Correção: a perda gradual de massa muscular é chamada de sarcopenia, e não de osteopatia como publicado entre 16h46min de 27 de julho e 11h05min de 1º de agosto. O texto já foi corrigido.
Às 8h de uma manhã recente, de frio e chuva, a aula de ginástica localizada do educador físico André Luiz Costa, na ACM Esportes Centro, em Porto Alegre, tinha uma única aluna. Era o dia típico em que todo mundo costuma desistir da academia sem esforço para inventar desculpas, mas Marlene Ribeiro Camacho, 85 anos, estava lá. Como vem fazendo há 52 anos.
A idosa cultiva a prática de atividade física regular desde 1971, no mesmo lugar. Integra o acervo de móveis e utensílios, ouve-se nos corredores. Lado a lado com colegas na faixa dos 20 e 30 anos, executa exercícios com halteres, caneleiras, elásticos e bola para trabalhar a resistência muscular localizada. Aprecia também os passos de dança, o alongamento e o relaxamento propostos pelo professor. Sente-se renovada toda segunda, quarta e sexta.
— Eu adoro. Adoro. Não olho frio, não olho chuva, não olho nada — comenta Marlene, que sai da cama às 5h45min.
A dedicação da veterana da turma encanta o professor.
— Ela tem uma vitalidade surpreendente. A disciplina dela me espanta. Ela deixa para trás algumas meninas — observa Costa.
Disciplina e persistência são fundamentais na tarefa de afastar o sedentarismo em qualquer faixa etária, mas o avançar da idade pode colocar obstáculos adicionais no caminho. Marlene contabiliza inúmeros benefícios graças a sua determinação. A pressão arterial e a glicose são excelentes, não sente dores, mantém sempre o mesmo peso, não adoece. Toma medicação para o colesterol por uma decisão do médico, que considerou o histórico familiar e a idade avançada. São desses resultados que retira motivação.
— A ginástica só me ajuda. Me disseram que estou livre até do Alzheimer — diz Marlene, que deixa de comparecer apenas quando viaja.
Uma vez por ano, ela realiza um check-up.
— O que você veio fazer? — pergunta o médico, conhecedor do ótimo estado geral da paciente.
— Matar a saudade do senhor — ela responde.
Todos os cuidados com a saúde têm justificativa para a entusiasmada praticante de ginástica:
— Eu me amo. Quero viver. Quero chegar ao centenário com saúde.
Importância da musculação
Médico cardiologista, Rodrigo Bodanese, do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), confirma a efetividade de uma rotina ativa para uma série de fatores de risco para doenças cardiovasculares, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC), as principais causas de morte da população. O especialista salienta a importância da musculação, especialmente na terceira idade.
— Cada vez mais, temos evidência de que o treinamento resistido para idosos ajuda muito na qualidade musculoesquelética, na qualidade do osso, na qualidade do músculo, evitando sarcopenia (perda gradual de massa muscular) e osteoporose (perda progressiva de massa óssea). É muito importante para o equilíbrio, melhora a flexibilidade. Há benefícios para a saúde mental, para a prevenção de demência — enumera Bodanese.
Fortalecer músculos e ossos é uma iniciativa fundamental para prevenir uma das maiores ameaças à velhice: quedas. Fraturar o fêmur, aponta o cardiologista, é um marco, fatalmente mudando a vida da pessoa (podendo levar inclusive à morte no período subsequente à cirurgia).
O médico saúda exemplos como o de Marlene Ribeiro Camacho. No caso da idosa que frequenta a ACM, os benefícios vêm sendo desfrutados desde o início da idade adulta, mas nunca é tarde para se organizar e começar.
— Sempre teremos benefícios com a atividade física regular, independentemente da idade — assegura Bodanese.
Benefícios da atividade física regular
- Controle do peso
- Controle da glicose, da pressão arterial e do colesterol
- Melhora da ansiedade e da depressão
- Benefício para as funções cognitivas
- Redução do risco de eventos cardiovasculares (infarto e AVC)
- Prevenção de sarcopenia (perda de massa muscular) e osteoporose (perda de massa óssea)
- Melhora do sono
- Diminuição do risco de quedas e fraturas