O país dos dedos em riste se volta agora para o vazamento de mensagens entre o então juiz Sergio Moro e o procurador da Lava-Jato Deltan Dallagnol. De um lado, os defensores do agora ministro alegam que a divulgação é ilegal. De outro, seus detratores se fixam na gravidade do conteúdo, que mostra um juiz e um promotor ultrapassando a fronteira ética e legal que deveria separá-los.
Todos têm razão.
A exemplo do que ocorreu na divulgação das mensagens entre Dilma “Bessias” Rousseff e Lula, é fácil organizar os argumentos. A gravação não poderia ter sido divulgada e é fundamental investigar e punir quem a repassou à imprensa – que tem o direito e o dever de publicar. Mas uma vez divulgado, o conteúdo não pode ser desprezado.
O Ministério Público, na imensa maioria das vezes, é parte nos processos. Nessa condição e em nome da liberdade e da democracia, deve ter tratamento exatamente igual ao da outra parte envolvida, mesmo que seja ela o pior dos bandidos. É para isso que existem os juízes: para ouvir os dois lados e, com base na lei, decidir. Quando esses papeis se misturam, não importa com qual fim, a sociedade corre perigo porque, uma vez aberto, o precedente vira regra.
Repito a frase que escrevi antes mesmo de Sergio Moro tomar posse: “ovelha não é para mato”. Enquanto era juiz, estava protegido, no seu habitat e sem predadores. Agora, na planície da política, virou presa daqueles que ajudou a botar na cadeia.