Caminhar pelo centro de Erechim, no norte gaúcho, é um passeio pela história recente do Rio Grande do Sul. A região, que começou a ser colonizada em 1908, recebeu imigrantes saídos das antigas colônias, na Serra.
O Estado implantou ali a primeira colônia baseada no pensamento positivista, com um modelo detalhadamente estruturado. As ruas são largas, e a paisagem urbana é guiada pelo art déco, estilo arquitetônico em que as linhas das fachadas são marcadas por rigor e precisão. Aliás, por lá, todo o centro foi desenhado com muita atenção. É da Praça da Bandeira, o coração da cidade, que partem as 10 principais avenidas.
Nossa primeira parada foi logo na entrada do município, no Colosso da Lagoa. O estádio é o maior do interior gaúcho e, quando construído, nos anos 1960, tinha capacidade para abrigar toda a população de 20 mil pessoas. Um dos atrativos é uma bola estática, considerada a maior do mundo, com três metros e meio de diâmetro.
Seguindo viagem, o próximo destino foi o interior do município, no Vale do Dourado. Começamos com uma parada no Santuário de Nossa Senhora da Santa Cruz, um lugar silencioso que nos acolhe com aconchego. O pedreiro Ernani Roesler mora em Santa Catarina, mas passa toda semana por lá.
– É gostoso e silencioso, para fazer oração e se concentrar um pouco, pensar na vida – diz ele, que aproveita para levar água fresca da fonte para casa.
A dica é reservar um tempo para relaxar e descarregar o estresse do dia a dia no santuário, que está sempre aberto e tem entrada gratuita. Mas muita gente vai para lá por um motivo que vai além dessa tranquilidade que encontramos. Os devotos acreditam que, na década de 1990, Nossa Senhora teria aparecido a uma agricultora nesse sítio. Um dos sinais que deixou foi uma cruz. Segundo os jornais da época, ela teria sido destruída várias vezes, mas sempre voltou a ocupar o mesmo lugar.
– Minha mulher tinha problema de rim. Eu pedi uma graça, e foi alcançada. Por isso, cada vez que eu passo aqui, tenho que dar uma chegada – conta Vilson Casassola, de Aratiba, distante cerca de 40 quilômetros dali.
Ainda no Vale do Dourado, nosso roteiro seguiu a pé. Há três opções de trilha, e nós escolhemos a mais leve, a Trilha da Água, de 1,5 quilômetro.
Por várias vezes, ao longo da caminhada, passamos por riachos e “tomamos um banho de floresta”, como nossa guia, Dila Malacarne, costuma chamar. É uma forma de eliminar o estresse e o cansaço e buscar o equilíbrio do corpo. O passeio guiado custa R$ 25.
Pelo caminho, vamos sentindo a natureza, os aromas e, principalmente, o barulho de água, música para embalar qualquer meditação. Uma das propostas de fazer esse percurso a pé é justamente poder terminar a trilha e parar um tempinho para aproveitar as vibrações da floresta, o contato com a mata. Dá para tirar os calçados e colocar os pés na água.
Seguimos viagem em um ritmo tranquilo, porque nossa próxima parada também serve para relaxar: os pesque-pague. Nem precisa gostar muito de pescar para se sentir à vontade nesse ambiente. A entrada é liberada – só se paga pelo peixe que levar para casa. São 10 espécies, entre carpas, jundiás, tilápias e traíras.
Gastronomia farta
Ainda no Vale do Dourado, paramos no Empório Moinho de Pedra. A construção, com características portuguesas e holandesas, oferece uma variedade de produtos orgânicos. É do moinho de pedra, por exemplo, que sai a farinha de milho utilizada no preparo da maior parte dos bolos. O lugar tem um cardápio típico das comidinhas feitas pelas vovós antigamente: fregolá, fubá, biscoitos, queijo, salame. E, com o inverno chegando, tem até brodo, batata-doce e pinhão. O bufê livre custa R$ 29.
Se você preferir, dá para aproveitar a farta gastronomia oferecida pelas cantinas. Nossa opção foi a Slongo, que fica em uma casa com mais de cem anos que já abrigou quatro gerações.
Os antigos equipamentos para o rebanho no campo hoje servem de decoração, como uma trilhadeira de trigo e uma bomba de água, que também era usada para carregar o vinho nas pipas. No sótão, um pequeno museu preserva os antigos objetos da família.
A comida é preparada à moda antiga e bem característica da cultura italiana: sopa com brodo de galinha caipira, polenta brustolada, fortaia, queijo e salame. Por R$ 40, são 15 pratos, mais suco de uva e vinho, produzidos ali mesmo.
– O italiano gosta de comer bastante e comer bem. Por isso, a gente faz uma fartura para que as pessoas saiam daqui muito bem saciadas – diz a chefe do restaurante, Marlene Slongo.
#PartiuRS é uma série multimídia que mostra as belezas do Estado. Além do ZH Viagem, a série pode ser acompanhada aos sábados, no Jornal do Almoço, da RBS TV, no Supersábado, da Rádio Gaúcha, e em um site especial no G1. A coordenação é de Mariana Pessin (mariana.pessin@rbstv.com.br)