Logo ali, a cerca de 3 quilômetros do Balneário Dunas Altas, na praia de Quintão, escondem-se áreas de beleza quase intocadas e água com características bastante peculiares. Localizada em uma região entre o mar e a Lagoa dos Patos, Palmares do Sul é um prato cheio para quem prefere água doce a salgada. Há pelo menos 10 lagoas no município. Embora algumas fiquem dentro de propriedades privadas, há opções disponíveis à população em geral.
Caracterizadas pela água limpa – de temperatura agradável – e entorno repleto de natureza – de gramados a dunas –, essas porções de água fazem parte de uma formação recente, datada de 5 mil a 10 mil anos atrás, explica o biólogo Cassiano Alves Marchett, que fez seu mestrado sobre as lagoas costeiras do Rio Grande do Sul, categoria em que se enquadram as de Palmares.
— Elas têm um aspecto bem particular: quase todas as lagoas costeiras do planeta são de água salgada ou salobre. Nessas de Palmares, com pouquíssimo tratamento, a água pode ser bebida — destaca o biólogo.
A bióloga e doutora em biogeografia Rosane Lanzer diz que esse fenômeno ocorre porque, nessas áreas, há apenas a saída de água para o oceano, sem entrada de água salgada.
— As nossas lagoas são formadas por água da chuva e do lençol freático — justifica.
Para além dessas peculiaridades que tornam o ambiente ainda mais interessante, o cenário ao redor também é de encantar. Abriga peixes, aves e alguns animais que não fazem parte do nosso dia a dia, como jacarés e capivaras. A vegetação é marcada por figueiras e butiazais em terra e aguapés e juncos nas águas.
Lembrada pela cultura do arroz, gado e, hoje, da soja, Palmares tem riquezas que vão além das lavouras, mas que ainda são pouco exploradas. GaúchaZH visitou alguns desses pontos e mostra um roteiro. Antes de pegar a estrada, além de conferir as dicas da reportagem, vale o alerta: a sinalização no local é precária, é preciso investir no boca a boca com moradores para descobrir as riquezas da região.
Passeio de barco
O roteiro começa em um ponto nada convencional de Palmares dos Sul: a casa de Carlos Alberto Santos Teixeira, conhecido como Carlinhos. Erguida sobre 40 galões de água, a residência flutuante, de 10m x 5m40cm, é atração à parte. Ali, às margens do Rio Palmares, o pescador divide o dia a dia com o fiel companheiro, Marujo, vira-lata com cara de Beagle, de um ano e três meses.
— Ele é um baita parceirão — conta o pescador, que vive na casa flutuante há três anos.
E o cão é mesmo. Participa do dia a dia do dono e o acompanha na atividade que exerce hoje: levar grupos para pesca pelas lagoas da região ou até mesmo ensiná-los a pescar.
— Agora, não pesco mais para vender. Comecei levando as pessoas para passeio de um dia e, agora, faço pacotes — conta.
O roteiro feito pela reportagem saiu de trás da cooperativa de arroz do município. De lá, foi em direção à Lagoa do Casamento, parte superior da Lagoa dos Patos. No trajeto pelo rio até a lagoa, o cenário é de paz: muito verde, aves lindas, aguapés e raros indícios de civilização. Essa porção de água fica 3 quilômetros distante do ponto de partida. Suas águas a perder de vista não são fundas, têm cerca de 2m de profundidade. Ilhotas e frações de terra no meio da lagoa são um belo convite para um banho. De lá, é possível avistar a Ilha Grande e Itapuã.
Normalmente, Carlinhos fecha pacotes com grupos que desejam passar o fim de semana nas águas – o barco tem camas e banheiro. Para esse tipo de serviço, ele cobra R$ 1,2 mil. Os passageiros precisam levar as refeições – ele disponibiliza água e gelo. Passeios apenas para turismo e banho nas águas custam R$ 150 por dia. Os roteiros podem ser combinados pelo telefone (51) 99790-4636 e os valores são referentes a grupos de 10 pessoas*.
