O clima na Costa do Sauípe, a cerca de 80 quilômetros ao norte de Salvador, na Bahia, costuma colaborar com os turistas. Por lá, faz calor o ano inteiro. No dia em que cheguei, no fim de janeiro, a temperatura estava razoável, mas o sol teimava em não aparecer – depois, soube que no dia anterior a chuva não tinha dado trégua e não achei o céu nublado tão ruim.
Antes que pudesse me lamentar pelo tempo feio, descobri que levei sorte. Mais cedo, tinham nascido dezenas de tartarugas marinhas – a região é uma área de desova desses animais. Quando isso ocorre, monitores do Projeto Tamar que moram no complexo organizam um pequeno evento para ajudar aquelas que não conseguiram ir para o mar a pegarem o rumo. Nessa hora, os turistas podem ver e tirar fotos das recém-nascidas, cuja fofura é garantia de likes nas redes sociais.
Apesar de estar na rota das tartarugas marinhas, se deparar com elas na Costa do Sauípe não é regra. O período mais provável é entre setembro e março, quando as adultas aparecem para colocar os ovos na areia – que são prontamente identificados e demarcados pelos monitores do Tamar para evitar que sejam pisoteados pela turistada. A incubação leva de 45 a 60 dias.
Cada nascimento é uma dupla oportunidade. Para os visitantes, de ver de perto os filhotes de espécies como a tartaruga de pente, que corre risco de extinção. Para os monitores, de divulgar as ações do Projeto Tamar, que atua há 40 anos pela preservação desses animais.
Naquela quinta-feira, havia dezenas de curiosos ao redor do cercado montado pelo pessoal do Tamar. Depois de aplainar o trecho em direção ao mar, o quarteto falou sobre o trabalho realizado por lá – mesmo com alto-falante, foi difícil ouvir. Então chegou o momento mais aguardado: depois de, pacientemente, apresentarem os filhotes para todos (era proibido tocar, mas permitido fotografar), eles colocaram as pequenas na faixa de areia, de frente para a água.
A ideia é que os filhotes encontrem o caminho por si mesmos. Como para uma tartaruga recém-nascida isso pode ser mais difícil do que parece, não raro os monitores dão uma forcinha, deixando-as mais próximas para serem levadas pelas ondas. As primeiras partidas foram comemoradas pelos espectadores, e, ao final de cerca de uma hora, a trupe estava devidamente encaminhada. A parte triste, soube mais tarde, é que suas chances de sobrevivência eram ínfimas: de cada mil filhotes, apenas um chega à vida adulta.
Visita ao Projeto Tamar
Ao sul da Costa do Sauípe, a Praia do Forte está entre os destinos mais procurados por quem visita essa região da Bahia, não só pelas praias de águas calmas e cálidas. No local, está a sede do Projeto Tamar, pioneiro na proteção de cinco espécies de tartaruga ameaçadas de extinção: tartaruga-cabeçuda, tartaruga-de-pente, tartaruga-verde, tartaruga-oliva e tartaruga-de-couro.
Cerca de 500 mil pessoas por ano visitam o local, para onde fomos na manhã de sábado. Acompanhados pelo biólogo Itamar Santana, conhecemos as instalações e um pouco do trabalho da instituição, que já devolveu 40 milhões de filhotes de tartaruga para o mar.Criado em 1980, o projeto tem 27 bases espalhadas pelo Brasil e conta com a colaboração de 1,3 mil pessoas, entre funcionários e voluntários. Na sede, é possível ver de perto tartarugas em diferentes fases da vida – as veteranas têm entre 20 e 25 anos. Elas ficam em tanques de água salgada e são alimentadas com algas e peixes.
Santana explicou que, hoje, a principal ameaça a esses animais não é a pesca predatória, mas a acidental – quando se captura uma espécie que não é o alvo da pescaria. Redes e espinhéis usados para pescar peixe e camarão são os que mais prendem tartarugas marinhas no Brasil. Sem conseguir subir à superfície para respirar, elas desmaiam e morrem afogadas.A visita no Tamar dura cerca de uma hora. Além das tartarugas, tubarões e arraias podem ser vistos na sede do projeto, que fica na área central da praia. Na saída, há uma loja de lembrancinhas com camisetas, canecas e outros apetrechos.
*A repórter viajou a convite de Aviva, detentora da Costa do Sauípe.