Além da pandemia de coronavírus, 2020 deverá ficar marcado na história como o ano em que uma discussão urgente tomou, enfim, proporções globais: o racismo.
Desde maio, com a morte de George Floyd, 46 anos, cidadão negro norte-americano assassinado por um policial branco, houve uma explosão de manifestações antirracistas pelo mundo. No Brasil, onde o racismo é uma chaga antiga, outros casos emblemáticos mobilizaram o debate: a morte de João Pedro, 14 anos, que levou um tiro dentro da própria casa durante uma operação policial no Rio de Janeiro, também em maio, e, mais recentemente, o caso João Alberto Freitas, homem negro espancado até a morte dentro do estacionamento do supermercado Carrefour, no bairro Passo D'Areia, zona norte de Porto Alegre, na noite do último dia 19, véspera do Dia da Consciência Negra.
Se esses não parecem casos óbvios de racismo, ativistas e estudiosos da realidade racial brasileira fazem um convite para que se olhe mais a fundo. Para além de as pessoas mortas nesses casos serem cidadãos negros vitimados por pessoas brancas, há uma questão mais entremeada na realidade dessa população: o racismo estrutural.
A conscientização sobre o racismo estrutural, apesar de ter tomado força devido aos eventos recentes, não é uma luta nova. E, como um problema global, mas especialmente evidente em países marcados pela desigualdade, como o Brasil, não pode ser uma causa apenas da população negra.
Na obra intitulada O que É Racismo Estrutural?, o advogado e estudioso da teoria social Silvio Almeida explica que o racismo é, sempre, estrutural: um elemento que integra a organização econômica e política da sociedade. O racismo, assim, é tido, para o autor, como manifestação “normal” de uma sociedade, e não um fenômeno patológico ou que expressa algum tipo de anormalidade. O racismo fornece o sentido e a lógica para a reprodução das formas de desigualdade e violência que moldam a vida social contemporânea, explica Almeida.
“Todo o racismo é estrutural porque o racismo não é um ato, o racismo é um processo em que as condições de organização da sociedade reproduzem a subalternidade de determinados grupos que são identificados racialmente”, definiu o autor.
Um exame dos números, por exemplo a proporção de negros e brancos que frequentam a universidade ou então de pessoas assassinadas pela polícia (quantos são negros e quantos são brancos) costuma deixar evidente o racismo estrutural de uma sociedade. No caso do Brasil, esses dados de fato confirmam como essa chaga está entranhada na nossa coletividade, de norte a sul do país, como deixa claro o quadro abaixo:
A própria Organização das Nações Unidas (ONU) reforçou, na última terça-feira, que a morte de João Alberto é um exemplo do racismo estrutural do Brasil. A entidade também pediu uma investigação independente e reformas urgentes. Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, disse à imprensa em Genebra (Suíça) que a morte foi “um exemplo extremo, mas infelizmente muito comum, da violência sofrida pelos negros no Brasil”.
– Oferece uma clara ilustração da persistente discriminação estrutural e do racismo enfrentados pelas pessoas de ascendência africana – afirmou, destacando que os funcionários do governo têm a responsabilidade de reconhecer o problema do racismo persistente para conseguir resolvê-lo.
Para aprofundar o debate e buscando conscientizar a população, GZH ouviu ativistas, advogados, professores e pesquisadores da questão racial no Brasil para entender: o que é o racismo estrutural? Como podemos identificar esse problema em situações do cotidiano? E como contribuir para a necessária luta antirracista?
Confira, nos links abaixo, algumas dessas considerações:
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