As primeiras apareceram a partir da queda de troncos sobre os rios. Inspirado pelo processo da própria natureza, o homem tratou de aproximar os pontos separados pelo curso d’água. Surgiram as pontes. Entre as mais icônicas, como a Brooklyn Bridge, em Nova York (EUA), e a Tower Bridge, em Londres (Inglaterra), e as mais longas (a Danyang-Kunshan Grand Bridge, na China, tem 164 quilômetros de extensão), há uma infinidade de projetos, arquitetônica e funcionalmente distintos, em todos os casos resolvendo problemas de transporte e comunicação e em alguns orgulhando moradores onde essas estruturas estão localizadas.
No Rio Grande do Sul, as construções mais antigas entre as que sobrevivem ao tempo – e que atraem a curiosidade das pessoas, pela sua beleza ou pela história que carregam – datam do século 19. A reportagem de GaúchaZH ouviu o Departamento de Estradas de Rodagem (Daer), o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae) para listar as pontes mais importantes do Estado.
Pela história ou pelo valor estético, seis foram citadas. Uma delas, a Ponte Internacional Barão de Mauá, foi a única unanimidade.
Ponte Internacional Barão de Mauá, em Jaguarão
A ponte que homenageia um gaúcho nascido em Arroio Grande, cidade vizinha à fronteira, foi lembrada por representantes de todos os órgãos consultados para esta reportagem. Importante ligação entre Brasil e Uruguai, é o primeiro bem binacional tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e reconhecido como patrimônio cultural do Mercosul.
Segundo o jornalista, advogado e autor do livro Ponte Mauá – Uma História, Eduardo Alvares de Souza Soares, a obra nasceu de uma dívida de guerra contraída pelo Uruguai com o Brasil, na metade do século 19, e firmada em tratado 68 anos depois. O objetivo foi aproximar os dois países nas áreas política, econômica e cultural.
Seis mil operários de diversas nacionalidades, contratados por uma empreiteira brasileira, ergueram a ligação de alvenaria paga e projetada pelo Uruguai. Inaugurada em 1930, depois de três anos de obras, a ponte sobre o Rio Jaguarão mede 2.113 metros, sendo 340 deles sobre o rio. Erguida para a passagem de trens e outros tipos de veículos, tornou-se passagem fundamental para caminhões e pedestres. Foi declarada Monumento Histórico Nacional pelo Uruguai em 1977. No Brasil, o Iphan a tombou em 2011.
Durante uma década, Soares recolheu documentos históricos como contratos, discursos e até telegramas sobre a ponte para escrever o livro. Até hoje, ele se nega a chamá-la pelo nome divulgado. Para o pesquisador, é apenas "Ponte Mauá":
— Estou me baseando em documentos. Em um deles, datado de 1928, a comissão mista que tratava da ponte ratificou, entre outras decisões, que ela receberia o nome de Mauá. Afinal, Irineu se tornou visconde após ser barão.
Mas quem foi o homem que deu nome à imponente estrutura responsável por conectar por terra dois países da América do Sul? Comerciante, industrial e banqueiro, Irineu Evangelista de Souza, o barão e depois Visconde de Mauá, pode ser considerado um visionário brasileiro. Por sua contribuição à industrialização do país no período do Império, recebeu títulos nobiliárquicos. Primeiro, barão. Depois, Visconde de Mauá. Em 1852, fundou o Banco Mauá, MacGregor & Cia, com filiais no Brasil, em Londres (Inglaterra), Paris (França) e Nova York (EUA). Em 1857, inaugurou o Banco Mauá Y Cia., no Uruguai, o primeiro estabelecimento bancário uruguaio. Milionário, ofereceu armas, munições e dinheiro ao Uruguai durante a Guerra do Prata. Mais tarde, decretou falência nos negócios. Morreu em 1889, no Rio de Janeiro.
Onde fica: na BR-472, sobre o Rio Jaguarão, fronteira com a cidade uruguaia de Rio Branco.
Ponte do Botucaraí, em Cachoeira do Sul
A primeira ponte do Estado a ser construída em alvenaria e com arcos, segundo o Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, está localizada a cinco quilômetros da cidade de Cachoeira do Sul. No século 19, foi a principal ligação entre a região central e Porto Alegre. A estrutura ganhou notoriedade a partir da passagem de Dom Pedro II, que esteve em visita a Cachoeira do Sul.
