Por quase 40 anos a partir do final do século 19, uma rica e misteriosa viúva chegada de Connecticut atiçou a população de San José, na Califórnia. Ela pouco era vista pela cidade, vagava lamuriosamente pelos jardins da residência e tinha uma obsessão: ampliar incansavelmente a sua mansão. Sarah Winchester herdou a fortuna de US$ 20 milhões do marido, o magnata da indústria das armas William Winchester, e dedicou boa parte do dinheiro às reformas.
Rumores espalharam-se, e logo a comunidade descobriu o motivo: Sarah se dizia atormentada por espíritos de vítimas das espingardas Winchester e ouvira de um médium que precisaria ampliar a casa pelo resto da vida para confundir os fantasmas. Só assim escaparia da maldição que perseguia a família (ela e o marido haviam perdido uma filha poucas semanas após o nascimento).
Em muitos locais, o casarão teria sido demolido e esquecido, mas, bem, estamos nos Estados Unidos, e a mansão virou um popular ponto turístico. Diariamente, os estreitos corredores da Winchester Mystery House recebem centenas de visitantes, que se espremem nas escadas em ziguezague e fotografam portas e janelas que levam a lugar nenhum.
— Não se afastem do grupos durante a visitação: quem fica para trás jamais é visto novamente — alerta o guia.
O terremoto de 1906
Guias são vitais por causa da característica labiríntica da casa. Construída entre 1886 e 1922, ano da morte de Sarah, em arquitetura vitoriana, a mansão tem 160 quartos, 10 mil janelas, 2 mil portas, 47 escadarias, 17 chaminés e 13 banheiros.
Muitos quartos são minúsculos e acessados por portas secretas. Outros são bizarros. A visitação passa pelo quarto onde Sarah morreu (diz-se que enquanto dormia), com mobília idêntica à da época e uma foto da viúva. Há uma parada na sala onde todas as noites havia sessões mediúnicas, em busca de contato com o marido e a filha. Apenas a viúva tinha a chave do cômodo.
Não bastassem as ameaças sobrenaturais, a mansão foi abalada pelo terrível terremoto de 1906 na Califórnia, que alcançou oito graus na escala Richter. No quarto onde a proprietária estava, as paredes se desmancharam, a lareira desabou até o andar debaixo e os vidros estouraram. Um espírito, então, a alertou: era um castigo por ter dedicado muita atenção a uma ala da residência, deixando as outras inacabadas.
A mansão também traz símbolos das crenças de sua misteriosa dona. Muitos detalhes nos tetos e nos vidros somam o número 13, uma forma de proteção contra entidades malignas.
A casa e o filme
- A Winchester Mystery House funciona diariamente, a partir das 9h (o horário de fechamento varia). Ingressos a US$ 39. O passeio termina em um jardim, onde turistas fazem selfies com estátuas. Pode-se brincar em uma máquina de cartomante e testar tiro ao alvo com espingardas Winchester. Mais informações em winchestermysteryhouse.com.
- Em 2018, a atriz Helen Mirren interpretou Sarah no filme A Maldição da Casa Winchester, dirigido por Michael Spierig.
*O repórter viajou a convite de Intuit/QuickBooks