À primeira vista, Robô Selvagem (The Wild Robot, 2024), lançado nos cinemas nesta quinta-feira (10), pode causar uma sensação de déjà vu nos pais: outro longa-metragem de animação estrelada por um robô que precisa lidar com questões bem humanas, com sentimentos como amor, luto e empatia, com dificuldades de comunicação e com a preservação da Terra, a exemplo de O Gigante de Ferro (1999), Robôs (2005), Wall-E (2008), Operação Big Hero (2014) e Meu Amigo Robô (2023). Independentemente da existência de pontos semelhantes, este é o filme perfeito para ver com os filhos neste fim de semana de Dia das Crianças.
Trata-se da adaptação de um sucesso da literatura infantil, publicado em 2016 pelo escritor e ilustrador estadunidense Peter Brown. É o 49º filme animado da DreamWorks, estúdio que começou com Formiguinhaz (1998), pertence à Universal e tem no currículo as franquias Shrek/Gato de Botas, Madagascar, Kung Fu Panda, Como Treinar seu Dragão e Trolls. Quem dirige é Chris Sanders, que concorreu ao Oscar por Lilo & Stitch (2002, com Dean DeBlois), Como Treinar seu Dragão (2010, em mais uma parceria com DeBlois) e Os Croods (2013, com Kirk DeMicco). Segundo os críticos dos EUA, a quarta indicação de Sanders já está garantida, e Robô Selvagem desponta como favorito ao prêmio da Academia de Hollywood, à frente de Divertida Mente 2, da multicampeã Pixar, do australiano em stop-motion Memoir of a Snail e de Flow, produção sem diálogos que a Letônia selecionou para a categoria internacional.
Robô Selvagem equilibra aventura, comédia e drama, com pitadas de terror. A receita inclui crítica social, mensagem ecológica e doses generosas de emoção — realçada pela ótima música composta por Kris Bowers —, mas sem descambar para a pieguice. É também um filme extremamente bonito, para o qual as técnicas de animação digital foram aprimoradas para que as cenas pareçam pintadas _ vale destacar os enquadramentos, não raro inusuais.
Com a voz de Lupita Nyong'o no original e a de Elina de Souza na versão dublada, a protagonista é a unidade 7134 dos robôs multifuncionais ROZZUM, única salva do naufrágio de um navio de carga da empresa Universal Dynamics na costa de uma ilha desabitada por humanos. Essa sobrevivente é acidentalmente ativada pelos animais locais, com quem tenta se comunicar, mas acaba gerando confusões cômicas ou mesmo situações de perigo. Gradativamente, Roz, como ela é apelidada, passa a interagir com personagens como Astuto (Pedro Pascal/Rodrigo Lombardi), uma raposa, Bico-Vivo (Kit Connor/Gabriel Leone), um filhote de ganso órfão, uma gambá mãe e um bravo urso pardo.
O cenário hostil e os desafios do enredo permitem a Robô Selvagem ser uma fábula encantadora, tanto no campo emocional quanto no sociopolítico. Por um lado, o filme acompanha a criação de vínculos afetivos, a formação de uma família não convencional, uma história de amor, sacrifício e gratidão. Por outro, mostra como a tecnologia pode e deve conviver harmoniosamente com a natureza, ensina que a gentileza é uma habilidade de sobrevivência e lembra o quanto somos dependentes uns dos outros, a despeito de diferenças — na vida em sociedade, cooperação é fundamental.
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