A história se inicia em 1832, quando, em sessão da Câmara Municipal, foi feito o registro da determinação do presidente da Província, desembargador Manoel Antônio Galvão, para que fosse elaborada a planta da ponte. Mas apenas 15 anos depois o orçamento da obra seria concluído. Para a construção de alvenaria, que levou 264 dias para ficar pronta, foram usadas pedras. A obra foi concluída em 1848.
A ponte de pedra deixou de ser utilizada na década de 1950 porque os carros batiam na elevação da pista. Em janeiro de 2010, parte da cabeceira da travessia desabou devido ao excesso de chuvas. No primeiro semestre de 2011, foi criado o movimento pró-Ponte de Pedra, liderado pelo arquiteto Osni Schroeder e apoiado pelo Conselho Municipal do Patrimônio Histórico-Cultural (Compahc).
A ponte foi tombada em 2013 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae), entidade que a indicou nesse levantamento de ZH.
Onde fica: Estrada Ponte de Pedra, sobre o Rio Botucaraí, na localidade Forqueta, interior de Cachoeira do Sul.
Ponte Ernesto Dornelles, ou Ponte dos Arcos, em Veranópolis
Popularmente conhecida como Ponte do Rio das Antas, a Ernesto Dornelles teve sua construção iniciada em 1942 e foi concluída 10 anos depois. Tem 287 metros de extensão, estrutura em arcos paralelos suspensos e é um dos cartões postais da região serrana.
A ponte não possui pilares nas águas, pois, em épocas de cheia, a correnteza do Rio das Antas atinge grande velocidade, o que poderia comprometer a estrutura da obra. A sustentação em concreto armado é formada por dois arcos paralelos, com um vão livre de 186 metros de extensão entre os pontos de apoio, situados nas margens do rio.
A Ponte Ernesto Dornelles é considerada uma das maiores pontes pênseis de arcos paralelos do mundo. Além de ser um dos principais atrativos da região, a estrutura está representada no logotipo do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem do Estado do Rio Grande do Sul (Daer).
Onde fica: BR-470, sobre o Rio das Antas, entre Veranópolis e Bento Gonçalves.
Ponte do Imperador, em Ivoti
Obra iniciada em 1857 e concluída em 1864, a Ponte do Imperador tem 148 metros e fica sobre o Arroio Feitoria, a um quilômetro do centro de Ivoti, na Região Metropolitana de Porto Alegre. A estrutura fica nas proximidades do Núcleo de Casas Enxaimel, tipo de construção usada pelos imigrantes alemães que hoje atrai turistas à região.
Erguida em pedra grês, empilhada e encaixada sem cimento (usado só nas colunas que ficam dentro da água), a travessia foi construída por moradores da comunidade, auxiliados por profissionais.
Dom Pedro II, imperador da época e que deu nome à ponte, enviou 30 contos de réis para auxiliar na conclusão da obra, embora somente tenham sido gastos 14 contos e 317 réis – a sobra foi devolvida ao presidente da província. Em 1986, foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Onde fica: Rua Tuiuti, sobre o Arroio Feitoria, próximo ao Núcleo de Casas Enxaimel.
Ponte metálica sobre o Rio Ibicuí, em Uruguaiana
Erguida por uma construtora inglesa, a ponte sobre o Rio Ibicuí, ligação da BR-472 entre Uruguaiana e Itaqui, é de mão única e depende de um semáforo que indica o lado liberado para os veículos. Construída em 1888, tem 1.317 metros de extensão.
Projetada para ser apenas trajeto de locomotivas, a ponte se tornou, a partir da década de 1960, caminho para bitrens e carretas que fazem a estrutura tremer a cada nova travessia. A estrutura já teve a passagem de veículos interditada inúmeras vezes em épocas de enchentes mais intensas, quando o Ibicuí quase passa por cima da via.
Na estrutura metálica, está gravada a certidão de batismo da construtora da Inglaterra: "James Perry & Cº Contractors. London. 1888".
Onde fica: BR-472, entre Uruguaiana e Itaqui
Ponte General Osório, em Manoel Viana
Inaugurada em 1950, a Ponte General Osório dá continuidade à RS-377. Foi construída para dar passagem aos carreteiros e cavaleiros que faziam o caminho entre as Missões e a Fronteira.
O então povoado de Manoel Viana (entre Alegrete e Santiago) começou a crescer a partir dessa construção, que permite aos viajantes a travessia sobre o Rio Ibicuí.
Favorecida pelo solo fértil banhado pelas bacias hidrográficas dos rios Ibicuí, Itu, Miracatu, Piraju e Taquari, a região começou a receber agricultores, pecuaristas e comerciantes. Entres os cursos do Ibicuí e do Ibirapuitã, viveram os índios Minuano.