A exportação puxou a produção de veículos e compensou a estabilidade da venda no mercado doméstico. O setor automotivo acompanhou as incertezas da economia brasileira, comprometida pelo crescimento da inflação, aumento dos juros, dificuldades do crédito e turbulências de um ano eleitoral. A falta de componentes forçou a parada de diversas montadoras e 250 mil carros deixaram de ser produzidos.
O resultado positivo da produção e exportação foi comemorado pelo presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio de Lima Leite.
— Depois de um primeiro quadrimestre muito difícil em função da falta de semicondutores, o setor acelerou o ritmo e conseguiu atender parte da demanda reprimida nos mercados — destacou.
O crescimento da produção no ano passado de 5,4% sobre 2021 ficou acima dos 4% previstos pela entidade dos fabricantes.
A sensível redução nas paralisações de fábricas, no segundo semestre, com a melhora parcial no fluxo de componentes eletrônicos facilitou o resultado.
A produção de 2.369.659 automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus cresceu 5,4% na comparação com 2021. Os automóveis e comerciais leves cresceram 5.1% com 2.176.179 unidades. Caminhões cresceram 1,9% com 1.61.816 unidades. O melhor resultado foi do segmento de ônibus com 31.664 unidades e salto de 67,7%.
A questão do crédito é o tema mais urgente a ser atacado.
MÁRCIO DE LIMA LEITE
Presidente da Anfavea
A venda de 2.104.461 veículos caiu 0,7% na comparação com 2020.
A queda de automóveis e comerciais leves foi de 0,8% com 1.960.462 emplacamentos e de 1,6% em caminhões com 126.642 registros.
O melhor desempenho foi novamente do segmento de ônibus, com 17.357 unidades, mais 23,4%.
Exportação
O crescimento da exportação de veículos para México, Colômbia, Chile e Uruguai compensou as dificuldades da economia da Argentina. O melhor resultado de 2022 foi do mercado externo. Foram embarcados 480.947 unidades com o salto de 27,8% sobre 2021 que já havia crescido 16% sobre o ano anterior. Apesar do bom desempenho, o resultado ainda está longe dos 629 mil veículos de 2018.
A Argentina recebeu 139 mil veículos, o que corresponde a 29% dos embarques. Para o México foram 86 mil unidades ou 18% da venda externa. Seguiram Colômbia, com 77 mil e 16%, Chile, com 57 mil e 12%, e Uruguai, com 3,4 mil e 7%.
O embarque de automóveis e comerciais leves saltou 28,9% com 450.279 unidades, já caminhões cresceu 12,1% com 25.455 unidades e ônibus 23,1% com 5.123 unidades.
Em valores, a exportação chegou a US$ 10,44 bilhões, mais 37,6%, e se aproximou dos US$ 11,1 bilhões de 2018. Além do volume, o desempenho foi puxado pelo embarque de utilitários esportivos, caminhões e ônibus com maior valor agregado.
O estoque de 187,9 mil unidades, das quais 128,2 mil nos concessionários e 51,7 mil nas montadoras, correspondeu a 27 dias, sendo 17 mil nas lojas e 10 mil nos pateos das fabricadas.
Previsão 2023
A Anfavea trabalha com a expectativa de aumento de 2,2% na produção de autoveículos com 2,42 milhões de unidades. Considerando automóveis e comerciais leves, a previsão é 2,04 milhões de unidades, mais 4,1%. Já para caminhões e ônibus, a queda de 20,4% será impactada pela mudança da regra de emissões para o Proconve P8, que deve provocar um inevitável reajuste de preços.
Para automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, a Anfavea projeta a venda de 2,17 milhões, mais 3%. Os automóveis e comerciais leves deverão puxar o desempenho com alta de 4,1%, ante queda de 11,1% dos veículos pesados.
A exportação deverá cair cerca de 2,9% ainda puxada pela Argentina. A Anfavea estima exportação total de 467 mil unidades.
Para o presidente da Anfavea, o Brasil tem uma série de lições de casa a serem feitas para que o mercado deixe de andar de lado como nos últimos anos. Ele defende a tentativa de medidas que possam amenizar o impacto dos juros que compromete a venda. Explicou que 70% dos veículos são comprados à vista.
— A questão do crédito é o tema mais urgente a ser atacado. Precisamos de juros mais baixos para atrair mais compradores para os veículos novos, sobretudo os modelos de entrada — destacou.
Ele também apontou temas como a reindustrialização e a descarbonização, que impõem desafios e oportunidades. Prometeu que a entidade continuará mantendo o diálogo com os novos governantes em nível federal e estadual, além dos parlamentares, de forma a contribuir para o fortalecimento da nossa indústria ante uma conjuntura global cada vez mais competitiva.