Uma série de condições lotam as emergências de clínicas e hospitais no inverno. Entre elas, pacientes com sintomas de infarto agudo do miocárdio (IAM) ou acidente vascular cerebral (AVC). Segundo os especialistas, o frio aumenta a incidência de casos de IAM e AVC. Durante os meses tradicionalmente frios, é necessário dobrar os cuidados com a saúde.
De acordo com o Instituto Nacional de Cardiologia, as ocorrências de infarto e AVC podem aumentar em até 30% durante o inverno, especialmente em temperaturas abaixo de 14°C. Uma das possíveis causas é a vasoconstrição. Na tentativa de manter o corpo aquecido, os vasos sanguíneos se contraem e, consequentemente, dificultam a passagem do sangue.
— É um desequilíbrio na demanda e oferta. O metabolismo aumenta e o corpo trabalha mais para manter a temperatura corporal. O coração também trabalha mais e, ao invés das artérias ficarem mais dilatadas para ajudar, elas ficam contraídas — explica Rodrigo Bodanese, cardiologista do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Os sintomas são os mesmos já conhecidos: dor ou desconforto na região peitoral, que irradia para as costas e o braço esquerdo, fraqueza, dor de cabeça muito intensa, paralisia, falta de ar, perda de fala ou visão. De acordo com Bodanese, o risco aumenta ainda mais para pacientes do grupo de risco.
— A faixa etária mais acometida é dos 60 a 65 anos. Hipertensos, pacientes que já tem cardiopatia, doença cardíaca isquêmica ou que já tiveram um AVC também são de maior risco — pontua. Ele afirma, ainda, que a vasoconstrição também pode aumentar a pressão de pacientes hipertensos. Segundo ele, é comum o aumento de consultas por episódios de crises hipertensivas.
Dados mostram que o inverno aumenta incidência de infarto e AVC
Para Daniel Souto Silveira, cardiologista do Hospital Mãe de Deus, o aumento de eventos cardiovasculares durante as épocas mais frias do ano é perceptível. Cerca de 48 pacientes deram entrada no Hospital Mãe de Deus com sintomas de AVC entre julho e agosto de 2022. Já entre novembro e dezembro, meses de calor, o número baixa para 24. Destes números, 10 casos confirmados no inverno, e, no verão, seis.
Os dados de infarto agudo do miocárdio também apresentam essa alteração. De julho a agosto de 2022, foram 57 entradas e 25 casos confirmados da doença. Entre novembro e dezembro do ano passado, segundo dados do Hospital, foram 48 entradas e 15 casos confirmados. Silveira pontua que o frio pode ser um fator de risco, mas que o calor não é um fator protetor.
— Ou seja, sair de Porto Alegre para morar em Recife, no Pernambuco, não vai diminuir as chances dos casos de infarto e AVC — brinca.
Como se prevenir e quando buscar ajuda
Outra teoria que pode explicar a maior incidência de infartos no frio, segundo os especialistas, é que, no inverno, as pessoas costumam ingerir mais calorias e fazer menos atividades físicas. A obesidade e o sedentarismo são fatores de risco para o desenvolvimento e agravamento de doenças cardiovasculares.
— Para se proteger, é importante estar sempre bem agasalhado e evitar choques térmicos. As pessoas devem, na medida do possível, continuar tendo uma dieta balanceada e uma rotina regular de exercícios físicos. É essencial fazer o aquecimento antes da prática de atividades físicas — enfatiza Bodanese.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que doenças cardiovasculares são a maior causa de mortes no mundo, sendo o AVC e o infarto as mais comuns. No Brasil, o Ministério da Saúde estima que ao menos 400 mil pessoas morrem por ano em decorrência dessas condições. A preocupação, portanto, não é baixa, conforme sinaliza o cardiologista do Hospital Mãe de Deus.
— Na vida de cardiologista, o que mais falamos é que tempo é vida. O paciente precisa reconhecer quando está tendo um evento cardíaco e procurar ajuda. Começou a ter dor no peito ou algum dos outros sintomas, vá ao médico. O paciente com infarto ou AVC tem que ser atendido rápido, assim a chance de morrer diminui — ressalta Silveira.
*Produção: Yasmim Girardi