Primeiros a terem os estabelecimentos fechados e uns dos últimos a retomarem as atividades por conta da pandemia de coronavírus, os proprietários de casas de festas percebem uma retomada, ainda que tímida, pela procura de agendamento de eventos em Porto Alegre.
Na terça-feira (27), a prefeitura da Capital anunciou um conjunto de medidas para incentivar o setor de eventos, um dos mais prejudicados pela pandemia. A redução do Imposto Sobre Serviços (ISS) de 5% para 2% e a extinção da Taxa de Fiscalização da Localização e do Funcionamento (TFLF) serão protocoladas como projetos de lei na Câmara Municipal. Já a isenção das taxas para eventos sem cobrança de ingressos e redução pela metade para aqueles com venda será implementada via decreto municipal. E o plano de retomada gradual de grandes eventos é uma proposta de alinhamento com o governo estadual, que foi apresentada no dia 14 de julho ao Gabinete de Crise.
Apesar de admitir que há procura por orçamentos, a proprietária da Toy House, no bairro Menino Deus, Rosângela Cardoso, segue a rotina do cancelamento de festas que haviam sido transferidas de 2020 para 2021, a partir do início da pandemia. Só nesta segunda-feira (26), foram três pedidos de devolução do dinheiro. Sem caixa, a empresária tem negociado o parcelamento dos valores.
— Hoje, 90% das festas que haviam sido repassadas para este ano estão sendo reagendadas para o próximo ano ou canceladas. Por exemplo, o cliente comprou a festa em 2019 para fazer em 2020, quando a criança completaria sete anos. Em 2022, a criança já não terá mais interesse e a família ainda não se sente confortável para fazer a festa em 2021 — revela a empresária.
Para retomar o negócio, Rosângela tem apostado em divulgação nas redes sociais. Mas as famílias ainda seguem apenas orçando para festas a partir de outubro e novembro deste ano:
— O mercado ainda está lento. As pessoas estão com vontade de fazer o evento, mas ao mesmo tempo seguem preocupadas neste momento.
Ao contrário de Rosângela, depois de aberturas e fechamentos ao longo do último ano, Bruno Centeno, um dos sócios da Ioiô Casa de Festas Infantis, afirma que o empreendimento voltou a ser procurado por clientes antigos e novos desde a retomada, em maio deste ano.
A Ioiô tem duas unidades, no Moinhos de Vento e no bairro Três Figueiras. Inaugurada no mês passado, a Ioiô Três Figueiras teve sete eventos neste mês e já conta com agendamentos para os próximos meses. Na outra unidade, existente desde 2019, há 14 eventos confirmados para agosto.
— Num único dia é possível fazer até três festas, com duas horas de intervalo entre uma e outra para a realização da higienização, que também é feita durante todo o evento. Temos clientes que haviam reagendado do ano passado para este e novos, que acabam vindo depois de participarem das festas que já estão ocorrendo — conta, entusiasmado.
Parceira de casas de festas da Capital, Ana Eliza Motta Costa, proprietária da Festa Pronta Personalizações e Eventos, que produz e decora eventos infantis, adultos e empresariais, também percebe um reaquecimento no mercado das festas infantis. Para se manter ao longo da pandemia, Ana Eliza precisou se reinventar inúmeras vezes. Com o fechamento das casas, em março do ano passado, ela criou o Festa Pronta Inbox, que consistia em uma minifesta enviada numa caixa para a casa dos consumidores. Em agosto do ano passado, a empresária criou o Festa em Casa, quando oferecia os kits prontos para os eventos familiares. Com a chegada do calor, Ana criou a Festa Piquenique, organizando os eventos em locais abertos, como parques, pátios de casa e praças. Agora, já tem procura pelas festas em áreas fechadas.
— Antes da pandemia, costumávamos decorar até 10 festas num único final de semana. Depois, parou tudo. Agora, já percebo um recomeço. Num único final de semana, decorei quatro festas num mesmo empreendimento — comemora Ana Eliza.
Ainda há empresários que optaram por manter as portas fechadas até a porcentagem de vacinação alcançar números maiores no Estado. É o caso de João Batista Bertagnolli, proprietário da Party Room Espaço de Eventos, no bairro Cascata. Ele aproveitou este momento para reformar o ambiente e prepará-lo para os eventos que já estão sendo orçados.
— Os orçamentos estão entrando para festas nos próximos meses, porque as pessoas acreditam que alcançaremos um maior número de vacinados. Já saímos do momento trágico e é possível enxergar uma luz no final do túnel, a partir de setembro — projeta, esperançoso, o empresário.
Infectologista pede cautela
De acordo com o coordenador da Vigilância em Saúde de Porto Alegre, Fernando Ritter, por enquanto, eventos infantis, sociais e de entretenimento (em bufês, casas de festas, casas de shows, casas noturnas, restaurantes, bares e similares) na Capital devem seguir os protocolos determinados pelo Sistema 3As de Monitoramento, criado pelo governo do Estado.
O médico Alessandro Pasqualotto, chefe do Serviço de Infectologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre e professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), pondera que ainda é preciso cautela com festas infantis:
— Peço um pouco de calma à população porque logo chegará o equilíbrio com base na vacinação. Não sei se é o melhor momento para começarmos a ter tamanha abertura. Acho que alguma abertura é necessária, porque a vacinação é crescente e o número de casos de covid-19 tem reduzido. Mas festas infantis significam que estaremos expondo populações não vacinadas, como os menores de idade, a um risco de ter e transmitir covid-19.
Para Pasqualotto, qualquer iniciativa neste sentido tem que ser vista como um experimento social. Ou seja, controlado. Se vai ocorrer a festa, aponta o médico, todos os participantes deveriam ser testados com PCR antes do evento, para detectar a infecção em assintomáticos.
O cenário mais seguro, de acordo com o especialista, seria um encontro social apenas entre vacinados e testados, o que não incluiria crianças. O cenário menos seguro é a reunião de pessoas não testadas e vacinadas. E o cenário sem qualquer segurança é o encontro de pessoas não testadas e não vacinadas, que inclui as festas infantis.
— Teria que se manter um período de vigilância depois destas festas e, de preferência, com testagem após o encontro. É assim num experimento, como tem sido feito em diferentes partes do mundo — justifica.
Dicas para comemorar o aniversário
- Evite reuniões que durem muitas horas.
- Limite o número de pessoas. O risco aumenta quanto maior for a quantidade de convidados.
- Evite compartilhar alimentos em tigelas, onde todos colocam a mão. Use prato único, descartável, para cada convidado.
- Se a festa for em local fechado, mantenha janelas e portas abertas e ar-condicionado desligado.
- Mantenha o distanciamento, evitando beijos e abraços. A troca de aerossóis ocorre a partir de gestos de proximidade, pois uma pessoa pode estar, sem saber, no início da infecção ou assintomática.
- Só retire a máscara quando for ingerir bebidas e alimentos, mantendo o distanciamento das demais pessoas.