Com a chegada da pandemia, o álcool em gel voltou a figurar entre os itens mais procurados pelos brasileiros. Pela facilidade de higienização, ele ficou ao alcance dos pequenos e fez com que aumentassem as chances de acidentes domésticos envolvendo o manejo incorreto deste produto químico. Em razão disso, pipocam nas redes sociais histórias de mães e pais que relatam estes incidentes.
Claudia Bica, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e especialista em biossegurança, explica que as crianças têm a pele mais sensível e que o álcool, quando em contato com o olho, pode irritar e causar lesões.
— O álcool é um produto químico, então, ele exige cuidados no manejo e no armazenamento. Obviamente, o álcool em gel é mais seguro do que o na versão líquida, mas se a criança coloca esse material em contato com a mucosa dos olhos, os prejuízos podem ser grandes — afirma ela.
Pedro Carlos Carricondo, diretor do pronto-socorro do Hospital de Oftalmologia do Hospital das Clínicas de São Paulo, alerta que a versões de álcool em gel em tubinhos com botão são mais perigosas para os pequenos. Isso, porque eles não têm muita coordenação motora e força:
— Com isso, eles acabam segurando o pote na parte de baixo e, muitas vezes, deixando a saída do bico dosador voltada para o rosto. Isso pode fazer com que o esguicho de álcool alcance os olhos deles. O ideal é que o uso seja supervisionado pelos pais e que sejam ofertados às crianças potinhos sem essa espécie de botão. Optar por potes simples, de rosca, é uma boa alternativa.
Cuidado com os olhos
Ele ressalta ainda que a mucosa dos olhos é um tecido extremamente frágil a agressões externas. Logo, uma vez que este produto químico entra em contato com esta parte do corpo, ele pode causar queimaduras.
— As lesões podem ser de diferentes tipos. Há a possibilidade de causar a perda do epitélio da córnea, queimaduras, que nos casos mais graves, ocasionam a perda de visão. Pode provocar também a perda da transparência da córnea, o que pode levar o paciente para a fila de transplante, entre outros. Em casos mais raros, quando o olho não é cuidado, o indivíduo pode desenvolver atrofia da íris e catarata — explica.
Claudia ressalta que, caso seu filho tenha derramado esse produto nos olhos, a primeira coisa a se fazer é limpar bem o local:
— Tem que lavar com bastante água corrente. Literalmente, colocar dentro do olho e deixar circular, evitar deixar qualquer resquício do material dentro do olho e, na sequência, procurar um médico oftalmologista.
Carricondo alerta para outros tipos de perigo.
— A mucosa da boca também é bastante sensível. Se a criança ingere o álcool, ela pode ter queimaduras no esôfago e intoxicação aguda por álcool. Contudo, essa é uma situação mais rara, porque o gosto do álcool é ruim. Por isso, é importante não torná-lo esteticamente agradável. A indústria não deve colocar cores diferentes ou essências neste material porque ele pode se tornar ainda mais atrativo para crianças e não é isso o que queremos, porque os riscos serão altos.
Medidas de primeiros socorros, segundo a professora da UFCSPA
- Em caso de inalação, remova a criança para um local ventilado.
- Se em contato com os olhos, lave imediatamente a área com bastante água, por 15 minutos, e procure um oftalmologista.
- Em caso de ingestão, beba imediatamente bastante água e procure um médico.