Ilha Grande tem natureza intacta
Localizada no encontro da Lagoa do Casamento e do Rio Monjolo, a Ilha Grande é uma porção de terra com extensão de 1,8 mil hectares. A área, que já teve ligação com a terra, preserva uma natureza intacta que serve de moradia para a aldeia Guarany Tekoa Yryapu, levada para lá há cerca de seis anos, e diversos animais.
— Há cavalos e gado selvagem, javalis, capivaras — enumera o secretário do Turismo de Palmares, Roger Jesus da Silva.
A flora contempla palmeiras, figueiras, orquídeas e árvores frutíferas. O tempo gasto para chegar à ilha é de duas horas para ir e mais duas para voltar em barcos de pescadores. Conforme Silva, com a inclusão de Palmares no Mapa do Turismo Brasileiro, em 2018, a ideia é explorar mais a região, com a oferta de roteiros para a ilha. Carlinhos também faz o passeio para passar o dia neste local – custa R$ 500 para até 10 pessoas.
Kitesurfe nas lagoas
Região privilegiada pelo vento e pela quantidade de lagoas, Palmares do Sul é um point perfeito para praticantes de kitesurfe ou aspirantes da atividade.
— Aqui tem muita lagoa. Se não está ventando em uma, vamos para outra — comenta Túlio de Azevedo, sócio da escola de kite Wind Coast.
Quem já tem conhecimento na prática pode se juntar à turma da escola, que costuma deslizar pelas águas da Lagoa do Capivari ou do Bacupari. Aqueles que desejam aprender a manejar os equipamentos, podem fazer aulas com eles. O curso de 16 horas custa R$ 1,8 mil. Mais informações pelo telefone (51) 99770-4777 ou por este site.
Ponte imperial, um caminho para o passado
Construída por escravos com barro e pedras, a Ponte Imperial foi concluída em 1852. Ela servia para escoar a produção de charque de Mostardas. Com três arcos, como na ponte porto-alegrense, a arquitetura da obra traz referências açorianas.
Em janeiro de 1991, a ponte ruiu e, hoje, seus escombros descansam sobre as águas do Rio Palmares, cobertos pela vegetação. Para visitar o que restou da estrutura histórica, é preciso ingressar em uma propriedade fechada – não há custo. Fica localizada ao lado da ponte sobre o Rio Palmares, no trecho estadual da BR-101.
Lagoas da Lavagem e da Porteira
Embora não haja uma estrutura própria para receber turistas e sequer sinalização, a Lagoa da Lavagem é uma das opções mais reservadas para passar um dia. Para encontrar as água é preciso pegar estrada de chão que leva à praia de Quintão.
Do centro do município até a estrada de acesso à lagoa, são cerca de 20 quilômetros. Depois, é preciso seguir por mais 3 quilômetros por dentro da mata até chegar ao local. Embora sossegada, o trajeto não tem placas e não há qualquer tipo de estrutura para turismo. Essa lagoa é usada para retirar água para as lavouras de arroz.
Ao fundo da Lavagem, esconde-se a maior lagoa da região: a da Porteira. Para visitá-la, é necessário trafegar pela mesma estrada de chão, rumo a Quintão, e ingressar no Camping Dunas Altas. Bem estruturado, o local tem cabanas para alugar e espaço para camping.
Quem aproveitou um sábado de janeiro para conhecer o local foi a dona de casa Liliam Leite, de Canoas. Junto da família, ela passou o dia às margens da lagoa da águas calmas e mornas.
— É tão lindo que estávamos pensando em voltar no Carnaval — conta ela, que ficou sabendo da lagoa pela sogra, proprietária de uma casa em Magistério.
— Dependendo da água do mar, é melhor aqui — completa.
Os preços para usar a infraestrutura variam de R$ 10 a R$ 15 por pessoa para passar o dia e de R$ 10 a R$ 30 por pessoa para utilizar as cabanas. O funcionamento do local é das 7h às 23h. Para mais informações, o telefone é (51) 99674-4345.
Do camping até o Balneário de Dunas Altas, são 3 quilômetros de viagem. Até o centro de Quintão, somam-se 10km.
*Além das opções de passeios apresentadas na reportagem, a Secretaria de Turismo de Palmares disponibiliza o telefone (51) 3668-3273 para quem quiser buscar mais sugestões.