Nos últimos anos, várias foram as boias de salvação do Brasil. Na década de 90, era a CPMF. O imposto sobre movimentações financeiras iria resolver, para sempre, os problemas da saúde no Brasil. Até que a arrecadação foi desviada para o caixa único e a promessa entrou em óbito.
Mais recentemente, era a reforma trabalhista. Milhões de empregos seriam gerados e os investimentos se multiplicariam. Não rolou. E foram outras dezenas de fórmulas, projetos e alquimias que iriam curar para sempre os males do Brasil.
Com o tempo, me dei conta de que essa é uma estratégia usada por governos para impor seus interesses, nem sempre coincidentes com a real agenda do Brasil. Inventam um remédio milagroso em um país doente. E como a água já bate no pescoço garantem, em tom de ameaça, que ela vai subir se aquele projeto fundamental, indispensável, antipático mas necessário, inadiável e decisivo não for aprovado.
A vida nem sempre é oito ou oitenta. Quase nunca é. A reforma trabalhista foi importante, a CMPF foi uma boa ideia e a reforma da Previdência é relevante para o Brasil. Mas, como sempre acontece, não vai operar milagres. Essa terceirização da cura é uma armadilha na qual reincidimos, uma máquina de gerar decepções que fazem mal à democracia e às instituições.
Devemos reformar nosso sistema de aposentadorias porque ele precisa ser adaptado a uma realidade que combina má gestão e aumento da expectativa de vida. Se a Previdência for aprovada, há outras etapas a serem cumpridas. Um país não se constrói com soluções grandiosas e mágicas. São os pequenos gestos e a contribuição de cada um, na sua vida diária, que fazem a diferença. Mais fácil é esperar pelo próximo abracadabra.
Nesse contexto, o fato de o presidente Bolsonaro dedicar seu tempo a outros temas é, pelo menos, uma rasgo de honestidade. A reforma da Previdência não vai resolver todos os nossos males e não deve ser pauta exclusiva do debate nacional. Há outros temas e projetos que precisam ser enfrentados pelo governo e pela sociedade. Pena que Bolsonaro tenha escolhido cadeiras de criança e armas. Mas aí seria demais esperar que, tratando-se de quem se trata, fosse diferente.