Jorge Sampaoli desde o ano passado é o treinador argentino mais badalado no Brasil. É justo. Seu trabalho no Santos foi de alto nível, superando outros compatriotas seus que estiveram anteriormente em grandes clubes brasileiros com resultados mais modestos como Daniel Passarella, Ricardo Gareca ou Edgardo Bauza. Em 2020, porém, um amigo e discípulo do atual técnico do Atlético-MG chegou e começa a fazer sucesso nacionalmente com seu trabalho: Eduardo Coudet.
Não se trata de comparar os dois treinadores. Ambos têm de semelhante a obsessão pela intensidade, uma vocação ofensiva, a inquietude e o costume de não atenderem a televisão antes das partidas. O currículo de Sampaoli é extenso, com conquista de uma Copa América, comando da Argentina em uma Copa do Mundo e uma forte concepção de futebol que já o consagrou em clubes. Perto daquele que considera como mestre, Coudet tem um caminho ainda longo a trilhar, mas já deu muito bem os primeiros passos na Argentina e segue enfrentando bem os desafios no Brasil. O encontro dos dois no Brasileirão é bom para ambos e valoriza a competição.
Há, porém, uma vantagem do técnico colorado em relação ao atleticano. Coudet chama menos para si as atenções. Seu temperamento, embora agitado, não se compara ao do treinador do Galo, bem mais espalhafatoso. Sampaoli tem, também fora de campo, a intensidade que cobra de seus atletas. Ele não mede consequências ao exigir contratações caras de seus dirigentes ou de ameaçar deixar o cargo se não for atendido. Não consta também que tenha a proximidade de seus comandados apresentada por aquele que pelos jogadores do Inter é chamado pelo apelido Chacho.
Nas entrevistas coletivas, o atleticano invariavelmente se mostra mais reticente aos repórteres, algo que o comandante colorado não demonstra, mesmo que possam parecer estranhas suas interrupções durante questionamentos. Quem observa de longe fica com a impressão de que Sampaoli está pronto para uma acalorada discussão após ser entrevistado, enquanto Coudet apreciaria uma boa conversa para discutir futebol e pontos de vista divergentes.
Se os resultados de campo podem estabelecer uma comparação entre os treinadores, a postura de Coudet se mostra mais simpática do que a de Sampaoli. O técnico do Inter nitidamente compreendeu que, num outro país, precisa se afirmar no clube, dominar com simpatia o ambiente e conquistar a confiança e afeição dos torcedores. No Galo, como já acontecera no Santos, o comandante argentino chegou se colocando acima de tudo e de todos, algo que só se sustenta com títulos. Quando se enfrentaram no Brasileirão, deu Coudet: 1 a 0.