O fechamento de uma das mais tradicionais colônias de férias do Litoral Norte, nesta temporada, marca também o fim de uma era na praia de Rainha do Mar, município de Xangri-lá.
A antiga colônia dos funcionários do Banrisul, que nos últimos anos funcionava como restaurante e hotel abertos ao público, ajudou a moldar o balneário, atraiu frequentadores com shows e reuniões dançantes e abrigou até um governador gaúcho. A suspensão das atividades após meio século de funcionamento ergueu uma onda de saudosismo entre os veranistas.
— Isso aqui lotava ao meio-dia e de noite. O restaurante era muito bom, e à noite sempre tinha alguma programação especial aberta a todo mundo. Eu e meu marido fomos a muitos shows e reuniões dançantes — recorda a cabeleireira aposentada Clardi Ghiotto, 68 anos, que tem uma casa a uma quadra do chamado Banrimar, criado em 1963.
O caminhoneiro Adolar Orlandi, 74 anos, lembra que as mesas de pingue-pongue e sinuca eram tão disputadas por adultos e crianças quanto as mesas de refeições. Ainda hoje, tem gente que se desloca de outras praias a fim de almoçar no tradicional restaurante instalado junto à hospedaria. Deparam com portas fechadas e uma inscrição pichada em vermelho na parede: "banco/restaurante desativado". Pequenas partes do reboco já começam a cair, carcomidas pela maresia, e o mato cresce na pracinha diante do imóvel de 60 apartamentos localizado a apenas 50 metros da praia.
É um cenário bem diferente do de uma ou duas décadas atrás, quando o local recebia o então governador Olívio Dutra (1999-2002) para alguns dias de descanso e helicópteros com políticos e autoridades pousavam no campo de futebol localizado nos fundos do empreendimento — também abandonado. Como a região reúne casas de políticos, como o ex-governador Pedro Simon, era frequente a passagem de nomes importantes da política local por ali, como o próprio Simon, Alceu Collares ou Antônio Britto.
— Sempre que se ouvia um helicóptero se aproximando do campo do Banrisul, a criançada corria para ver — relembra o construtor aposentado Miguel Carrillo, 74, ao lado da mulher, Sandra Carrillo, 69, e dos netos João, sete anos, e Bartolomeu, nove.
A circulação de veranistas anônimos também rareou. Como resultado da suspensão das atividades, a presença de turistas à beira-mar nas imediações caiu em comparação a temporadas passadas. O comerciante Luiz Carlos Ribeiro, que comanda um quiosque quase na frente da antiga colônia de férias, estima que o movimento tenha encolhido em quase um terço neste verão.
— Na virada do ano, era comum a praia ficar lotada. Agora, teve bem menos gente — lamenta o comerciante.
Banrisul não se manifesta sobre fechamento do Banrimar
A direção do Banrisul, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que não se manifestaria sobre o fechamento da antiga colônia de férias em Rainha do Mar.
Em abril do ano passado, quando já havia dúvidas sobre a reabertura do local na atual temporada, o banco divulgou uma nota dizendo: "Com o término da temporada de verão, o contrato com a empresa que administrava o empreendimento foi encerrado. O projeto Banrimar será reavaliado no decorrer do ano", dizia o texto.
Nos últimos anos, a gestão do espaço havia sido terceirizada. GaúchaZH procurou os administradores do hotel e do restaurante na última temporada de funcionamento, mas o telefone celular disponível para contato estava desligado. No local, permanece apenas o segurança de uma empresa privada contratada para evitar invasões.
A maior parte dos utensílios e do mobiliário, segundo informam moradores da vizinhança, já teria sido vendida e retirada do local. Ficaram apenas as lembranças de um dos mais tradicionais pontos do litoral gaúcho.