É verdade que viajar está cada vez mais democrático. Se antes não se pensava em atravessar o Oceano Atlântico sem a ajuda de uma agência, hoje a maioria dos turistas organiza as suas próprias férias. Com a disseminação de aplicativos, plataformas de conteúdo e sites especializados, multiplicaram-se também as alternativas para (aprender a) planejar uma viagem gastando menos.
Economizar nas férias não implica abrir mão de conforto, segurança e boa comida. Muito pelo contrário, como conta Airton Ortiz, escritor gaúcho com mais de 20 obras publicadas sobre destinos de viagem:
— Quanto menos você gastar em uma viagem, mais perto estará da realidade local. Moradores não se hospedam em hotéis cinco estrelas, não andam de táxi o tempo todo nem comem diariamente nos restaurantes mais caros.
Rogério Milani, de Bento Gonçalves, está à frente do portal Viajando Bem e Barato, em parceria com a jornalista Manuela Colla, de Porto Alegre. Segundo ele, uma dica valiosa é planejar um roteiro "lado B". Enquanto a maioria dos viajantes vai às cidades mais badaladas – e caras –, você pode visitar destinos menos cobiçados, e não menos interessantes. Budapeste (Hungria), Praga (República Tcheca), Sarajevo (Bósnia), Kiev (Ucrânia) e Belgrado (Sérvia) figuram entre os mais baratos para se conhecer na Europa.
Já Anelise Zanoni, jornalista e autora do projeto TravelTerapia, diz que o segredo está em colocar tudo na ponta do lápis:
— No ano passado, fui para Orlando e optei por um hotel na Disney. Era mais caro, porém, deixei de gastar com aluguel de carro, estacionamento, gasolina e seguro.
Confira, a seguir, mais dicas dos viajantes:
DE OLHO NAS PASSAGENS
Boa parte do orçamento de uma viagem é destinada às passagens aéreas – é comum o turista escolher o destino conforme os preços do deslocamento até lá. Muita pesquisa e compras com antecedência já fazem parte do ritual de planejamento de quem quer viajar gastando menos, mas há outras formas de economizar: começando pelas ferramentas de pesquisas e por buscadores de passagens promocionais. Decolar, Submarino, Viajanet, Skyscanner, Turismocity, Kayak e MaxMilhas, entre outros sites, ajudam o viajante a comparar valores entre companhias, dias e destinos.
— As promoções costumam acontecer em finais de semana e madrugadas para voos internacionais e no início da semana para os internacionais — alerta Milani.
Baixar aplicativos especializados em promoções como o Melhores Destinos e o Passagens Imperdíveis é outra opção para ficar atento a algumas barbadas. Basta permitir o recebimento de notificações. No entanto, todo o cuidado é pouco: alguns voos promocionais descem em aeroportos muito longe da região central, o que pode encarecer a viagem por conta do transfer.
— Nesse esquema, já comprei passagens para Nova York gastando apenas R$ 700 com ida e volta, em março de 2019. Agora, também em março, estou indo para a China por R$ 1,4 mil, com parada nos Estados Unidos — conta Anelise.
Programas de milhagem às vezes fazem com que a passagem aérea saia de graça, Principalmente em voos nacionais.
— Eu uso o cartão de crédito até para o cafezinho no shopping — sugere Ortiz.
BAGAGEM: MENOS É MAIS
Depois que a Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) derrubou, em 2017, a liminar que proibia a cobrança adicional por bagagens, as viagens aéreas se tornaram mais caras. Por conta das novas regras das companhias, muitos turistas optam por viajar apenas com a bagagem de mão. Acredite: é possível passar dias e até semanas no Exterior só com pertences que caibam em uma mala de até 10 quilos.
— Sempre vale a pena organizar bem a mala e optar por bagagens mais leves. Fazer combinações de roupas é sempre um segredo, assim como comprar produtos de higiene em embalagens menores — diz Anelise.
— Você não tem noção de quanta bagagem é possível levar em apenas 10 quilos. E tudo fica muito fácil para todos os deslocamentos durante a viagem, seja de trem, metrô, ônibus. Viaje de um país a outro com vontade de acumular só memórias — acrescenta Milani.
Para os destinos que exigem mais roupas, como países muito frios, o despacho de bagagem pode ser interessante. Nesses casos, a dica é comprar a franquia com antecedência, pois na hora do embarque, pode sair mais caro.
ESPERE, MAS NÃO GASTE
Aeroportos estão entre os lugares mais caros pelos quais os viajantes passam. Para economizar em conexões – algumas exigem horas de espera –, leve seu lanche de casa. O velho conselho "não caia na tentação" vale para esse tipo de ambiente, principalmente ao passar pelos free shops das áreas de embarque e desembarque.
Se o tempo de conexão for muito longo, dê um passeio pela cidade: é uma opção para não gastar com refeições caras e ainda aproveitar o tempo ocioso para turistar.
ALÉM DO HOTEL
Os turistas mais econômicos dizem que hotel é coisa do passado. Hoje em dia, é possível ter conforto e privacidade com opções de hospedagem mais em conta. Confira algumas:
Hostels ou albergues
Ideal para quem viaja sozinho e está aberto a novas amizades. Este tipo de hospedagem costuma ser mais barato por conta do compartilhamento de ambientes. No entanto, é comum encontrar hostels com quartos individuais e opções de banheiros compartilhados ou não – embora dividir o dormitório com outras pessoas ainda custe muito menos. Esses estabelecimentos também costumam oferecer cozinha, o que reduz o valor das refeições se o turista prepará-las.
