Dica para os fãs de terror: participar do curso Monstros no Armário: O Cinema de Horror e a Teoria Queer, que será ministrado pelo crítico, professor e pesquisador Conrado Oliveira nos dias 19 e 20 de outubro. As aulas serão na Cinemateca Capitólio, em Porto Alegre, das 14h30min às 17h30min, em uma realização da produtora Cine Um (inscrições em cinemacineum.blogspot.com).
Mestre em Arte, Cultura e Comunicação pela Universidade do Minho, em Portugal, e membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS), Conrado vai refletir sobre as representações da sexualidade nos títulos de horror. Costumeiramente, o gênero serve como um espelho distorcido das questões sociais, políticas e culturais de seu tempo. "Dentro desse contexto", diz o material de apresentação do curso, "a teoria queer oferece uma lente fascinante para interpretar filmes icônicos nos quais a diversidade sexual é uma temática velada, porém poderosa. Obras clássicas como Drácula (1931) e Frankenstein (1931) e os cults A Hora do Pesadelo (1984) e Hellraiser (1987) exemplificam essa dinâmica, utilizando o vilão como uma metáfora para expor a condição 'monstruosa' da sexualidade que escapa da heteronormatividade em nossa sociedade". Na década de 1980, marcada pela crise da aids, "discursos equivocados retratavam o homossexual como um predador contagioso, alimentando medos irracionais".
Segundo Conrado, embora alguns cineastas não tenham necessariamente a intenção explícita de abordar questões de gênero e sexualidade em seus filmes, "a teoria queer oferece uma estrutura analítica poderosa para interpretar estas obras sob uma nova luz. Ela permite que percebamos como certos elementos narrativos e simbólicos podem ser lidos como representações veladas de identidades queer e suas lutas dentro de uma cultura dominante e, infelizmente, ainda muitas vezes hostil". Daí o nome do curso, que brinca com a expressão usada no âmbito da comunidade LGBTQIA+ em relação à orientação sexual ou à identidade de gênero. Em entrevista publicada em 2023 pelo site da CNN, o secretário executivo do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, Reinaldo Bugarelli explicou: "A primeira saída do armário é para você mesmo. A segunda saída é para aquelas pessoas que você acha importante, e a terceira saída do armário é quando você torna isso público".
A primeira aula do curso Monstros no Armário vai observar a evolução dos arquétipos e dos estereótipos, mostrar a aplicação da teoria queer ao cinema e analisar filmes como Frankenstein e A Noiva de Frankenstein (1935), Drácula e A Filha de Drácula (1936), Lobisomem (1941) — que suscita "uma leitura sobre a perspectiva da vivência trans: inconformidade de corpos, disforia, a aceitação como outro e a não-aceitação social" —, Sangue de Pantera (1942), O Monstro da Lagoa Negra (1954), Psicose (1960), Carrie, a Estranha (1976) e Fome de Viver (1983).
O segundo encontro começa com O Exorcista (1973), "a possessão como alegoria de uma identidade sexual reprimida". Ao falar sobre as duas versões de Hellraiser, a de 1987 e a de 2022, Conrado lança luz sobre o desejo por experiências além dos limites normativos, a sexualidade como uma forma de transgressão e liberação. A lista de filmes inclui A Hora do Pesadelo e A Hora do Pesadelo 2: A Vingança de Freddy (1985), trazendo ao debate a relação entre sonhos, medo e identidade sexual.
Tema de casa: 4 filmes do curso Monstros no Armário
A pedido da coluna, o crítico Conrado Oliveira sugeriu que os alunos do curso Monstros no Armário: O Cinema de Horror e a Teoria Queer assistam aos seguintes títulos:
Drácula (1931) e A Filha de Drácula (1936)
"O personagem Drácula, imortalizado como o icônico vampiro sedutor, desafia as regras heteronormativas da sexualidade — esta é ambígua, e ele seduz tanto homens quanto mulheres, o que permite uma leitura de transgressão das fronteiras convencionais de desejo. Drácula é, em essência, um 'estranho' que existe à margem da sociedade, uma metáfora para a condição queer: desejado, temido e marginalizado simultaneamente.
Em A Filha de Drácula, essa leitura se aprofunda, com a personagem central, Condessa Marya Zaleska, expressando claramente o desejo de se libertar de sua 'herança' vampírica, uma maldição que pode ser vista como uma metáfora para a repressão sexual e também da diversidade sexual. As interações da Condessa, especialmente com outras mulheres, revelam a tensão entre desejo e repressão, tornando o filme uma obra que explora o conflito interno de quem tenta se adequar à heteronormatividade, mas é constantemente atraído por desejos 'proibidos'. Nesse sentido, ambas as narrativas ecoam os dilemas vividos por muitos LGBTQIA+ em sociedades repressivas, onde seu desejo é visto como uma maldição ou desvio a ser superado." (Drácula está no Telecine, e A Filha de Drácula, no Looke)
Carrie, a Estranha (1976)
"Carrie é um exemplo clássico de como a teoria queer pode ser aplicada ao horror para explorar questões de identidade, repressão e exclusão. Carrie White, a protagonista, é uma jovem socialmente marginalizada e reprimida sexualmente por sua mãe, extremamente religiosa. O filme de Brian De Palma e o livro de Stephen King, no qual ele se baseia, apresenta a descoberta do poder interior de Carrie - um poder que emerge junto com sua puberdade e sexualidade.
A partir de uma leitura queer, o que Carrie sofre pode ser visto como uma alegoria para a repressão das identidades e desejos queer. O momento em que Carrie finalmente 'explode' ao ser humilhada no baile é um ponto de virada em que sua raiva reprimida, acumulada ao longo dos anos, que se manifesta de forma catastrófica. Essa narrativa de transformação e liberação ressoa com a experiência de muitos LGBTQIA+ que enfrentam opressão e vergonha internalizada — tanto pela sociedade quanto pela religião — até que, em algum momento, encontram uma maneira de expressar sua verdadeira identidade, mesmo que de maneira dolorosa e explosiva." (Amazon Prime Video)
A Hora do Pesadelo 2: A Vingança de Freddy (1985)
"A Vingança de Freddy é um dos filmes de horror mais discutidos sob uma ótica queer, em parte por causa de seu protagonista, Jesse, e pelas metáforas claras sobre repressão e identidade sexual. O filme foi amplamente interpretado como uma alegoria para a repressão da homossexualidade, com Freddy Krueger representando o 'monstro' interior de Jesse, que ele tenta suprimir, mas que acaba assumindo o controle.
Jesse é constantemente mostrado desconfortável em sua própria pele, e sua relação com Freddy pode ser lida como uma metáfora para o medo de sua própria sexualidade. Freddy, uma figura masculina ameaçadora, invade o corpo de Jesse e o força a cometer atos violentos, simbolizando o medo e a confusão interna que muitas pessoas LGBTQIA+ enfrentam ao tentarem reprimir ou esconder sua verdadeira identidade. A luta de Jesse para controlar Freddy reflete a luta interna de quem não consegue se conformar às expectativas normativas de gênero e sexualidade. Além disso, a produção é recheada de cenas e entrelinhas homoeróticas. E o protagonista, Mark Patton, como se viu no documentário Scream, Queen! My Nightmare on Elm Street (2019, indisponível no streaming), sofreu grande pressão como um homossexual 'no armário' durante as filmagens e após o lançamento do filme." (Max)
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