Quando o futebol brasileiro encantou o mundo, lá pela metade do século passado, nossa seleção encarnava uma mensagem poderosa: um país pobre e uma equipe com brancos e negros, jogando juntos, pode ser tão boa ou melhor que os ricos planteis da Europa. Por isso nos tornamos venerados mundo afora, do moleque no Haiti ao imigrante árabe na França. Tínhamos talento, alegria e representávamos uma luz de pluralidade em um mundo que tentava superar as barbáries da Segunda Guerra Mundial.
Passadas quase sete décadas, perdemos nosso encanto. Jogadores como Neymar saem imberbes do Brasil para defender os clubes da Europa. Por conta disso, a seleção desfez seu vínculo com a torcida. Não unifica mais a favela e o bairro chique em torno da bola. Mas pode sim voltar a fazê-lo, se recuperar o bom senso da sua gestão. Cada vez mais, as marcas sem legitimidade e propósito não terão espaço nesse mundo de consumidores conscientes.
Domingo, a seleção vai jogar em Porto Alegre. No Brasil e no mundo, milhões ainda torcem por ela. Não pelo que ela é, mas pelo que foi. Identifico um certo preconceito nas críticas aos nossos jogadores que enriquecem cedo. Ostentam roupas de grife e carrões. Vibro por eles, já que muitos só encontram essa porta para sair da miséria. Meu ponto é outro. Ficamos parecidos demais com os europeus, no jeito de jogar, de dar entrevistas e de pensar futebol. Mas só chegamos onde chegamos por ser diferentes deles. E é essa diferença que podemos – e precisamos – resgatar.
Domingo, vou a Beira-Rio torcer. Pelo drible, pela irreverência, pelos abraços na hora do gol. Ganhar é bom, mas tão ou mais importante é a forma como se vence.