Concordo integralmente com a ideia de que ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina, o mais novo mantra bolsonarista. É louvável essa cruzada cívica pela liberdade individual e contra o poder opressor do Estado.
Palmas. Palmas para o presidente. Só que, em nome da coerência, falta um complemento essencial nessa ideia para que ela faça sentido com o seu real propósito. "Ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina... desde que esse ninguém não use o SUS se ficar doente, seja exemplarmente condenado se transmitir uma doença evitável a outras pessoas e pague pelos prejuízos que causar quando cair de cama, inclusive aos familiares que terão de bancar a conta".
Aí sim vou acreditar na honestidade intelectual dessa proposta libertária. Enquanto isso, tudo não passa de conversa fiada e de um jeito torto de ver o mundo, como se o indivíduo fosse uma ilha, isolado, autossuficiente, egocentrado e desobrigado de qualquer responsabilidade na relação com seu ambiente.
Um cidadão íntegro e realmente preocupado com a liberdade – no seu sentido abrangente, humano e ético – jamais precisaria ser obrigado a se vacinar contra uma doença que pudesse machucá-lo e fazer mal aos outros. Ele acordaria cedo para ser o primeiro da fila. Logo, apesar da minha ironia inicial, por qualquer lado que se olhe, essa conversa não faz o menor sentido.