Airbnb
Serviço online para anunciar e reservar acomodações diversas, principalmente quartos em residências de outras pessoas ou casas e apartamentos, o Airbnb permite encontrar opções mais baratas em comparação aos hotéis e com o mesmo conforto. Uma das principais vantagens é ter cozinha.
Bed and Breakfast
Esta modalidade se assemelha ao Airbnb, mas, além de acomodação, oferece a primeira refeição do dia. Como o próprio nome diz: cama e café da manhã, na tradução do inglês. Quando o anfitrião não oferece a refeição, ele pode oferecer um voucher de padaria ou utensílios para o preparo. Confira mais em bedandbreakfast.com.
Intercâmbio de casas
Já há inúmeras plataformas que permitem a troca de casas – BeLocal Exchange, Troca Casa, Home Link e Guest of a Guest. Você se hospeda na residência de uma pessoa no país das férias e, depois, recebe seu anfitrião em sua casa, ou vice-versa.
— Às vezes, até o carro entra no intercâmbio, tudo de graça — ressalta Ortiz, adepto da modalidade e usuário da plataforma Home Exchange.
A REGIÃO FAZ DIFERENÇA
O bairro onde o turista irá se hospedar pode ser um fator significativo para o orçamento. Quanto mais turístico o local, mais caro – e isso vale não apenas para hotéis, albergues e apartamentos alugados, mas também para restaurantes e lojas. Regiões mais afastadas costumam ser mais acessíveis, desde que o visitante leve em consideração o tempo e o valor gastos nos deslocamentos. Uma dica: fique perto de estações de metrô ou de outros meios de transporte.
— Em Porto (Portugal), os hotéis são mais caros do que em Vila Nova de Gaia, uma cidade linda e do outro lado do Rio Douro. Em Nova York, muitas vezes vale a pena ficar em Jersey City, que tem transporte para Manhattan e tarifas mais em conta. Para quem vai a Punta del Este, as cidades de Piriápolis e Maldonado geralmente são bem mais econômicas — indica Anelise.
Outra sugestão para economizar com diárias é abrir mão do conforto de um quarto. Viaje de madrugada, seja de avião, ônibus ou trem, e amanheça no destino.
VÁ COM PASSES
A melhor (e mais barata) forma de conhecer uma cidade é caminhando. Já deslocar-se entre um destino e outro requer planejamento. Uma boa ideia é utilizar passes ferroviários ou bilhetes de integração, com os quais se paga menos por tíquete.
— Em Paris, para cada 10 bilhetes de metrô, dois saem de graça — diz Ortiz, destacando que muitas cidades da Europa têm sistemas parecidos.
Também é possível se deslocar entre destinos próximos com voos de baixo custo. Na Europa, por exemplo, consegue-se pagar cerca de 20 euros por trecho, se tiver sorte com uma boa promoção de passagens.
— Use também bicicletas e patinetes, disponíveis em muitas cidades. Se estiver viajando com mais de duas pessoas, avalie se não é mais barato usar carros de aplicativos — indica Anelise.
PROGRAME AS VISITAS
Uma fotografia de um ponto turístico "de cartão-postal" pode custar caro, mas não se a visita for planejada com antecedência e os ingressos forem comprados pela internet. Muitas atrações conhecidas, incluindo as mais cobiçadas por turistas do mundo todo, costumam ter entrada gratuita em dias e horários determinados da semana. Vale a pena se informar antes de embarcar!
— Outra boa dica é comprar o cartão de turismo da cidade, que pode render bons descontos. Um deles, por exemplo, é o Roma Pass, que vale a pena desde que o viajante utilize os dois primeiros ingressos gratuitos em atrações mais caras, como o Coliseu ou a Galleria Borghese. Dê também uma espiada nos jornais e revistas da cidade de onde você estiver. Na Europa, lugar que respira cultura e arte, há sempre atrações e shows gratuitos — sugere Milani.
Anelise recomenda procurar cupons de desconto na internet, que são comuns em países como os Estados Unidos e até mesmo o Brasil. A economia pode chegar a 50%.
FUJA DA ALTA TEMPORADA
Nunca é demais lembrar: a alta temporada, que costuma coincidir com as férias escolares, é sempre a época mais cara e lotada. Viajar no outono e na primavera costuma ser uma opção inteligente, pois o turista foge dos preços altos e não sofre com o frio intenso.
Se o visitante não se importar com as baixas temperaturas, o inverno costuma ser a estação mais econômica em muitos destinos, com exceção daqueles onde o frio e a neve são as principais atrações. Também é importante ficar de olho no calendário das cidades, pois datas comemorativas e feriados podem encarecer as férias.
LEVE DINHEIRO
Os impostos sobre as compras com cartão no Exterior estimulam o turista a levar dinheiro em espécie. O mais recomendado é fazer câmbio antes de viajar, comprando a moeda estrangeira aos poucos e tentando evitar as altas de cotação. Antes de ir a uma casa de câmbio, pesquise – algumas até dão desconto para compras de alto valor.
— Evite câmbio em aeroportos e hotéis. É mais caro. Mas, por medida de segurança, leve também cartão de crédito, mais de um, e guarde em malas separadas — diz Ortiz.
Milani aconselha a sair do Brasil sempre com a moeda do país que irá visitar:
— Não leve euros para trocar em Londres, por libras, por exemplo, pois perderá dinheiro em duplo câmbio. O mesmo vale para outros países da Europa com moeda própria, como Rússia, Noruega e Suécia.