Palco da abertura do Campeonato Gaúcho de Futebol há 13 anos, o Estádio Municipal de Cidreira, no Litoral Norte, conhecido como Sessinzão, segue definhando em meio à areia e com o futuro indefinido. Após idas e vindas entre reformas emergenciais, interdição e volta ao abandono, o destino do complexo com 24 anos de história deverá ser decidido na Justiça. Cercado por pequenas montanhas de lixo, o estádio se tornou um incômodo para moradores e para a prefeitura, que não consegue achar uma solução para a estrutura.
Dentro do processo que culminou com a interdição do Sessinzão, em 2010, o Ministério Público do Estado (MP-RS) pediu na Justiça a demolição do estádio, em junho de 2019. Na argumentação, o MP-RS citou as más condições da estrutura, a não adequação do local e os indícios de uso do campo para partidas amadoras de futebol, além da presença de pessoas que usam o complexo como moradia. A Justiça abriu prazo para a prefeitura de Cidreira se manifestar sobre o pedido do MP-RS no processo, o que não ocorreu até o momento.
Segundo o MP, o município "retirou os autos em carga em 12 de julho de 2019, não tendo devolvido até a presente data, em que pese intimado para tanto, sob pena de busca e apreensão dos autos em 04 de setembro de 2019". O procurador de Cidreira, Erovani Rodrigues Neto, afirma que o processo ainda não foi entregue "em razão do estudo pela administração do que será proposto nos autos". Destacando que ainda ocorre o recesso do Judiciário, Rodrigues Neto estima que o documento, com a manifestação da prefeitura anexada, será encaminhado em breve. Caberá ao Judiciário decidir pela demolição ou não do Sessinzão.
O prefeito do município, Alex Contini (PP), afirma que, neste momento, a demolição do Sessinzão seria o cenário mais próximo em razão do mau estado de conservação do estádio e do posicionamento do MP-RS. No entanto, a prefeitura afirma não ter dinheiro para bancar os cerca de R$ 1 milhão necessários para colocar a estrutura abaixo e realizar o descarte dos entulhos, respeitando as leis ambientais. Reconhecendo que é a hipótese mais difícil de concretizar, o chefe do Executivo não descarta uma eventual reforma e reativação do espaço, tocadas por algum interessado do setor privado:
— Seguindo o que é determinado pelo Ministério Público, o estádio terá de ser tombado, ele não tem mais chances, pelo município, de reativação. Logicamente, se existir algum empresário interessado no espaço físico pelo uso de 20 anos, nós temos uma licitação deserta onde podemos fazer um contrato.
A prefeitura chegou a usar apenas o campo do estádio para atividades esportivas amadoras, isolando as arquibancadas e demais áreas do complexo. Mas a falta de Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI) e o risco de a estrutura ruir acabaram barrando a investida, em 2019.
Por que fizemos esta matéria?
Há muitos anos, Zero Hora acompanha a situação do estádio Sessinzão. A reportagem voltou ao tema após receber a informação de que uma ação do Ministério Público do Estado solicita a demolição do local. A continuidade do descaso com o complexo, que acaba atrapalhando a vida das pessoas que moram no entorno, também motivou o retorno ao assunto.
Abandono e lixão a céu aberto
Quem contorna o estádio percebe colunas descascando, perdendo boa parte do concreto, deixando a armação de metal, enferrujada pela chuva e pela maresia, à vista. O campo, que um dia foi coberto por grama verde, está tomado por mato e espinhos, que machucam os pés de quem não calça tênis ou sapato. Mesmo com a maioria dos portões de acesso bloqueada por paredes de tijolos, alguns moradores de rua usam partes do local como moradia, ignorando os riscos estruturais.
Boa parte do entorno do estádio, coberta por vegetação e areia fina, é usada como depósito de lixo irregular. Bastam alguns minutos no local para observar carros e carroças parando nas vias que contornam o complexo. Em seguida, seus ocupantes despejam todos os tipos de tralhas, como resquícios de móveis, colchões velhos, restos de demolição e até grama cortada em outras localidades.
Morando em frente ao estádio há cerca de um ano e meio, o funcionário público Marcelo Almeida, 48 anos, diz que o aglomerado de concreto acaba prejudicando a comunidade do entorno:
— É lastimável. Fica feio para a população em geral esse lixo aí na volta, chamando insetos. É triste ver o estádio assim. Ele poderia até estar trazendo investimento para dentro de Cidreira.
O secretário de Turismo da cidade, Fabio dos Santos, afirma que o lixão a céu aberto que está cercando o estádio é um dos grandes problemas de Cidreira hoje. Santos destaca que a prefeitura já tentou driblar a ação das pessoas no local, mas sem sucesso.
— A prefeitura já fez várias ações. Já colocamos um contêiner lá e não deu certo. Colocaram fogo no contêiner. Colocamos placas, abrimos um ecoponto, fizemos campanhas para que as pessoas não coloquem lixo lá, mas não tem jeito. Hoje, o lixo no entorno é um problemão para a cidade — diz.
O prefeito de Cidreira garante que o município seguirá tentando conscientizar a população para acabar com o descarte de lixo no local. Segundo Contini, existem licitações abertas para a criação de três novos ecopontos para descartes de resíduos. Um desses pontos de coleta seria instalado no entorno do estádio.