Um estudo produzido por cientistas da Universidade de Harvard, do Hospital Geral de Massachusetts e de outras instituições dos Estados Unidos mostra que festas de aniversário aumentam em 31% o risco de pegar coronavírus. A pesquisa foi publicada no início de junho no prestigioso periódico científico Jama Internal Medicine.
O estudo, afirmam médicos, reforça o entendimento de que o Sars-CoV-2 não é transmitido apenas em grandes aglomerações ou festas, mas também em encontros privados, com poucas pessoas – momentos nos quais os indivíduos relaxam, retiram as máscaras, comem, bebem e deixam de praticar o distanciamento.
Os pesquisadores analisaram dados de planos de saúde privados de 2,9 milhões de famílias norte-americanas, identificaram os pedidos de reembolso para teste de coronavírus com resultado positivo e cruzaram com as datas de aniversário dos familiares assegurados. Os dados são de janeiro a novembro do ano passado.
A conclusão é de que havia 31% mais resultados positivos de coronavírus nas famílias nas quais um dos integrantes havia completado o aniversário em até 14 dias antes do pedido de reembolso para teste. O aumento leva em conta o índice de transmissão na semana da região onde as famílias moravam.
O estudo ainda averiguou se a transmissão era maior em aniversários comuns, de crianças ou de grandes datas, como de 50 anos de idade; e identificou o nível de chuva (o que levaria as pessoas a se resguardarem dentro de casa).
“Este estudo sugere que eventos que levem a encontros pequenos e informais, como festas de aniversário e, em particular, festas de aniversário infantis, são uma fonte potencialmente importante de transmissão de Sars-CoV-2”, escrevem os cientistas.
— O estudo mostra que a transmissão não acontece só em grandes eventos. Aglomeração é também com poucas pessoas que não convivem na mesma bolha. A covid é transmitida em pequenos encontros, até mesmo em um almoço de duas pessoas. Quando saímos de nossa bolha, precisamos manter o distanciamento e o uso de máscara — pontua o médico Alessandro Pasqualotto, chefe da Infectologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre e professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
O médico infectologista Cezar Vinicius Riche, do serviço de qualidade do Hospital Mãe de Deus, observa que muitos pacientes chegam à instituição relatando que se infectaram depois de uma janta entre amigos ou em contato com colega de trabalho.
Um dos possíveis motivos para que as festas de aniversário infantis tenham maior risco de transmissão, sugere Riche, é a predisposição dos pais em assegurar alguma comemoração para não deixar a data passar em branco – um pequeno “sofrimento” ao qual os adultos evitam submeter os filhos.
— É mais fácil não ter festa de aniversário de adulto do que de criança. Ou, quando é adulto, se faz algo menor e mais restrito. Outro fator é que criança tem dificuldade de usar máscara e fazer distanciamento social. Em uma festa de criança, elas se reúnem. Vão as crianças, os pais das crianças, então há mais núcleos familiares se agrupando do que em uma reunião de adultos — diz o infectologista do Mãe de Deus.
Apesar de o estudo ter sido feito em um momento no qual os Estados Unidos ainda não tinham população vacinada, os resultados se aplicam ao Brasil, onde grande parcela dos habitantes sequer recebeu uma dose e segue desprotegida. Dados do Portal Covid-19 no Brasil mostram que cerca de 41,5% dos brasileiros receberam a primeira dose e 15,7%, a segunda.
A análise é importante para todas as famílias nas quais haja integrantes que ainda não receberam o esquema vacinal completo. Vale, ainda, para qualquer tipo de reunião mais íntima, entre amigos ou familiares, além de aniversários.
— Na medida em que temos poucos vacinados, uma pessoa ou outra pode ter o vírus e transmitir. Fazer festa dentro de casa, em ambiente fechado, sem máscara, é arriscado enquanto a população não estiver mais vacinada. Peço um pouco mais de paciência à população. A vacinação melhorou muito nas últimas semanas. Teremos melhores momentos até o fim do ano. Precisamos aguentar um pouco mais — pede o médico infectologista Alessandro Pasqualotto.
Dicas para comemorar o aniversário
- Marque o encontro em um ambiente ao ar livre, como um parque, uma praça ou o pátio de casa. Evite lugares pouco arejados, sobretudo com janelas fechadas.
- Limite o número de pessoas. Quanto mais convidados, maior o risco de alguém trazer coronavírus sem saber.
- Reduza o horário do encontro. Evite reuniões que durem muitas horas.
- Evite abraços e beijos. Gestos de proximidade são propícios para troca de aerossóis. Uma pessoa pode ter covid-19 sem saber, estar assintomática ou no início da infecção.
- Use máscara. O risco de transmissão ocorre ao comer ou beber, então ingira alimentos e bebidas com distância de outras pessoas.
- Evite petiscos e comidinhas compartilhadas em potes ou tigelas, onde todos colocam a mão.
- Não compartilhe copos, pratos e talheres.
- O Rio Grande do Sul está caminhando para atingir a imunidade coletiva e controlar a pandemia em seu território. Quando isso ocorrer, o Estado viverá cenário parecido ao de outros países, com uma normalidade mais próxima. Então, os encontros serão mais seguros.