O baixo nível da Lagoa dos Barros, em Osório, revelou uma extensa faixa de areias brancas outrora submersa no Litoral Norte. Visível - e vizinha - da freeway, a orla contorna a Prainha da Puxada da Água e a Praia da Santinha, balneários de água doce e com temperatura morna. Na tarde do último sábado (22), a sensação era de banho em uma piscina aquecida, compara o operador de máquinas Elisson Leandro Bastos, 33 anos.
— Mil vezes melhor que o mar — garante.
GZH “perseguiu” o que, observado da rodovia federal, pareciam dunas e descobriu que a margem de areia se expandiu comparado a temporadas passadas. A percepção é confirmada por locais, que todos os anos trocam o mar pela água doce, e também pelo secretário municipal de Desenvolvimento e Turismo, Eduardo Pellegrini. Com mais espaço, ele estima que o público ultrapasse 4 mil pessoas em um final de semana.
— Aqui temos essa possibilidade, de unir natureza, esporte, lagoa e mar. E como cresceu a procura pelas praias da Lagoa dos Barros, ampliamos a estrutura — afirma Pellegrini.
Nos dois pontos, a reportagem encontrou banheiros químicos e placas que alertam sobre a presença de bombas de sucção usadas no sistema de irrigação das lavouras de arroz do município - estas áreas são cercadas, e não foi flagrada qualquer invasão do perímetro proibido.
Com o aumento do espaço de lazer, cresceu também o interesse de micro e pequenos empreendedores.
— A gente é de Osório, já conhecia a prainha e, como vimos que tem muita gente aos finais de semana, decidimos colocar o food truck. Tem pastel e crepe — explica Valesca Vieira Remos, 45 anos, no recém instalado “Delícias Sobre Rodas”.
Nos primeiros dez metros, a profundidade do lago na Prainha da Puxada da Água não alcança meio metro. Na Santinha, o nível é pouca coisa mais elevado. Adiante da margem, em ambos balneários, banhistas tinham suas cadeiras submersas, mantendo a água até a altura do peito. De acordo com a prefeitura, não há registros de afogamentos na região.
— As pessoas entram, vão lagoa adentro, e quase não muda a profundidade. Não tem mesmo, nenhum registro, mesmo sem guarda-vidas no local — complementa o secretário, reforçando que a região tem balneabilidade atestada pela Fundação Estadual de Proteção ao Meio Ambiente (Fepam).
Bancos de areia criam uma espécie de “camarote” para as espreguiçadeiras, e pequenas vertentes cristalinas surgem no caminho, espalhando córregos de banhos quase termais. Guarda-sol também tem as pontas molhadas, nada incômodo a Letícia, Ivanete, Larissa e Domingos Brum.
— Às vezes vamos ao mar, mas lá a água é muito gelada. Aqui é mais gostoso — explica o patriarca da família Brum.
No final da tarde, o vento fica mais forte, e a prática do kitesurf ganha força, especialmente nos sítios e demais propriedades com acesso privativo do entorno.
Uma mais tranquila, outra semelhante ao Cassino
Puxada da Água é a menos movimentada, o que a torna mais atraente para a corretora de seguros Silmara Brancalhão, 39 anos.
— Aqui é mais tranquilo, as crianças podem brincar, a gente tem espaço de sobra, principalmente agora, que estamos fugindo de locais aglomerados, pela covid — diz, ao lado dos três filhos.
Parte dos frequentadores optou por piquenique nos bancos ou com os alimentos no porta-malas. Mesmo com dezenas de veículos na faixa de areia, não havia lixo espalhado pelo chão. Em esparsas sombras ao lado da rodovia, churrasqueiras queimavam o almoço tardio, às 15h.
O acesso da Puxada da Água é pelo quilômetro 98 da RS-101, 2 mil metros de distância da rótula com a popularmente chamada “Estrada dos Cataventos” (continuação da Estrada do Mar que passa sobre a RS-030). Do Parque Eólico, está a 5 quilômetros, o que proporciona o cartão postal com as imensas hastes no horizonte.
A badalada Santinha ganhou esse nome porque, para chegar até ela, é necessário entrar em uma estrada vicinal que guarda uma imagem de Nossa Senhora. A rua dá acesso ao distrito de Passinhos, próximo ao km 105 da RS-101, nove quilômetros mais distante da freeway do que a prainha anterior. Há placas orientando o caminho.
Uma característica que lembra a beira-mar da Praia do Cassino, litoral sul do Estado, é vista na Santinha: a fila de automóveis enfileirados. No sábado, havia carros lado a lado em uma extensão quilométrica, ultrapassando – com boa margem de erro - uma centena de veículos. Quem chegou antes das 8h, não acreditava no potencial de lotação da praia.
— É minha primeira vez. Fui visitar meus pais e aceitei o convite pra se refrescar. Chegamos 7h45, não tinha ninguém, e agora tá muito cheio, olha pra lá — aponta, sem enxergar o último para-brisas, o gestor de marketing Maiquel Pacheco, 43 anos.
A família Pacheco deixou Capivari do Sul, a meia hora de viagem, para pernoitar na Santinha. O caminhão Ford F-1000, ano 1978, virou dormitório, cozinha e sala. A xepa garantiu café, almoço e janta, festeja o motorista Itamar Pacheco, 65 anos.
— Vai sair uma galinha caipira, e vamos comer aqui, nessa mesa improvisada. Como a areia tá bem maior, porque a água recuou, deu pra instalar o puxadinho — explica, ao lado da esposa, Mara Rosângela Ferreira da Silveira, 58.