Já em clima de apagar das luzes, o governo Sartori, assim como quase sempre acontece, precisará de tempo para ser avaliado. Mas existe uma área que, mesmo antes do distanciamento necessário, merece uma análise. Reconhecer alguns acertos da gestão de Cezar Schirmer na Segurança é diferente de dizer que vivemos em um Estado sem violência. Os índices de criminalidade seguem nas alturas e ainda fala muito para que possamos sair às ruas sem medo. Mas Schirmer conseguiu avanços que, embora insuficientes na solução do todo, merecem registro.
Mesmo antes de assumir, o ex-prefeito de Santa Maria foi bombardeado. Compreensível, tratando-se do gestor da cidade onde aconteceu o incêndio da Kiss, uma das mais tristes páginas da História recente do Brasil. Político tarimbado, Schirmer soube resistir. Com o apoio do governador, estabeleceu relações de confiança com a Brigada Militar e com a Polícia Civil, que trabalharam integradas e sem conflitos públicos.
Outro ponto positivo da gestão Schirmer foi a desvinculação dos Bombeiros, que antes estavam subordinados à Brigada e agora têm autonomia operacional e de gestão.
Reposição de viaturas, nomeações e concursos devolveram um pouco da sensação de segurança, especialmente para Porto Alegre, onde, mesmo que esporadicamente, voltou-se a ver policiais pelas ruas, mesmo que o contingente ainda esteja muito abaixo do mínimo recomendável.
Reconhecer alguns acertos não significa fazer de conta que não há problemas. Há, e são muitos. O maior continua sendo a falta de vagas e de condições mínimas nos presídios, o calcanhar de Aquiles dessa e de outras gestões.
Mas se existe um legado da gestão Schirmer que pode significar um avanço concreto, é a Lei de Incentivo à Segurança, uma proposta do Instituto Floresta que patinou nas entranhas do governo até receber apoio e aprovação do Piratini e da Assembleia. Se efetivamente implementado, o mecanismo possibilitará que empresas e cidadãos invistam diretamente em projetos de segurança, dando mais agilidade e volume nos aportes para compras de viaturas, equipamentos e treinamento.
Se compararmos expectativa e resultado, Cezar Schirmer encerra a sua gestão melhor do que começou. Se não resolveu todos os problemas, pelo menos não ajudou a criar outros. Vale lembrar a desastrada demolição de um pavilhão do Presídio Central, no final do governo passado.
Não há milagres na segurança pública, uma área que requer investimentos pesados e inteligência de gestão. Em um Estado quebrado, o secretário não adotou o discurso fatalista, nunca se furtou a prestar esclarecimentos públicos e soube absorver as críticas. Na Segurança, chegamos ao ponto em que não piorar é melhorar. Assim como reconhecer que nem tudo deu errado é um elogio.