Se existe entre os colorados uma cobrança intensa pela volta dos títulos, pelo longo período de mais de 40 anos desde a última conquista de Brasileirão ou simplesmente por uma solidez política no clube, isso se deve à grandeza da instituição, nos gramados ou fora deles. Há 45 anos, isso foi materializado, e o Inter tem o direito de comemorar ou se inspirar num dos maiores feitos da história do esporte gaúcho. Foi num 14 de dezembro, lá em 1975, que o clube se tornou campeão brasileiro pela primeira vez, abrindo o Brasil para o futebol do Rio Grande do Sul.
O título conquistado com o "gol iluminado" de Figueroa diante do Cruzeiro coroava mais do que uma campanha vitoriosa. O melhor time da história do clube cumpria sua missão de abrir novos horizontes, algo que se desenhava desde a inauguração do Beira-Rio seis anos antes.
A formação da grande equipe e a busca dos resultados vale como receita até os dias de hoje, especialmente diante da situação turbulenta que os colorados enfrentam na política e no futebol. Há quase 50 anos, havia também forças políticas divergentes, houve eleições acirradas e mesmo a campanha daquele timaço passou por momentos de crise.
O que não faltou foi liderança. Na política, a dupla Eraldo Herrmann e Frederico Arnaldo Balvé era enérgica, mesmo que algumas histórias da época tenham entrado para o folclore do futebol, como o pedido de demissão do técnico Rubens Minelli, que foi ridicularizado pelo vice-presidente de futebol.
No banco, o "demissionário" Minelli tinha coragem para se impor com autoridade, mas sem autoritarismo, diante de um elenco recheado de atletas, consagrados ou não, de temperamentos fortíssimos. Estes jogadores, por sua vez, não formavam necessariamente uma família nas suas vidas particulares, mas funcionavam como orquestra afinadíssima dentro de campo.
O fato de uma decisão de Brasileirão não ter nenhum clube do eixo Rio-São Paulo foi outro ingrediente histórico daquela final. O gol de Figueroa premiou um dos maiores líderes de time que o futebol brasileiro já conheceu e que dividia esta liderança no grupo com figuras como Cláudio Duarte, Paulo César Carpegiani ou com o jovem Paulo Roberto Falcão. O vestiário era pesado em qualidade técnica e personalidade.
O jogo obrigatoriamente teria outros heróis, além do zagueiro chileno e capitão do time. O goleiro Manga jogou desde o primeiro tempo com um problema muscular e proibiu o treinador de substitui-lo. A lesão só valorizou defesas incríveis que o fizeram vencedor no duelo contra o cruzeirense Nelinho, exímio cobrador de faltas.
Nas laterais, os suplentes Valdir e Chico Fraga se mostraram valentes e eficientes na substituição dos titulares lesionados Cláudio Duarte e Vacaria. No ataque, Valdomiro, um dos mais efetivos e vitoriosos atletas da história colorada, não só cavou a falta que deu origem ao gol como a cobrou com maestria na cabeça de Figueroa.
Lembrar estes fatos e seus personagens, exatos 45 anos depois, precisa funcionar como algo provocador para os colorados. Dentro de campo, no vestiário, nos gabinetes e na arquibancada, ainda que virtual, é necessário se fazer diagnósticos imediatos. O Inter de hoje já carrega uma estrela de campeão do mundo, mas, para algumas coisas, está muito menor do que aquele que ganhou o Brasil em 1975. Este dia merece comemoração e reflexão.