recreacionistas, brinquedoteca, copa para bebês, quartos e atrações temáticas. A qualquer momento, raposas e aves humanoides podem aparecer dançando no meio do hall para convidar a criançada para um show musical.
O despojado luxo de um resort
Estreante no mundo dos resorts, vi minhas expectativas subvertidas logo de cara. Fantasiava com um ambiente de luxo e ostentação, enquanto a realidade, eu descobriria, é de uma atmosfera mais despojada, de conforto e comodidade.
Não que não tenha seu luxo dormir em uma cama king size com lençóis esticadinhos, em um quarto climatizado e com vista para a piscina – ou que ter espumante, cerveja, drinks e petiscos à disposição quase 24 horas por dia passe longe de ostentar. Mas os móveis e luminárias que levam trançados, vime e madeiras com acabamento rústico, além de áreas com farta iluminação natural, ajudam a preservar a sensação de estar na praia.
O estilo dos hóspedes também dispensa pompa. Ninguém usa camisa, brilho ou salto alto – na maior parte do tempo, as pessoas circulam em trajes de banho ou roupas confortáveis. Embora haja dezenas de funcionários, parte do serviço oferecido implica autonomia. A comida dos restaurantes, por exemplo, é servida em bufê – receber o prato no quarto, inclusive, tem custo adicional –, e o caminho mais rápido para as bebidas oferecidas no bar, quase sempre, é pedir no balcão.
Mais do que a beleza do lugar, onde um bando de pássaros são companhia no café da manhã e os coqueiros estão por toda a parte, o que chama a atenção são as facilidades. Para quem gosta de manter a agenda ocupada, uma assistente virtual que pode ser acionada pelo WhatsApp envia a programação do dia. Tem de ioga a ginástica funcional, do karaokê ao zumbatão, seja lá o que for zumbatão. Aqueles que não alimentam pretensões maiores do que não fazer esforço algum também têm múltiplas possibilidades. As mais populares são deitar à sombra de um guarda-sol, esparramar-se em uma espreguiçadeira de frente para o mar ou simplesmente imergir na piscina de borda infinita até murchar – e, depois de uma tarde de drinks no "bar molhado", constatar que a única open realmente imperdível é a de água de coco.
A trilha sonora de bossa nova que predomina durante o dia cria um clima de trama do Manoel Carlos para noveleiro nenhum colocar defeito – em outros hotéis do complexo, os DJ s podem ser mais frenéticos. Mais silenciosa em alguns pontos e repleta de piscinas naturais na maré baixa, a beira-mar é a melhor pedida para quem quer sossego.
Um jogo sem saída
A dimensão lúdica do resort se estende para as demais faixas etárias em uma quermesse cenográfica montada no complexo – em frente a ela, uma vila não menos cenográfica funciona como centro social, com lojas, bares e restaurantes. Além de uma roda-gigante, tem apresentações de forró e a atração que ocuparia parte de nosso sábado à noite: presos em uma sala, teríamos 20 minutos para desvendar um enigma e conseguir sair dela.
É o chamado escape game (ou jogo de escapar). Está na moda agora – em Porto Alegre, há jogos desse tipo que levam até uma hora. Fomos divididos em dois grupos, vestidos com roupas de cangaceiros – tiradas imediatamente após a foto. Entramos no ambiente sinistro com a missão de descobrir a lenda urbana que o assombrava e expulsá-la.
Um ator ajuda a conduzir a brincadeira, na qual a participação coletiva é fundamental. Espalhadas pela sala, diversas pistas ajudam a desvendar o enigma, que, uma vez solucionado, exige que todos juntos "exorcizem" o fantasma. Alcançamos a liberdade em 14 minutos, um a menos do que a outra metade do grupo, e ganhamos assunto para o jantar.
O que você precisa saber
Nem tudo está incluído: apesar do nome, resorts all inclusive têm atividades e produtos que podem ser cobrados à parte. Informe-se antes de fazer a reserva e ao chegar ao local.
Férias para a caixa de som: na Costa do Sauípe, escolher a trilha sonora é prerrogativa da casa. Pelo bem-estar geral, o uso de caixas de som nas áreas comuns é explicitamente desaconselhado. Deixe a sua em casa.
Esportistas, avante: para quem gosta de se movimentar, o complexo conta com diversas quadras poliesportivas – no começo dos anos 2000, foi sede de uma das maiores competições de tênis do país. Um calçadão à beira-mar é convite para os fãs de corridas e caminhadas, e há praias afeitas ao surfe e outros esportes aquáticos.
Alegria dos matutinos: na Costa do Sauípe, o sol nasce por volta das 5h e se põe antes das 18h. À noite, a iluminação artificial da orla é desligada para não desorientar as tartarugas marinhas. É o ambiente ideal para quem gosta de dormir cedo e curtir o dia.
As vizinhas são lindas: perto da Costa do Sauípe, há pelo menos duas praias imperdíveis: a Praia do Forte, sede do Projeto Tamar, e Imbassaí, onde o rio e o mar se encontram. Aproveite a viagem para conhecer a vizinhança.
*A repórter viajou a convite de Aviva, detentora da Costa do Sauípe.