O sol brilhou no Litoral Norte nesta terça-feira (26), mas trouxe um acompanhante pouco querido pelos veranistas: o Nordestão.
Estender a esteira na areia virou desafio para a servidora pública Viviane Vianna e a filha Maria Clara na beira do mar em Capão da Canoa. O vento quase arrancou a prancha da mão da menina de nove anos – que, com uma coragem exibida quase que só por crianças, conseguiu entrar pela primeira vez na água desde o final de semana.
— É uma aventura — disse Viviane, pouco depois de correr para ajuntar o guarda-sol que saiu voando.
O famigerado vento deve marcar presença na costa gaúcha ao longo da semana, com alguns períodos de mudança de direção, de acordo com a previsão da Somar Meteorologia. A temperatura máxima no Litoral Norte ficou em torno de 25°C nesta terça, e o chocolatão ainda não se despediu. Para piorar, a previsão do tempo para o Réveillon não é animadora: pode chover justamente entre domingo (31) e segunda-feira (1º) no Litoral.
Mas não tem condição meteorológica que tire as esperanças do setor terciário. Ivone Ferraz, presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Litoral Norte do Rio Grande do Sul (SHRBS-LN), estima aumento de cerca de 10% no movimento em relação ao último verão. Para a virada, diz que 80% dos 23 mil leitos legais já estão reservados – e acredita que pela quinta-feira (28) já vai ficar difícil encontrar quarto disponível em hotel.
— O pessoal tem que se agilizar, senão chega na virada e tem aquele montão de gente procurando vaga — acrescenta.
Ivone explica que o momento de crise no país acaba beneficiando o turismo no Litoral Norte, pois as pessoas deixam de fazer viagens mais longas, e estima a vinda de aproximadamente 1,5 milhão de estrangeiros – na maior parte, argentinos e uruguaios. Cerca de 6 mil vagas de emprego foram criadas para o verão, segundo Ivone, especialmente na hotelaria, no setor gastronômico e no comércio.
— A expectativa é muito otimista — frisa.
O comerciante Caio Pereira Machado, cuja família mantém um quiosque em Capão há 38 anos, relata que até então o verão está sendo de pouco lucro. O tempo é o culpado, na avaliação dele.
— Se não tomar uma caipirinha, não tem como ficar na praia — diz, aproveitando para fazer merchan do seu produto.
Mas a esperança é grande. Ele também acredita que haverá melhoras em relação ao ano passado.
— Estou apostando tudo na virada. Vai ser a arrancada, e aí não para.
Rede hoteleira está otimista
Além do sindicato de hotéis, GaúchaZH consultou também algumas imobiliárias do Litoral Norte e todos confirmaram as boas expectativas para a temporada.
— A maior parte dos turistas lotam as praias neste período que vai do final de dezembro até a primeira semana de janeiro, e, depois, nos finais de semana — explica Noêmia Reckziegel, proprietária da imobiliária Noêmia Central de Aluguéis, em Capão da Canoa.
Em Torres, a expectativa das imobiliárias é maior do que no ano passado. De acordo com Ederson Boxing, da EB Imóveis, quase 100% dos imóveis disponíveis para a virada do ano foram alugados. Apesar disso, o empresário garante que é provável que turistas ainda consigam imóveis na última hora ainda, mas "tem que garimpar". De acordo com a prefeitura de Torres, o município deve receber cerca de 350 mil pessoas para o Réveillon.
Em Imbé e Tramandaí, a procura está intensa. Conforme Jussara Costa, proprietária da Imobiliária Costa e Silva, que atende os dois municípios, cerca de 80% dos imóveis já foram alugados. A imobiliária tem trabalhado das 8h até as 20h para atender os turistas que deixaram para alugar de última hora.
— O que reparamos é que neste ano a procura foi mais tardia. O que nos anos anteriores já havia reservas em agosto, este ano muitos deixaram para procurar depois de novembro. Muitos clientes se organizaram e alugaram em mais famílias, para dividir o valor — explica Jussara, que trabalha há 26 anos no ramo imobiliário.
* Colaborou Paloma Fleck