Donos de casas de festas foram os primeiros a terem seus estabelecimentos fechados por causa da pandemia de coronavírus, ficando sete meses de portas cerradas. A possibilidade de dias melhores surgiu esta semana, com a publicação do decreto da prefeitura de Porto Alegre que libera a realização de festas de aniversário, formaturas, reuniões, entre outros, desde que algumas regras sejam seguidas. A maioria dos empresários relata que a notícia pouco atiçou a clientela – que, em sua maioria, já havia adiado os festejos para 2021.
Enquanto alguns limpavam o local, outros atuavam na colocação de sinalização educativa de lavagem de mãos e de distanciamento na Casa Lúdica, na unidade Viva Open Mall. Neka Sanford, diretora da Cia Lúdica, afirma que a imensa maioria dos clientes postergou os eventos para 2021, mas dois ligaram para a companhia interessados em realizar uma festa no final deste mês e outro na segunda semana de novembro:
— Acredito que tivemos esse retorno porque as pessoas estão vendo o trabalho que fazemos. Durante a pandemia, reforçamos nossa presença no digital, lançamos festa online, modalidade de shows drive-in, fizemos músicas e clipes educativos sobre o coronavírus. Enfim, produtos que não arrecadavam o que costumávamos lucrar, mas que foram importantes para dar segurança aos pais e para nos deixar na vitrine.
Rosângela Cardoso, proprietária da Toy House, no bairro Menino Deus, viu a agenda de 30 festas por mês cair para zero em abril. E o custo de aluguel do espaço, mais a manutenção, o serviço de segurança privado, entre outros custos fixos, pesaram no bolso.
— Foram sete meses em que o dinheiro não entrou, enquanto eu tinha que honrar o pagamento dos compromissos. Tivemos que renegociar com os fornecedores, mantivemos alguns funcionários em sistema de home office, mas a maioria tivemos que afastar. Está sendo bem delicado e levaremos um bom tempo para recuperar as perdas, mas estamos esperançosos de que as coisas darão certo daqui para frente. Para 2020, ainda não temos nenhum evento, mas a agenda de 2021 já está bem lotada em função das remarcações — afirma.
A situação de Rosângela é comum a muitas pessoas do ramo de casas de festas, segundo a presidente da Associação Gaúcha de Empresas e Profissionais de Eventos (Agepes), Claudia Fattore:
Está sendo bem delicado e levaremos um bom tempo para recuperar as perdas, mas estamos esperançosos de que as coisas darão certo daqui para frente
ROSÂNGELA CARDOSO
Proprietária da Toy House
— Algumas empresas conseguiram se beneficiar com a linha de crédito do governo federal, mas a imensa maioria dos pequenos empresários não teve acesso a essa medida. Além disso, alguns clientes pediram reembolso, o que acarretou na descapitalização desses negócios. Empresas menos sólidas apresentarão mais dificuldades para voltar porque aumentará o custo de abertura das casas.
Cláudia acrescenta ainda que clientes e espaços de festa terão de passar por um acerto de ponteiros em relação ao cumprimento dos protocolos sanitários.
— As casas estão se movimentando para incluir novas cláusulas para que haja a divisão de responsabilidade no cumprimento das regras previstas no decreto. Isso está muito latente — observa.
As comemorações se reinventaram
Neste período de paralisação das atividades e adiamento de todos os festejos para 2021, João Batista Bertagnolli, proprietário da Party Room Espaço de Eventos, no bairro Cascata, optou por ações pequenas e pontuais para ter dinheiro em caixa. Em função disso, foram criadas tábuas festivas para happy hour, para café da manhã ou para ser dada de presente. Elas eram compostas por queijos, geleias, peças de charcutaria, ou ainda com uma garrafa de vinho ou uma faca gravada com o nome das pessoas homenageadas.
— Essa iniciativa não foi a nossa tábua de salvação, mas fez o caixa girar. Usei uma reserva que eu tinha e conseguimos realizar algumas vendas para 2021. O lado bom é que não precisamos pegar qualquer tipo de empréstimo ou financiamento. Para o ano que vem, estamos investindo em um projeto que irá expandir as nossas potencialidades e a área de atuação — relata.
Laura Falcão, diretora geral da Casa NTX, aposta nos bailes de debutantes:
— Sabemos que o ano que vem será de acerto e equilíbrio das contas para todos. Para nós e nossos clientes. Por isso, vamos adaptar nossos valores e fazer um preço compatível com a situação econômica do país e mais competitivo.
Sabemos que o ano que vem será de acerto e equilíbrio das contas para todos. Para nós e nossos clientes. Por isso, vamos adaptar nossos valores e fazer um preço compatível com a situação econômica do país e mais competitivo
LAURA FALCÃO
Diretora geral da Casa NTX
A proprietária da Toy House pretende, concomitante às festas presenciais, continuar investindo nos produtos que foram criados durante a pandemia:
— Não sabemos quando a vacina chegará e tem gente que não se sente segura indo a festas presenciais. Por isso, vamos permanecer com a opção de montar a festa com decoração, mesa de bolo, doces e salgadinhos na casa da pessoa. Além disso, seguiremos com o projeto de animação online na qual todos os convidados ficam numa mesma sala e o animador dita as brincadeiras e a hora do parabéns.
Enquanto uns anseiam pela retomada, outros optam pela cautela
De maneira geral, as casas ouvidas pela reportagem estão em fase de organização para a aplicação dos protocolos previstos em lei. Adesivos educativos sobre como realizar a higienização das mãos e outros que sinalizam o distanciamento foram adquiridos, e totens de álcool gel serão posicionados na entrada dos salões, além de outros equipamentos de proteção individual.
Para além dessas medidas, a Cia Lúdica criou o Detevid, personagem que ajudará na constante limpeza das mãos das crianças, conta Neka.
— Ele é um detetive que está em busca da covid-19. Por isso, fica a todo momento preocupado com a limpeza de tudo. Essa foi uma forma que encontramos de transformar esse momento da higienização, que é importante e necessário, em algo divertido, que envolva as crianças. Além disso, faremos pequenas esquetes teatrais sobre o tema — diz a diretora da Cia Lúdica.
Mesmo com a aplicação dos protocolos exigidos, não são todos os empresários do ramo e clientes que se sentem confortáveis com a volta dos eventos sociais.
O proprietário do Party Room destaca que a crise provocada pela pandemia foi um duro golpe para o setor, mas que este ensaio de retomada à normalidade ainda é ameaçado pela falta de uma imunização contra a doença. Ele pontua também que regras como máximo de cem pessoas no salão e eventos com quatro horas duração, entre outros regramentos, limitam o funcionamento do salão que ele administra, que é focado em casamentos.
— A cerimônia tem duração de uma hora e meia. O serviço de bufê, aproximadamente, duas horas. É pouco tempo para uma celebração. Além disso, o casamento, que é uma festa tão familiar, exige contato, aproximação. A montagem e serviço de casamento exige um bom número de funcionários, o que tiraria a possibilidade de convidar muita gente para uma festa significativa, como são os casamentos. Por isso, nossos clientes remarcaram seus eventos para 2021. Tivemos somente dois cancelamentos. Acreditamos que, mesmo com os protocolos, é um momento delicado porque a pandemia ainda existe — afirma Bertagnolli.