Enquanto os turistas lotam cidades europeias como Veneza, Barcelona e Dubrovnik, a capital sérvia, Belgrado, discretamente se posiciona como uma metrópole balcânica divertida e receptiva. Os chefs apostam em versões criativas para a culinária tradicional, os principais museus já voltaram a funcionar, após reformas inesperadamente longas, e a antiga capital iugoslava só está esperando que o mundo a descubra.
A Iugoslávia era um conglomerado fascinante de eslavos meridionais – que é o significado literal de “Jugoslavia” – e o museu homônimo leva o visitante do reino pós-Primeira Guerra Mundial até o país socialista pós-Segunda Guerra, liderada pelo ditador Josip Broz Tito, que manteve a federação unida e pacífica até sua morte, em maio de 1980. Já faz quase 40 anos que Tito morreu, o que faz desta época uma boa hora para visitar o Museu da Iugoslávia. Estão lá presentes que o líder recebeu e até seu túmulo – solenemente revestido de mármore, sob um teto de vidro, na chamada Casa das Flores.
O popular Museu Nacional foi fechado em 2003 para reformas e ficou desativado tanto tempo que foi um alívio quando reabriu, em 2018. Situada em um prédio neoclássico, a instituição está dividida em três andares de obras magníficas, incluindo artefatos da era romana encontrados na Sérvia, pinturas de nomes como Tintoretto, Monet e Renoir, e obras do século 20 dos pintores e escultores iugoslavos Marko Murat, Nadezda Petrovic e Ivan Mestrovic.
A culinária é uma exposição à parte. Desde 2014, o restaurante Manufaktura, com decoração industrial chique, serve pratos substanciosos. Ameixas enroladas em bacon, linguiças da Eslavônia, na Croácia, goulash da Vojvodina, no noroeste da Sérvia, e tábuas de queijos de todas as partes do país compõem o cardápio que delicia qualquer carnívoro. Para aliviar o remorso de fazer disparar o nível de colesterol, peça a salada shopska, com pepino e tomates picados cobertos por queijo de cabra gratinado. O almoço para dois, com vinho, sai por 3 mil dinares (R$ 120).
O destaque do Bar Sasa, inaugurado em 2017, são os filés. O de costela e a bisteca, por exemplo, passam por 21 dias de maturação. Mas há outras opções: o brunch de fim de semana é um bufê com opções como lombo de porco assado, guisado, espetinhos de frango e uma quantidade respeitável de carnes curadas. Se quiser provar uma especialidade balcânica, experimente a pljeskavica, um bolo de carne moída recheado de queijo. Aqui, essa comida de rua chega à mesa coberta com pimentão vermelho recheado com queijo cremoso, o kajmak.
Gastro pub aberto há dois anos, o Endorfin é especializado em comida afetiva. A sugestão são os pratos de inspiração balcânica com toques modernos: o queijo Miroc, das montanhas do leste da Sérvia, grelhado e coberto com um fio de mostarda e mel; o cevapi, a mistura de carne moída em forma de charuto, macia e suculenta, feita aqui com cordeiro; e língua de vitela com beterraba, em uma deliciosa brincadeira de texturas que talvez faça seu nível de endorfina subir ao teto ao fim da refeição. O jantar para dois, com bebidas, sai por volta de 4 mil dinares.
A tradição da rakia
Nos Bálcãs, muita gente produz sua própria rakia, um conhaque à base de ameixa. Mas Branko Nesic resolveu oferecer uma bebida de qualidade superior. Assim surgiu, em 2006, o Rakia Bar. Lá, o conhaque é envelhecido em barris de carvalho por até 10 anos, o que lhe dá um sabor mais profundo e complexo.
Nesic também abriu a Belgrade Urban Distillery, no Mercado Beogradski, ponto badalado com estandes de comida de rua, roupas vintage e uma loja de discos. Dá para provar 23 variações da bebida na destilaria – feitas de ameixa, marmelo, maçã e damasco, entre outras frutas – ou comprar uma garrafa para levar para casa.